O que sua filha falou hoje sobre a questão do ensinamento que diz que Deus é Causa Primária de todas as coisas?

Participante: que ela é uma pessoa que tem inteligência, consegue raciocinar e por isso não pode ser uma marionete.

Isso é muito comum. Quando os seres humanizados entram em contato com o ensinamento da pergunta 01 de O Livro dos Espíritos (Deus é Causa Primária de todas as coisas) e descobrem que tudo acontece porque o Pai faz acontecer, naturalmente surge uma afirmação em sua mente: somos marionetes? Eu respondo: sim, são, mas isso não precisa necessariamente se afastar desses ensinamentos.

É preciso compreender alguns aspectos dessa forma de viver para só então julgar se ela é ruim. Por isso, vamos conversar sobre isso hoje.

O universo está sempre equilibrado.

Quando se entra em contato com as ideias espiritualistas se descobre a maior notícia que todos os mestres trouxeram, mas que não foi levada à prática pelos professores da lei das religiões: Deus é a Causa Primária de todas as coisas. Essa é uma notícia que não é nova, pois já existe nos ensinamentos de Cristo, Krishna e do Espírito da Verdade.

Apesar de já ter sido passada à humanidade há muito tempo, ela não foi devidamente explicada. Falo isso porque algumas religiões utilizam este ensinamento, mas consideram Deus como causa primária de algumas coisas, mas de outras não.

Portanto, é necessário que nos aprofundemos nessa questão que os mestres já haviam trazidos. Esse aprofundamento se consiste em compreender que Deus é a Causa Primária de todos os acontecimentos do mundo humano.

Como acontecimento desse mundo, consideramos todas as movimentações das coisas que raciocinam ou não, o pensamento do ser humano, o instinto dos animais, as percepções – audição, olfato, paladar e tato – humanas e tudo mais que exista no mundo humano e no espiritual.

Todas as percepções que o ser humano tem são dadas por Deus. Aliás, toda criação do que é chamada de mente humana – razão, pensamento, consciência, memória – e toda ação dos membros humanos é dirigida, comandada, a partir do faça-se de Deus. Como isso acontece? O Senhor diz faça-se e as coisas se fazem.

Essa é uma realidade que precisamos compreender para poder entender o universo. Ela é fundamental para se aceitar que os seres humanos apenas executam o que Deus gera.

Fica aqui, portanto, de forma clara, a afirmação que os seres humanos são sim marionetes. Só que antes de parar de ouvir o que estou dizendo se essa afirmação traz uma contrariedade, deixe-me dizer uma coisa:  para poder julgar se realmente ser marionete é bom ou mal, deixe-me explicar porque o ser humano é, de quem é fantoche e quem escreve a história que esse boneco encena. Tenho certeza que se você souber essas coisas compreenderá a necessidade de Deus ser Causa Primária e do humano ser apenas uma marionete. Sabendo essas coisas, com certeza compreenderá a necessidade de Deus ser Causa Primária.

Por que o ser humano precisa ser uma marionete?

É muito simples. O ser humano habita um espaço chamado universo. Ele imagina que habita o planeta terra, mas como esse está dentro do universo, habita o próprio universo.

O universo, segundo todos os mestres, foi feito por Deus. Segundo ainda os mestres, esse universo é Deus. Falo isso porque Cristo nos ensinou que Deus é tudo e tudo é Deus.

Portanto, se levarmos em conta o que os mestres falaram, atingimos a consciência que Deus é tudo e tudo é Deus.

Ainda observando o que se conhece sobre Deus que foi ensinado pelos mestres, encontraremos a informação de que Ele é a Perfeição. Deus é Perfeito.

Juntando agora as informações que comentamos, (Deus é tudo e por isso o universo é Ele e que é Perfeito) chegamos à conclusão que o universo está perfeito, está sempre perfeito. Se Deus é o universo e Ele é Perfeito, logo o universo tem que estar perfeito.

A perfeição do universo não ocorre por conta de uma ação que gera equilíbrio. Se isso fosse real, deveria em algum momento ter alcançado um desequilíbrio. Isto não acontece no universo. Por conta da sua Perfeição, é preciso que possua um equilíbrio pleno constante, eterno.

Como o universo consegue esse equilíbrio perfeito eternamente? Através da ação de Deus. Quando Cristo nos ensina que Deus dá a cada um segundo as suas obras está deixando bem claro que o equilíbrio universal, um ter mais ou menos que outro, jamais acontece.

É com essa ação que o Senhor mantém o universo perfeitamente equilibrado. Quando cada um recebe apenas aquilo que merece jamais haverá um desequilíbrio. Portanto, é ação de Deus que mantém o universo plenamente equilibrado pela eternidade.

