Participante: Joaquim, preciso de uma orientação sua. Apesar de ouvir seus ensinamentos há anos, de acreditar neles e tentar coloca-los em prática, muitas vezes me vejo presos a emoções humanizadas, emoções ligadas a posses, paixões e desejos. O que posso fazer para não ter mais essas emoções?
Você está tocando em um ponto que é talvez a última barreira do processo que conversamos todo tempo. Por isso, deixe-me falar uma coisa.
Existem momentos e existem tendências. Quando está conversando comigo está vivendo um momento; quando diagnostica, como diagnosticou, uma forma de viver (com emoções ligadas a posses, paixões e desejos), isso é uma tendência de vida.
Conversamos, falamos muito de coisas que vocês que estão encarnados deveriam, podem e deveriam fazer. Isso são tendências de vida e não momentos. Mais: quando falamos em fazer alguma coisa, dizemos fazer sem mudar quem vocês são.
Todos os ensinamentos que conversamos não tem como objetivo mudar ninguém, alterar nenhum plano mental. O que falamos deve servir para que o ser encarnado retire o peso que dá a determinadas formas de viver. De uma determinada verdade, de uma determinada emoção criada pela mente.
Quando um ser encarnado me ouve e não compreende o que transmito da forma que acabei de falar, como imagina o viver? Imagina que precisa mudar a forma a viver. Imagina que precisa mudar com um mundo mental e emocional diferente do que vivia até então.
Não é isso que espero de vocês. Não é isso que se chama reforma íntima, pois as formações mentais e emocionais geradas pela razão não podem ser mudadas por vocês que estão encarnados.
Os ensinamentos que trazemos não podem causar essas mudanças. Aliás, como falei recentemente em Brasília, nosso trabalho é anárquico, ou seja, sem estar aprisionado a deve ser feito ou é certo ou errado fazer de alguma forma. No trabalho que propomos não existe caminho certo, modo certo de viver, obrigações e necessidades que precisam ser cumpridas.
Por isso, quem nos ouve deve, ao invés de questionar, mudar, querer deixar de ser o que é, aprender a viver com o que é. Isso é fazer o trabalho da reforma íntima.
Ligando isso ao que você falou (viver com emoções humanizadas) tenho a dizer que seu trabalho não é viver com emoções menos humanizadas, mas sim aprender a conviver com as emoções que sente de uma forma espiritual. Como se faz isso? Vou exemplificar.
‘O ensinamento diz que não devo viver com essa emoção porque é humanizada, está ligada a paixões. Certo, deveria não viver com ela, mas estou. Não posso deixar de tê-la, porque é criação da minha mente. Portanto, tenho que aprender a conviver com essa emoção sem querer muda-la’.
Sempre disse: não transforme o que falo em verdades. Tudo que ensinamos não é uma verdade que vocês precisam viver, se dedicar, cumprir. Trata-se apenas de um balizador que deve levar o ser encarnado à consciência de que as coisas desse mundo precisam ser vividas de forma diferente pro quem quer aproveitar a vida para a promoção da elevação espiritual.
Vou dar um exemplo. Existe o acontecimento ter um filho. Existem algumas emoções padrões que a mente humana cria para vivenciar esse momento. Aqueles que não se reconhecem como espiritualistas, ou seja, não vivem para o algo além da carne, acham que devem se entregar a essas emoções. Já aqueles que estão comprometidos com a reforma íntima sabem que não devem entregar-se a elas porque senão estarão sujeitos ao apego às posses, paixões e desejos humanos.
Só que o simples fato de saber isso não leva a personalidade humana a não criar essas as emoções e verdades que cria para quem não é espiritualista. Ela cria da mesma forma. Ao recebê-las o buscador deve então agir para não vivê-la, não aceita-la como rela, como verdade. Nisso se consiste o trabalho da elevação espiritual.
Portanto, se você ouviu meus ensinamentos, acredita neles, não deve se ocupar em não viver emoções humanizadas, mas ao vivê-las, não dar força àquilo que a mente cria. Deve trabalhar para que quando a razão crie emoções que estão presas às posses, paixões e desejos, não querer ter outras, mas viver com o que é criado sem entregar-se àquilo.
Outro exemplo? Ganhar na loteria. Isso é um momento de vida onde a razão vai gerar determinadas emoções. O espiritualista não deve lutar para não ganhar na loteria, nem lamentar por ter ganho, se ganhar. Ele deve viver o momento com a emoção que advém dele (a euforia de ter ganho) sem achar que isso é o máximo, é a realização de uma vida. É preciso dizer a si mesmo: ganhei, e daí?
Outro mais prático. Se o espiritualista recebe formações mentais que diz que tem raiva de alguém, promover a reforma íntima não é deixar de tê-la, mas sim aprender a tê-la sem sentir raiva.
A raiva, que é uma das emoções humanizadas que os seres humanizados sentem, é racional e não sentimental. Por isso, ela é a prova do espírito. Por isso, ao ter uma emoção racionalizada, para que faça o que ensino, é preciso ter a emoção, mas relacionar-se com ela de uma forma diferente, Relacionar-se com ela de uma forma harmônica, ao invés de se banhar nela ou lutar contra.
Não é ter o prazer porque está sentindo aquela emoção nem lutar para não ter. Promover a reforma íntima é dizer a si mesmo: tenho, e daí?
E daí ...
Essas duas palavras, depois do dane-se, formam o maior instrumento para conseguir realizar a elevação espiritual.