Participante: passei por muitos empregos e não os encarei como trabalhos. Encarei como relações humanas, vivência e experiências a serem adquiridas para serem usadas em algum momento que não sei onde nem quando. Isto é certo?

Não, o seu patrão lhe paga para trabalhar e não para ter relações humanas. Acho que por isso mesmo passou por muitos …

Quem está empregado tem que primeiramente se concentrar em trabalhar, em produzir para merecer o salário que vai receber e não em aprimorar-se nas relações humanas.

Participante: como funciona a mente vivendo o dia a dia. Pergunto isso porque me vem sempre a mente o que o senhor fala sobre atenção plena e não consigo mantê-la. No entanto, não temos mais a mesma inocência de antes.

Observe não ter a observação. O que é preciso é observar a mente e não mudar a mente.

Participante: considerando que a obrigação de um emprego é jugar a ação dos outros o tempo todo, como conciliar a mente julgando como obrigação o observador não a acreditar nos objetivos?

Para responder, vou contar uma coisa que são as pegadinhas da vida.

Começamos a estudar nos ensinamentos de Buda onde dizia que não se devia ter conceitos que levassem o ser humanizado a julgar os outros. Enquanto fazíamos esse estudo uma pessoa que frequentava o trabalho foi chamada para ser jurada no júri popular. Ela ficou sem saber o que fazer, pois de nós ouvia que não deveria julgar ninguém, mas no dia seguinte seria obrigada a sentar-se em um júri e julgar pessoas.

Ela me perguntou se devia pedir dispensa dessa função. Disse que não. Afirmei que se foi chamada deveria se apresentar e exercer o que era esperado dela.

Isso a intrigava, pois genericamente eu dizia que não se devia julgar, mas no caso particular dela insistia para que fosse julgar. Porque falei assim? Porque, na verdade, nenhum ser humanizado julga, quem faz isso é a mente.

 Ao ser humanizado compete julgar, mas viver o julgamento feito pela mente. A ele, se quer ser feliz, compete observar a mente julgando.

Deve dizer a si mesmo enquanto os pensamentos de julgamento são criados: ‘a mente está dizendo que essa deve ser a forma como julgar aquela pessoa. Louvado seja Deus e que ela julgue, mas eu não compactuo com o que está sendo criado’.

Observar a mente não é criar valores diferentes que lá existem. O que precisa ser feito é a observação desses valores e o eximir-se de compactuar com eles.

Respondendo, então, digo que se o seu emprego é composto pela ação de julgar, deixe a mente fazê-lo e faça o seu verdadeiro trabalho: observar o que é criado pelo pensamento. Não se deixe levar por isso, não acredite que é uma verdade absoluta.

Mesmo imaginando que o seu trabalho é julgar, não acredite nisso. Saiba que esse é o emprego da sua mente, mas que o seu trabalho nessa vida constitui em observar a criação mente e não compactuar com ela.

Vou dar um exemplo para melhor entendermos o que quero dizer. Digamos que seu emprego consiste em entrevistar e escolher pessoas que serão contratadas pela empresa. Deixe a mente analisar os currículos e escolher o que for mais adequado para a empresa. Ela pode fazer isso, porque é a geradora da vida. Já você, que apenas vive a vida que é apresentada, exima-se de compartilhar da opinião dela. Diga apenas: ‘a mente escolheu essa pessoa, mas eu não sei se ela é a melhor ou não’.

O julgamento que faz deve ser feito, porque esse é o seu emprego, é o trabalho material do qual depende para viver. Por isso, é preciso que exista essa ação. Só que não deve se misturar com a ação. Deixe a mente realizar as suas escolhas em paz.

Enquanto ela trabalha, exerça o seu trabalho: observe a mente julgando.

Participante: isso também vale para o caso de fechar um grande contrato, por exemplo? Você está negociando com uma pessoa, vendo várias possibilidades e buscando realizar aquela operação. Neste caso devo também ficar apenas observando?

Fica muito difícil acreditar que deve apenas observar enquanto não cair na realidade, na real.

Por exemplo: você diz que está negociando com uma pessoa. Acredita que essa é a realidade que está vivendo, mas não é. É a mente que negocia e não você. Você está em algum lugar fazendo não sei o que, porque quem está existindo naquele momento é apenas a sua mente.

Por isso estou dizendo que dificilmente compreenderá o que estou dizendo, pois não está na real, na realidade. Por mais que acredite que é você que está negociando, avaliando possibilidades ou realizando operações, quem está fazendo tudo isso é a mente.

Toda ação é praticada pela mente e não por você. A sua ação, no momento que ela está agindo, é observar o que é criado e optar em viver o que ela cria ou não.

Por esse motivo, quando a ação de negociar, buscar possibilidades e realizar operações estiver ocorrendo, deixe a mente negociar em paz. Ao invés de querer se intrometer no que ela negocia, esteja apenas atento para não deixar que qualquer coisa se transforme em verdade, pois se isso acontecer futuramente essa criação será usada para condicionar a sua felicidade.

O que falo em não se intrometer é não ter certeza de que o que a mente está prometendo na negociação é verdadeiro ou não, se a promessa será honrada ou não, se a mercadoria será entregue no dia aprazado ou não. Tenha esta conversa com você e deixe a mente negociar à vontade.

Compartilhar