Agora, imaginemos que o ser humano não fosse marionete, ou seja, agisse voluntariamente, por decisão própria. Será que conseguiria dar a cada um o que realmente é merecido? Acredito que não.

Porque não conseguiria? Porque a motivação do ser humano para agir é sempre individualista, ou seja, age sempre buscando o seu próprio benefício. Mesmo quando se dá ao próximo está preso às suas posses, paixões e desejos: só se dá a quem quer se dar, na hora que se quer. Por isso afirmo que ele está buscando sempre a sua própria satisfação exclusivamente.

Se o ser humano dá ao outro de acordo com seus interesses individuais, isso quer dizer que não dá o que o outro merece, mas apenas o que é o melhor para ele. Agindo assim, certamente o outro receberia o que não merece ou receberia de menos o que merecia. Com isso o equilíbrio pleno do universo seria quebrado.

É por isso que o ser humano precisa ser um fantoche. Se não fosse o universo seria um caos. Cada um agiria em benefício próprio. Agindo pela vontade individual, fazendo aquilo que quer na hora que quiser, o ser humano iria ferir o direito do outro.

Esse seria o caos que existiria se o ser humano fosse o comandante de suas ações. Sempre imperaria o individualismo e o universo seria uma guerra individualista entre cada um tentando ganhar mais que o outro. Mesmo que Deus agisse, se não fosse como como Causa Primária, seria uma ação posterior à quebra da justiça. Com isso, a injustiça aconteceria.

Se o ser humano fosse senhor de suas ações haveria sempre uma injustiça que depois seria corrigida por Deus. Quando agisse contra o próximo dando diferente do que ele merece, o ser humano estaria criando uma injustiça. E sendo Deus e o universo a Justiça perfeita isso afetaria o próprio Senhor.

É por isso que o ser humano não pode agir livremente…

Só esse fato já nos levaria a compreender a necessidade de Deus ser a Causa Primária de tudo que acontece, mas comentamos que existem três coisas que são necessárias que se compreenda para poder aceitar esse ensinamento. Vamos à segunda.

De quem o ser humano é um fantoche? De Deus.

O ser humano é um fantoche de Deus. Mas quem é o Senhor? É a Inteligência Suprema, Justiça Perfeita e Amor Sublime. Sendo assim, o ser humano é um fantoche, um ser dirigido sim, mas não dirigido por qualquer um, mas por uma Inteligência Suprema.

O que isso deveria levar o homem a perceber? Que ele é dirigido pelo ser que possui a maior capacidade de analisar as intenções com que cada ação é realizada.

As intenções com que cada ser vivencia o acontecimento não são dirigidas pelo Pai. Viver com essa ou aquela intenção é o livre arbítrio do espírito. Mas, quais intenções que o ser pode ter? São duas: intenção individualista, o egoísmo, e universalista, amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Como diria Paulo, o homem pode fazer tudo, mas nem tudo que pode fazer é bom para ele. Quando participa da ação gerada por Deus com intenção universalista consegue a Bem-aventurança, a elevação espiritual. Quando tem intenção individualista se prende à materialidade e com isso não realiza o trabalho que veio fazer antes da encarnação.

Voltando à ação, afirmo que se Deus dá a cada um segundo as suas obras a partir de uma análise perfeita da intenção de cada um, o que pode acontecer? Tudo que ocorre está sempre perfeito. Ou seja, por causa da direção do Senhor a ação do ser humano torna-se perfeita, mesmo que exista uma intencionalidade individualista.

Tendo o conhecimento de que a ação primária de Deus faz com que a ação seja perfeita, qualquer que seja a intenção do ser humano, veremos que a direção é necessária. Quando o ser humano age movido pelo Pai, a sua movimentação não fere jamais o equilíbrio do universo, pois Deus gera a ação sem que a injustiça aconteça.

 Então, o ser humano precisa ser fantoche da Justiça Perfeita para não causar injustiça. Mas, não podemos nos esquecer que o Senhor também é o Amor Sublime.

Ele é um pai amoroso, um pai que ama seus filhos. Por isso quando manipula o ser humano não o faz como punição, como um juiz que decreta uma penalidade a um infrator da lei, mas por amor. O que Deus causa é, além de uma ação perfeita, uma prova do amor sublime que dedica aos seus filhos.

O faça-se de Deus que gera as coisas é o ato de um Pai que ama o seu filho acima de tudo. É a ação de alguém que está preocupado com a existência eterna do filho. Ele sabe que hoje esse filho é como uma criança que só pensa em gozar o momento presente, mas não se preocupa em se preparar para o futuro.

Quando Deus comanda primariamente um acontecimento visa preparar o filho para a maturidade espiritual. Usa esse acontecimento como uma oportunidade do filho adquirir responsabilidade espiritual e assim alcançar o progresso no seu próprio mundo.

