Agora que falamos um pouco do efeito nefasto da forma mística de agir dos espiritualistas, vamos abordar a questão da elevação espiritual através da vivência mística, como vivem os seres humanizados. Para isso vamos começar falando do elemento mais místico da interação dos seres humanizados com o Universo espiritual: a oração.

Oração é um ato que visa ativar uma ligação entre o ser humanizado e algum elemento divino. Ela é sempre feita em louvor a este algo divino e por isso se torna um instrumento de adoração.

Mas, em que se consiste realmente em uma adoração dentro da visão dos espíritos desencarnados? Orar em louvor é elevar o pensamento a Deus (O Livro dos Espíritos, pergunta 649). Elevar o pensamento a Deus, porém, não quer dizer colocar o Senhor como foco do pensamento, mas pensar a partir Dele, como Ele. Quem eleva o seu pensamento a Deus vê as coisas a partir do prisma espiritual e não do material.

Será que é assim que os seres humanizados oram? Acho que não. Sempre que entram em oração estes seres estão sempre focados no mundo material. Mesmo que não peçam nada para si especificamente, estão sempre presos aos anseios materiais, ou seja, esperam sempre ganhar alguma coisa nesta vida. Mesmo aqueles que oram pedindo força, apoio, ainda esperam vivenciar tais coisas nestas vidas e não na próxima.

Portanto, a oração feita pelos humanos começa de forma errada, pois ela não contém a elevação necessária do pensamento a Deus. Mas, mesmo a adoração não estando certa, será que a finalidade da oração dos humanos está?

Cristo ensina: “o Pai já sabe o que vocês precisam antes de pedirem” (Mateus, 6, 8). Será que a oração humana segue este preceito? Acho que este aspecto nem precisa comentar muito, não é mesmo? A oração tornou-se uma ferramenta mística que o ser humanizado usa para tentar conseguir um benefício nesta vida.

Já que nem a essência nem a finalidade da oração estão em acordo com a visão dos espíritos, será que a forma como os humanos oram segue a linha daqueles? Acho que não. “A adoração verdadeira é do coração” ensina o Espírito da Verdade na pergunta 653 de O Livro dos Espíritos.

Orar é uma ação sentimental, é viver o amor a Deus acima de todas as coisas sentimentalmente. Quem ora não se aflige com nada nem se regozija de nada, porque acima de qualquer coisa que possa causar aflição ou regozijo ele está unido pelo amor plácido com o Pai. Esta postura os seres humanizados, mesmo aqueles que afirmam que sabem que é algo mais do que a própria matéria, não tomam.

Suas orações concentram-se em palavras sem a menor atenção ao coração. Por causa disso, elas sempre acontecem quando há ou uma aflição ou o regozijo por causa de algum acontecimento do mundo carnal. Por isso suas orações nem de longe estão em acordo com aquelas que os seres desencarnados fazem.

Está difícil achar uma concordância entre a oração dos espíritos e dos seres humanizados que possa dar a destes últimos algum caráter espiritual e não místico, não é mesmo? Mas, tem mais uma coisa que podemos analisar na questão orar: o lugar preferido para fazer isso.

O que nos ensinou Cristo a respeito do lugar onde se deve orar?

“Quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de orar em pé nas casas de oração e nas esquinas das ruas para serem vistos por todos” (Mateus, 6, 5)

Assim são os humanos: eles gostam de orar nas casas de orações para que todos vejam o que eles estão fazendo. Isso é tão forte que algumas doutrinas orientam inclusive que não se faça atividades espirituais dentro da sua residência, mas procure ‘terrenos santos’ para isso. Acham que assim o ser humanizado estará mais protegido lá dentro.

A crença da proteção surge da ideia de que no local santificado existe a presença de um grupo de espíritos do bem que protegerão e acolherão mais rapidamente as preces dos seres humanizados. Mas, será que estes espíritos estão realmente dentro dos centros e igrejas esperando que os seres humanizados vão até lá?

Sendo espíritos do bem posso afirmar que são seguidores de Cristo. Sendo seguidores do mestre, acho que eles não estarão lá. Durante a sua pregação na Terra, Cristo foi jantar com as prostitutas e os cobradores de impostos, que eram para o povo judeu os representantes do mal. Quando questionado sobre isso ele disse: eu não vim para os santos, mas para os pecadores.

Ora, se na igreja ou no centro juntam-se apenas as pessoas santas, será que Cristo está lá? Não seria mais fácil encontrá-lo entre os pecadores, ou seja, em um bar ou qualquer lugar onde as emoções humanas existam? Pois é, quem acha que o centro ou a igreja tem espíritos mais puros que um bar prova que não conhece os ensinamentos de Cristo.

Se a oração humana não atende a nenhum dos quesitos que os espíritos afirmam precisar existir para ela ser um instrumento de adoração a Deus, o que é ela então? Simplesmente um instrumento do misticismo humano.

Desta forma, portanto, orar não contribui em nada para a elevação de um ser. Pelo contrário: ativa nele toda ação nefasta do misticismo.

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