Senhor da yoga - Cap. 5 - Caminho da renúncia

Senhor da yoga - Cap. 5 - Caminho da renúncia

Estudo do capítulo V do Bhagavad Gita

Senhor da yoga - Cap. 5 - Caminho da renúncia

Versículo 1

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Senhor da yoga - versículo 1

Arjuna disse:

01 – Ó Krishna, tu exaltas a renúncia da ação e ao mesmo tempo o cumprimento da ação, que é o Karma-yoga. Por favor, diz-me de forma definitiva: o que melhor me convém?

Arjuna, a partir dos ensinamentos de Krishna, ficou indeciso: ele deve ou não praticar as ações? Na verdade, ninguém pode deixar de praticar ações, pois esta é a razão de estar vivo. Se não praticar ações, para que encarnar? Neste mundo ninguém fica parado.

É face a esta dúvida que Arjuna pergunta: renuncia a ação ou a pratica? É sobre isso que vamos conversar agora...

Senhor da yoga - Cap. 5 - Caminho da renúncia

Versículo 2

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Senhor da yoga - versículo 2
Senhor da yoga - versículo 2

02 – A renúncia dos frutos e a ação inegoísta, ambas conduzem à libertação; porém entre as duas, a karma-yoga ou a ação impessoal e inegoísta é superior à simples renúncia de agir.

Renunciar ao fruto da ação é renunciar ao que a ação lhe dá. Por exemplo: você veste uma roupa nova. Isso é uma ação. Qual o fruto de vestir uma roupa nova? A vaidade, o prazer, a soberba, etc. É isso que Krishna está ensinando: renunciar a tudo que o ato pode lhe trazer...

Outro exemplo. Hoje você orienta uma pessoa para fazer determinadas ações e ela faz. Quando constata isso, se enche de soberba por ver que aquela pessoa fez o que mandou fazer. Este não renunciou ao fruto da ação, pois ainda alimentou-se do que adveio da ação.

Este renunciar ao que a ação oferece vale para todas as coisas, sejam elas consideradas positivas ou negativas. No exemplo da pessoa fazer o que você quer, se ela não fizer, o verdadeiro yogue renuncia ao sofrimento advindo do não acontecer o que se espera.

Esta é a ação com a renúncia dos frutos. Ela existe quando o ser humanizado participa dele, mas não se alimenta daquilo que surge da prática do ato. Já a ação inegoísta é diferente. Ela se consiste em participar do acontecimento sem ter a intenção de ganhar individualmente, de ter lucro pessoal, sem esperança que determinados resultados surjam da ação que é praticada. .

 A ação inegoísta acontece quando você faz alguma coisa para alguém e não espera resultados dela. Aquele que age inegoisticamente, por exemplo, limpa uma mesa, mas não é por isso que ele espera que ela não se suje mais. Quem não participa desta ação com esta disposição, vai sofrer, porque não há mesa que consiga se manter limpa com o passar do tempo.

Compreendeu a diferença? Um participa da ação de limpar a mesa sem esperar que ela permaneça limpa; o outro a limpa, mas não se alimenta da soberba de dizer que possui uma casa limpa, que sabe limpar bem uma casa. Um deixa de ganhar; o outro age sem intenção. As duas conduzem à elevação espiritual, mas Krishna afirma: a ação inegoísta é superior à renúncia de agir. Portanto, concentre-se em praticá-la, ou seja, concentre-se em silenciar as intenções que o ego lhe cria.

Mas, mesmo com esta concentração, preocupe-se ainda em ao praticar a ação de dar a quem precisa, por exemplo, não esperar que este venha lhe elogiar por conta deste fato; não espere que lhe chamem de bom, de caridoso, nem que vá ganhar um terreno no céu por causa disso. Aja sempre sem esperar nada em troca, nem que seja um muito obrigado. Como vocês só participam da ação de forma egoísta, ainda acham que é obrigação daquele que recebe seu ato dizer pelo menos obrigado. Isso não é atitude de alguém que diz que quer buscar a elevação espiritual.

Quem não lhe diz muito obrigado não é mal educado: é Deus lhe dando uma prova para ver se você vai praticar a renúncia da ação ou não.

Participante: então, as duas formas de agir conduzem a elevação espiritual. Uma se consiste em participar da ação sem esperar lucros e a outra é renunciar aos frutos da ação.

