Assim como, quase sempre, é o homem o causador de seus sofrimentos materiais, também o será de seus sofrimentos morais?
Mais ainda, porque os sofrimentos materiais algumas vezes independem da vontade; mas, o orgulho ferido, a ambição frustrada, a ansiedade da avareza, a inveja, o ciúme, todas as paixões, numa palavra, são torturas da alma.
A inveja e o ciúme! Felizes os que desconhecem estes dois vermes roedores! Para aquele que a inveja e o ciúme atacam, não há calma, nem repouso possíveis. À sua frente, como fantasmas que lhe não dão tréguas e o perseguem até durante o sono, se levantam os objetos de sua cobiça, do seu ódio, do seu despeito. O invejoso e o ciumento vivem ardendo em contínua febre. Será essa uma situação desejável e não compreendeis que, com as suas paixões, o homem cria para si mesmo suplícios voluntários, tornando-se lhe a Terra verdadeiro inferno?

E podem ser controladas: esse é o segredo.
Todas as torturas da alma, ou seja, todas as falas do ego que ferem paixões, podem ser controladas e por isso não precisam se transformar necessariamente em sofrimento. Então, a dor moral, ou o sofrimento de ter a sua paixão atingida, pode ser mais facilmente controlada do que o sofrimento oriundo de qualquer ato.
Aliás, ninguém sofre pelo ato, mas sim pela paixão moral envolvida nele. Isso precisa ficar bem claro. Se você sofre porque tem fome, isso é uma ilusão, uma mentira, porque tem muita gente que tem fome e não sofre. Na verdade o seu sofrimento é oriundo da vontade de comer. É fruto da ganancia e não da fome.
Sofre-se porque alguém nos abandona. Isso é uma ilusão, uma mentira. Tem gente que é abandonado e não sofre. Por isso, digo que o sofrimento nasce por causa da vontade de ter uma pessoa ao seu lado que não foi contentada.
É preciso que compreendamos isso: a dor, o sofrimento, não acontece pelo que está se passando, mas é uma criação do ego defendendo o seu patrimônio cultural, suas paixões e seus desejos. Tudo isso pode ser controlado.
Você pode controlar os motivos do sofrimento ao dizer para o ego: ‘você está certo ao dizer que tenho que sofrer porque a minha amada foi embora, mas, o mundo é redondo: esse abandono de hoje será substituído amanhã por um novo encontro. Como tenho certeza e confiança disso, para que vou sofrer agora?
Então, creiam, o sofrimento nasce na interpretação da autodefesa que o ego faz das paixões e dos desejos da sua identidade provisória.

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