Isso é a Causa Primária que movimenta o ser humano. Ela é perfeita porque é ditada pela Inteligência Suprema, é justa porque é oriunda da Justiça Suprema e por isso dá a cada um segundo as suas obras, mas é amorosa porque é um ato de amor. Por isso, para aquele que se sente amado por Deus a cada momento de sua existência, a questão de ser ou não marionete some.

Apenas aqueles que não mantêm uma relação amorosa com o Pai sentem-se mal quando se aprende que Deus é a Causa primária de todas as coisas. Isso porque está aprisionado à intenção de ganhar sempre neste mundo. Quem ama a Deus e sente-se amado por Ele entrega-se aos braços do Pai e ao sentir esse amor não precisa de mais nada.

Já vimos porque o ser humano precisa ser uma marionete e também quem o movimenta. Resta-nos agora saber quem escreve a história vivenciada pelo fantoche, quem escreve o enredo da peça.

Quem faz isso são os próprios espíritos que vivem o papel de marionete. O amor de Deus por seus filhos é tão sublime que deu a cada um outro livre arbítrio: o direito de livre optar pelo que viverá durante a encarnação.

O ser recebe esse direito quando não está preso ao mundo material, ou seja, sob a égide da razão humana, quando o individualismo do querer para si mesmo e da vontade de ganhar sempre está presente. Ele recebe esse livre arbítrio quando está fora da carne, quando de posse de toda consciência de ser universal que é.

Nesse momento o Pai deixa o espírito escolher o que considera melhor para o seu futuro. Ao fazer essa escolha, o ser cria para si uma espécie de destino. Deus quando comanda os acontecimentos no mundo carnal através do seu “faça-se” apenas cumpre aquilo que está nesse livro da vida que foi escrito pelo espírito antes da encarnação.

O que o ser humano precisa compreender é que ele é igual a uma criança do mundo carnal. Os pais humanos deixam as crianças escolherem o que querem fazer? Claro que não. Por que? Porque sabem que elas pensam apenas em se distrair, se divertir e não em se preparar para o futuro que chegará.

Mesmo na Terra o pai tem que dar o caminho ao filho, dirigir suas ações, para que ele possa chegar à vida madura preparado para alcançar o sucesso. Só quando o filho chega à maturidade é que o pai o deixa agir livremente. Isso porque é só nesse momento que ele tem a compreensão perfeita dos valores que são importantes para a sua existência. Tendo essa consciência o filho pode, então, fazer suas escolhas individualmente.

A mesma coisa acontece entre Deus e seus filhos. Quando crianças, ou seja, quando no início do processo evolucionário, como é o caso daqueles que encarnam na Terra, o Pai precisa orientá-los, guiá-los, para que se preparem corretamente para o futuro que os aguarda. Se Deus se esquivasse de fazer isso, não seria um Pai amoroso.

Portanto, se choca com o fato de ser marionete nesse mundo quem não entende as coisas do mundo espiritual, aquele que não compreende que não é a carne que veste ou a consciência que o dirige. É aquele que se considera um sábio, mas que não vê que não possui a consciência sobre as coisas do universo, que não consegue perceber tudo que estão seu redor.

Aquele que se choca com a informação de que é um fantoche é quem acredita que foi concebido a partir de uma relação sexual. É aquele que acredita que nasceu de uma mãe humana em um determinado dia e em um determinado local terrestre. É aquele que ainda acredita na morte, que acha que a vida vai se extinguir em determinado momento.

Por causa dessas crenças só pensa no gozo da vida material. Não pensa no gozo da elevação espiritual, da felicidade universal. Como a direção que Deus exerce sobre os acontecimentos não possui a finalidade de dar o gozo dos bens humanos a um ser encarnado, esse se apavora com a ideia de ter sua existência controlada pelo Senhor. Tem medo de perder, de não ganhar.

Quando se raciocina a partir do espírito, ou seja, a partir da vida real, a espiritual, da real existência do espírito na sua totalidade, não parcialmente; esta lógica só nos pode levar à conclusão de que a melhor coisa que pode acontecer a um ser é tornar-se um fantoche quando encarnado. Isso porque o fantoche que age consciente da sua situação de teleguiado, não se chateia, não briga com os outros, não expõe opiniões individuais buscando lucro individual, respeita o próximo e o ama, pois não tem desejos que gerem contrariedades.

Diante de tanto benefício, o ser troca todos os seus desejos, que sabe que só existem para criar uma satisfação material, pelo amor de Deus que recebe diariamente.

O ser que sabe que é universal, vivendo uma vida humana com a consciência de que é um fantoche, penetra no amor de Deus e por isso vive a felicidade eterna.

Com as graças de Deus.

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