Perfeito. Só para distinguir melhor uma coisa da outra, posso dizer que aquele que renuncia ao fruto da ação está envolvido com sentimentos enquanto aquele que age inegoisticamente está ligado a acontecimentos materiais. Quem renuncia ao fruto da ação, renuncia ao sentimento que aquela ação faz surgir. Quem age inegoisticamente não espera resposta física ao que fez.

Por exemplo: o ato de comprar uma roupa. Aquele que renuncia ao fruto da ação não vibra dentro da emoção de sentir-se vaidoso porque está com uma roupa nova, de sentir-se mais bem arrumado que os outros, etc. Já aquele que participa desta ação de uma forma inegoísta não espera que a sua blusa seja elogiada, não espera que os outros reparem que ele comprou uma blusa nova.

Isso precisa ser feito por aquele que busca a elevação espiritual a cada segundo de sua existência, já que em cada momento existe sempre uma prova. No momento que está comprando existem ações que são esperadas pela parte dos outros e sensações que são criadas pelo ego do ser encarnado. Quando vestir a blusa e admirar-se no espelho e quando estiver vestindo-a junto a outras pessoas, novas atitudes serão esperadas e novas sensações serão criadas pelo ego. Por isso, em cada um destes momentos aquele que deseja a elevação espiritual precisa agir para poder se manter equânime.

Em cada segundo de uma existência, Deus está sempre perguntando se você irá se apegar ao fruto (sentimental) ou à necessidade de um resultado para sentir-se feliz ou se manterá equânime.

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Versículo 3

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Senhor da yoga - versículo 3

03 – Tens de saber, ó tu de braços fortes, que é um renunciador perpétuo (ou sannyasin) aquele que está livre tanto da aversão quanto dos desejos. Se estiveres livre dos pares de opostos (frio e calor), facilmente ficarás livre de qualquer ligadura.

Por que você não consegue renunciar aos frutos da ação? Por que ainda tem os pares de opostos: o limpo e sujo, o certo e errado, o bom e o mal. Enquanto você acreditar neste, sempre que a situação combinar com o seu positivo sentirá inexoravelmente a sensação ligada ao prazer; quando combinar com o seu negativo, irá sofrer. Isso não tem como deixar de ser...

A crença nestes pares de opostos como reais, leva o ser humanizado automaticamente a ter um desejo. Havendo estes, sempre que a situação atendê-los as sensações ligadas ao prazer não serão contestadas e as ligadas ao sofrimento não serão abandonadas. Por exemplo: você acha uma calça bonita. Isso vai automaticamente fazê-lo desejar ter aquela calça. Tendo este desejo e conseguindo adquiri-la, não conseguirá renunciar às sensações prazerosas que surgirão; não conseguindo, dificilmente se libertará da lástima de não ter adquirido a calça.

Não há como renunciar aos frutos da ação sem que antes se renuncie aos conceitos. Não há como ainda se acreditar em padrões de beleza e ao mesmo tempo manter-se equânime no relacionamento com Deus. Só quem abre mão da beleza pode encontrar o Pai. Quem não renuncia ao critério de limpo, não encontra Deus, pois enquanto acreditar nele estará julgando tudo o que vê para saber se está limpo ou sujo.

A renúncia da ação, portanto, está diretamente vinculada à questão da luta para libertar-se dos valores que o ego cria para as coisas do mundo. Para isso, apenas relembrando, é preciso saber que não existe casa arrumada ou não; o que existe é casa que eu considero arrumada ou não. Esta é a forma de se lutar contra os conceitos.

Quando você se convencer que as suas idéias sobre alguma coisa são apenas uma opinião particular e não uma regra que precisa ser seguida pelos outros, poderá, enfim, começar a praticar a renúncia ao fruto da ação que o faz aproximar-se de Deus. Enquanto der o valor de certo a determinadas coisas e de errado a outras, irá com certeza gozar dos frutos da ação.

Participante: eu não consigo me libertar dos conceitos...

Você e muitos outros. Por quê? Porque não zelam pela sua espiritualidade. Aquele que tem zelo pela sua pretensão espiritual consegue, mas aquele que ainda está preocupado com o bem estar nesta vida, que prioriza a felicidade material, o prazer, não consegue.

