Para viver o não-sofrimento é preciso parar de achar que é o outro que nos incomoda, porque ninguém incomoda ninguém: quem se sente incomodado somos nós mesmos. Nós criamos o incômodo, nós vemos, no que os outros fazem, um incômodo. Isso vale para tudo: somos nós que vemos no que os outros fazem ou dizem, a acusação, a crítica, etc. Não é o outro que nos critica ou ofende: somos nós mesmos…

A dinâmica do não-sofrimento consiste exatamente neste olhar para dentro e ver-se como o causador do sofrimento que está sendo sofrido.

Na busca do não-sofrimento eu luto contra mim e não contra o próximo. Não luto contra o mundo para que mude o que está acontecendo, mas contra mim mesmo para que eu não viva o sofrimento que a mente está dizendo para viver.  Apesar da mente dizer que fui ofendido ou caluniado, não vivo o que ela está dizendo, mas estou sempre buscando entender, em mim, o que deu origem àquele sofrimento.

Se sofro quando alguém me chama de feio, por exemplo, vou procurar saber o que gerou aquele sofrer, ao invés de buscar provar e convencer quem falou de que ele está errado. Por que alguém sofre quando é chamado de feio? Porque quer ser chamado de bonito… Alcançar o não-sofrimento é perceber isso e libertar-se desse desejo. Só assim não se vive o sofrimento que o sofrer trás.

Para não sofrer ao ser chamado de feio tenho que reconhecer que existe dentro de mim um desejo de ser chamado de bonito e lutar contra ele. Como? Falando para mim mesmo que não existe um padrão universal para beleza. Dizendo a mim mesmo que eu posso me achar bonito e que o outro tem todo o direito de não me achar.

É preciso proibir a si mesmo de proibir os outros fazerem qualquer coisa: este é um caminho para se viver o não-sofrimento. Isso porque, se eu acreditar que tenho o direito de proibir alguém de alguma coisa, esta minha crença vai me levar a sofrer amanhã, pois a vida vai me mostrar que ninguém consegue proibir nada em ninguém.

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