Reflexões

Desabafo

Enquanto não vem a palestra, gostaria de dizer algumas palavras. Aliás, sinto a necessidade disso...

Eu e a Márcia somos os únicos que vêm acompanhando os ensinamentos de Joaquim desde o princípio. Amigos que começaram conosco não mais nos acompanham... Isso não é vantagem alguma, mas trás certo olhar global que muitas vezes não é alcançado por quem iniciou agora as leituras dos textos...

Não estou dizendo que sabemos mais dos ensinamentos, mas que acompanhamos a história. Por isso acredito que tenhamos um olhar mais objetivo do desenrolar das coisas. Não estou falando de ensinamentos, mas do trabalho em si...

Tudo começou de uma forma completamente diferente do que está hoje. Na verdade, quando nos mudamos para Piracicaba nossa idéia é que íamos fundar um centro de umbanda... Achávamos que os estudos, que já havia, era apenas um complemento para facilitar o trabalho. Mas, a coisa mudou...

A partir de 2001, com o estudo do Evangelho de Tomé, progressivamente os trabalhos de umbanda foram extinguindo-se e os estudos foram dominando as conversas. Até que hoje temos exclusivamente os estudos como trabalhos do EEU.

No início dos estudos não havia a informação de maya, de que tudo é ilusão e essas coisas que vocês estão tão familiarizados hoje em dia... Joaquim falava sempre em nos mudar, em nós, seres humanos alterarmos nossa forma de viver...

Isso pode ser observado com os textos do Evangelho de Tomé. Se existe ali alguma informação a respeito de maya é bem sutil...

Depois, com a evolução dos estudos, fomos sendo levados ao conhecimento da existência do mundo de maya. Mesmo assim, a idéia de que podíamos fazer alguma coisa ainda ficou. Joaquim ainda falava que nós humanos tínhamos capacidade de reconhecer a existência de maya e escapar dele...

Só depois, quando começamos a estudar o Avadhut Gita, a idéia de que nós humanos somos apenas uma idealização de Deus e que por isso nada podemos fazer apareceu...

   Como disse, a vivência do que estou falando nos fez ver com clareza que os estudos foram realizados em etapas diferentes bem distintas... Mesmo que hoje se tenha disponível grande parte do que já foi estudado, fica difícil ver o desenrolar destas etapas para quem está chegando agora...

Por que estou dizendo isso? Porque sinto que uma nova etapa está começando...

É forte em mim hoje a convicção que Joaquim estará disponível para conversar conosco apenas esporadicamente. Sinceramente, não vejo no futuro a continuação do trabalho que estávamos acostumados...

Além disso, sinto que o trabalho vai dar uma guinada retrocedendo ao início. Esta consciência está fundamentada pelo que tenho escrito recentemente: a realidade do mundo terrestre para o ser humano...

Era exatamente isso que pretendia conversar com vocês ontem, mas não deu certo...

Estou tentando por idéias em ordem e tentando, ainda, conseguir um tempo para colocá-las no papel, mas o fundamento é exatamente esse: existem dois mundos onde duas realidades são vivenciadas e em cada um destes mundos existem seres que os vivenciam de forma real para eles.

De nada adianta querermos aplicar as verdades de um mundo para outro. De nada adianta querer se viver um mundo com a verdade do outro... O espírito precisa viver o seu mundo com a sua verdade e a sua realidade e nós, seres humanos, devemos, se fizermos, viver este mundo com nossas verdades...

Isso para mim é desdizer tudo o que já foi dito antes; isso é o que gostaria de colocar para fora...

Pensar isso vai contra o que já foi ensinado? Claro que não... Se tudo que o ser humano faz é idealizado por Deus, o que estou fazendo também o é...

O grande truque, para mim, é compreender que se tudo está escrito, faça-se o que se fizer, já estava escrito. Se o que nós pensamos aparentemente se contrapõe ao que já foi dito, a contraposição foi idealizada por Deus e, por isso, não se trata de nenhuma contraposição...

Uma das coisas que mais me marcou nesta caminhada foi o final do segundo filme Matrix. Não sei se vocês assistiram, mas nele o cara que luta com a Matrix consegue chegar ao programador central, à central onde o mundo virtual era criado.

Ao chegar lá ele vê diversos monitores todos eles exibindo a sua própria imagem. Mas, ele reconhece que apesar das imagens serem idênticas em forma, os que ali estavam sendo projetados não era ele...

Aí ouve-se o programador falando. “Você pensa que é contra mim, mas se eu projeto tudo, você é minha projeção. Portanto, fui eu que o criei para lutar contra mim e administro a sua luta...”

Esta é uma visão muito interessante. Tudo é possível, quando existe um programador central, mesmo a luta contra ele...

Claro que os ensinamentos do mundo espiritual podem criar balizamentos interessantes, mas eles não podem servir como parâmetros total para se viver uma realidade diferente daquela que se vive. Ou seja, podemos conhecer o que Joaquim nos ensinou sobre o mundo dos espíritos, mas não podemos nos apegar a estas idéias e esquecermos do dia-a-dia – claro, se o programador fizer isso acontecer...

Bem, era isso que queria dizer com este desabafo... O resto vou tentar colocar no papel ou conversar na quinta feira...