Não se pode chegar a um lugar caminhando numa estrada que leva a outro. Para se chegar à elevação espiritual é preciso renunciar à vida material como vivida por aqueles que não têm esta pretensão. Portanto, é preciso haver a renúncia das coisas que são materiais para poder se alcançar as espirituais. Sei que é difícil para quem está ligado a uma mente humana renunciar às coisas materiais, mas esta é uma condição necessária para poder se alcançar a elevação espiritual. É neste aspecto que reside a dificuldade de vocês.

Na verdade, vocês querem seguir o reto caminho, que precisa da renúncia, sem renunciar a nada. Querem que a elevação espiritual venha de encontro com a sua satisfação, sem precisar abrir mão de nada, continuando a mesma pessoa, vivendo as coisas do mesmo jeito. Querem que Deus se adapte a vocês. Isso é impossível: vocês precisam se adaptar a Deus, porque se não as coisas no Universo estariam fora de sua sintonia.

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Versículo 4

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Senhor da yoga - versículo 4

04 – São os de mentalidade infantil e não os sábios os que dizem que a sabedoria e a yoga diferem. Aquele que se consagra a uma delas firmemente, alcança os frutos de ambas.

O que é sabedoria? A prática daquilo que é conhecido...

A yoga e a sabedoria são a mesma coisa, pois a yoga como caminho entre a Terra e o céu trata da prática do que ensinaram todos os mestres. Quando Krishna, por exemplo, indica a renúncia da ação, a renúncia da sensação que surge quando se vivencia um ato, ele está ensinando a mesma coisa que Cristo quando falou ao homem que já conhecia todas as leis que deveria doar tudo o que é seu para os pobres.

Senhor da yoga - Cap. 5 - Caminho da renúncia

Versículo 5

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Senhor da yoga - versículo 5

05 – O estado obtido pelos sábios também é alcançado pelo homem de ação. Aquele que considera iguais a sabedoria e o ato cumprido impessoalmente, esse é um vidente da Verdade.

Neste item, Krishna está usando o termo sábio como aquele ser humanizado que vive afastado do mundo apenas realizando a busca da Verdade. É aquele que não convive em sociedade, que não possui família e que vive isolado do mundo.

O mesmo estado que este ser alcança pode ser alcançado por aquele que vive a vida dentro da sociedade, desde que este vivencie a renúncia e a ação impessoal. Para se viver uma vida dita como santa, ou seja, voltada para a elevação espiritual, não é necessário se afastar da convivência com os demais seres humanizados. Isso pode ser alcançado pelo ser humanizado comum, dentro da visão sobre a existência que vocês têm. O ser pode ter normalmente sua atividade profissional e ganhar seu dinheiro, pode adquirir bens materiais, pode ter sua família e conviver com ela. Tudo isso ele pode fazer: o que não pode é vivenciar estes acontecimentos com intencionalidades.

O ser que busca a elevação espiritual pode, por exemplo, casar com uma mulher e viver com ela. O que não pode é transformá-la numa propriedade sua, ou seja, alguém que lhe sirva nos mínimos desejos. Pode constituir família através da geração de filhos; o que não pode é achar que por ser pai o filho é obrigado a lhe escutar e seguir suas orientações. Pode ter o seu emprego, mas não pode querer ganhar durante o exercício da sua profissão. O problema não está no que faz, mas sim com que objetivo vivencia cada um destes acontecimentos.

O fato de um ser humanizado arrumar a casa não pode ser considerado certo ou errado, no tocante à elevação espiritual. O problema está em querer retirar frutos da limpeza, ganhar com ela.

Aquele que vive isolado do mundo, por exemplo, não varre casa, mas você que vive na sociedade pode fazer. Isso não é pecado. O pecado é esperar de porque varreu a casa ela tem que estar limpa ou que o outro lhe elogie porque você é um bom limpador de casa. Este é o pecado porque é uma participação numa ação que Deus promove vivenciada com egoísmo e querendo tirar algum lucro dela.

Até pelo entendimento humano, querer tirar proveito individual do ato de outra pessoa não é algo elevado, não é mesmo? Uma pessoa, por exemplo, copiar o que estamos falando e dizer que foi ele que falou não é um ato não louvável. Pois bem, como é Deus que cria todos os atos, você quando espera daquele acontecimento ganhar alguma coisa está agindo da mesma forma.

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Versículo 6

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Senhor da yoga - versículo 6
Senhor da yoga - versículo 6

06 – Ó tu de braços fortes, de fato é muito difícil renunciar à ação, quando ainda não se cumpriu a ação inegoísta. O sábio dedicado à ação inegoísta e impessoal prontamente vivencia Brahman.

O sábio quando renuncia a ação egoísta, ou seja, quando participa dos acontecimentos sem esperar nada, alcança a Deus. Por que isso? Porque entra na Realidade...

Precisamos distinguir a Realidade, aquilo que está acontecendo no Universo daquilo que nós achamos que está acontecendo. Aquilo que a mente diz que está acontecendo neste momento é apenas uma visão individual, uma interpretação gerada a partir de percepções e não Realidade. Por exemplo: você está lendo estas linhas? Você acredita que sim, que esta afirmação é real. Mas, se você é um espírito e este não possui olhos, como ler? Se as formas que compõem tanto as letras quanto o sentido das palavras que estão sendo lidas só se agregam ao ser depois do nascimento, como pode um espírito ler algumas coisa. Portanto, universalmente falando, achar que está lendo é viver uma Realidade que é impossível para o espírito.

Não sendo ler o que você está fazendo, o que faz agora então? Impossível de ser conhecido por aquele que está aprisionado a um ego. Hoje para vocês apenas aquilo que a mente cria é real. Se ela não criar uma consciência de que alguma coisa está acontecendo, você nunca tomará conhecimento das ocorrências ao seu redor. Como o ego não possui condições de interpenetrar na Realidade, é, portanto, impossível para vocês conhecê-la.

O sábio, quando renuncia a ação egoísta ou aos frutos dela, renuncia a própria ação, ou seja, à consciência criada pelo ego. Liberto dela, mesmo sem saber o que está ocorrendo, pode, então, viver a Realidade. Ao vivenciá-la, consegue aproximar-se do Pai.

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Versículos 7 a 13

07 – Aquele que se dedica a praticar a ação inegoísta e que está com a mente realmente pura e que subjugando seu próprio ego dominou seu sentir contaminado e ainda considera seu ser como o ser de todos os seres, mesmo que atue, jamais será manchado pela retribuição da ação.

08 e 09 – O vivenciador da Verdade que adquiriu domínio sobre si mesmo, meditando deveria dizer: “Não faço absolutamente nada, mesmo que veja, ouça, toque, cheire, abra e feche os olhos; tudo isso é apenas o simples funcionar dos gunas sensórios (ou os sentidos contaminados), que se relacionam com os seus respectivos gunas objetivos (ou objetos, coisas, seres pensados)”.

10 – Aquele que executa ações e as oferece a Brahman, abandonando toda identificação, não se mancha com o pecado; é como se fosse uma flha de lótus que a água não chega a molhar.

11 – Os karma yogues, abandonando todo apego e com seu ser completamente puro, executam atos com o corpo, com a mente, com o entendimento e até mesmo com os sentidos.

12 – Aquele que é dono de si mesmo e deixa de lado qualquer apego pelos frutos da ação, vivencia a paz suprema. Contrariamente, o que carece de equilíbrio e que por causa do desejo se liga ao fruto, permanece sempre escravo da própria ação.

13 – O ser corporificado que, graças ao reto discernimento e à renúncia do fruto de qualquer ação, dominou a si mesmo, esse reside feliz na cidade das nove portas (aberturas do corpo – chacras) e como não atua intencionalmente, não obriga a que ninguém atue por ele.

Os chacras são considerados pelos universalistas como as portas de entradas das energias. Eles só existem quando o espírito está encarnado. Por isso Krishna fala de quando o sábio está residindo na cidade de nove portas, ou seja, quando o espírito está encarnado.

Aquele que encarnado, segundo Krishna, renuncia ao fruto da ação e participa dos acontecimentos de forma inegoísta, vive feliz. Mais: não obriga que ninguém atue por ele.

Quem renuncia ao fruto da ação e a pratica de uma forma inegoísta é feliz por si mesmo. Ele não precisa que ninguém ou nada lhe traga felicidade. Ele não precisa ser elogiado, não precisa que os outros concordem com ele: está sempre feliz...

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Versículos 14 a 16

14. O Senhor não cria agente, nem cria a impressão que tens de que o mundo age a favor ou contra ti; tampouco é Ele quem suscita a impressão de união entre o ato e seus frutos. Tudo isso é obra da prakriti.

15. O Senhor Onipresente não participa nem do bem nem do mal relacionados ao ato que alguma criatura possa cumprir Todavia, infelizmente, a sabedoria está coberta pela ignorância e por causa dele todos os seres caem no laço da ilusão.

16. Porém, os que graças ao auto conhecimento e à vivência do ser, conseguiram destruir a ignorância, para estes, esse mesmo conhecimento, igual a um sol iluminado, lhes revela o Supremo.

Deus não participa das ações: Ele causa... E justamente observar esta causa no que acontece é que leva o ser humanizado à vivência com Deus.

Tem muitas pessoas que fazem meditação, outras oram e outras ainda concentram-se para poder alcançar a Deus. Mas, para que isso: Ele está ao seu lado o tempo inteiro. Sabe o desenho desta letra que você está lendo? Ela é Deus. Sabe a folha onde está impressa esta palavra? Ela é Deus. Se Ele está aqui, para que procurá-lo em outro lugar?

É isso que o auto conhecimento e a sabedoria (prática dos ensinamentos) traz ao ser humanizado: a convivência com Deus. Sem ela, Deus ainda continua sendo uma figura que existe no céu enquanto o ser convive com outras pessoas e objetos.

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Versículos 17 a 29

17. Os homens cujo entendimento só vivencia o Supremo que se identificaram com Aquele, que se refugiaram n’Aquele e cujas impurezas foram limpas pela sabedoria autêntica, esses realizam o estado de não retorno, que é a liberdade perfeita.

18. Com a mesma equanimidade, o sábio encara a um brâmane erudito, a uma vaca, a um elefante, a um cão e a um paria que come cachorros.

19. Os homens equânimes neste mesmo mundo e nesta mesma vida conquistam e suplantam a existência relativa e isso porque a mente deles se apóia em Brahman, que é perfeito e idêntico em tudo e em todos. Por conseguinte, esses residem em Brahman.

20. Aquele que conhece vivencialmente Brahman e está estabelecido n’Ele, cuja mente não abriga mais ilusões nem dúvidas, esse não se regozija se recebe o que é agradável, nem se aflige quando recebe o que parecer ser desagradável.

21. Aquele cuja mente deixou de se apegar aos objetos externos (ou pensados), propiciados pelos sentidos (pensantes – pensados), esse realiza em si mesmo a felicidade que está no ser; unindo-se com Brahman, por meio da meditação correta, vivencia a Felicidade Eterna.

22. Os prazeres originados pelo contato dos objetos (pensados) com os sentidos (pensantes – pensados) são sempre geradores de misérias. Eles têm começo ou fim. Por isso, ó Kounteya, o sábio de verdade não se compraz com eles.

23. Aquele que, nesta mesma vida e antes de abandonar o corpo, consegue dominar os impulsos da luxúria e da ira, estabelece-se na união perfeita (ou yoga) e esse é um homem firme e verdadeiramente feliz.

24. Aquele cuja alegria é interior, cujo prazer e cuja luz são íntimos, é um yogue que, identificando-se com Brahman, vivencia a liberdade absoluta.

25. Os sábios espirituais, os videntes da Verdade e que têm um perfeito domínio sobre si mesmos, cujas imperfeições se esgotaram, cujas dúvidas desaparecem e que se consagram a fazer o bem a todos os seres, esses vivem absortos em Brahman.

26. Os sábios austeros dedicados à vida espiritual, livres da paixão e ira, cuja mente está pacificada e que realizaram o ser, por todas as partes irradiam a beatífica paz de Brahman.

27 e 28. Interceptando o contato que parece dar-se entre os objetos (pensados) e os sentidos (pensantes – pensados), fixando o olhar entre as sobrancelhas ou na origem do nariz e restringindo dentro das fossas nasais as forças que regem a exalação e a inalação do ar (ou o prâna e o apana) e ainda com os sentidos, a mente e o intelecto subjugado, sem desejos, medo ou cólera, um homem que busca assim a liberdade com tanta devoção, esse de fato já é um liberto.

29. Aquele que Me percebe como receptor e dispensador do sacrifício, da oblação, etc e das austeridades, além de ver-Me como Senhor Supremo dos mundos e o amigo de todos os seres, esse obtém a paz.