Reflexões

Expansão da consciência

Um amigo afirma que ao refletir sobre o texto que fala que o dualismo é apenas mais uma das ilusões geradas pelo ego chegou à seguinte conclusão: a chamada evolução espiritual, a emancipação do eu material e a própria vida também o são.

Eu concordo: para mim estas idéias são também criação do ego. Aliás, na palestra realizada durante o encontro em São Paulo Joaquim deixou isso bem claro. Ele afirmou que a idéia de evolução espiritual que as personalidades humanas têm são fruto da criação do ego e não uma Realidade universal. Disse que se quisermos chamar alguma coisa de evolução espiritual esta idéia não pode conter ascensão nem muito menos alterações de coisa alguma, pois o Universo é Uno, Único e Estável. Mas, sobre isso pretendo escrever depois. Queria aproveitar um e-mail para tocar em outro assunto.

Você me fala que chegou a esta conclusão refletindo a partir de dois aspectos: tempo e espaço. Para você – e eu também concordo com isso – as idéias sobre evolução espiritual, emancipação do ser e a própria vida humana precisam da existência de tempo e espaço, pois são estes elementos que criam as historinhas necessárias para manter vivas estas idéias.

Como você diz, se o tempo e o espaço são existentes apenas dentro do mundo ilusório humano, como afirmam os mestres, como pode haver elevação espiritual, emancipação do ser ou a própria vida humana? É sobre isso que gostaria de aproveitar o seu e-mail para falar...

O exercício que você fez – e que também venho tentando fazer com estes textos – chama-se reflexão ou desenvolvimento lógico de um tema. Trata-se de refletir sobre um tema a partir de informações disponíveis visando chegar a uma conclusão.

Podemos chamar a isso também de pensamento... Pensar é isso: refletir sobre um tema utilizando-se de informações presentes. Infelizmente, como diz o Dr. Augusto Cury – psiquiatra e escritor famoso – o homem deixou de executar o grande espetáculo do pensamento... Hoje ele apenas repete o que lhe dizem sem parar para refletir sobre o tema...

Antes de continuar, porém, me permita falar aos teólogos de plantão do EEU. Antes que venham me dizer que Joaquim nos ensinou que o pensamento é dado por Deus e que por isso não podemos pensar como queremos, deixe-me falar algumas coisas...

Joaquim, fundamentando-se nos ensinamentos dos mestres, realmente nos disse que Deus é a Causa Primária de todas coisas e por isso é Ele quem nos dá o pensamento. Mas, pergunto: é com esta realidade que nós vivemos? Esta é uma verdade presente no seu dia-a-dia ou você ainda acha que pensa?

Claro que, por mais que tenhamos ouvido o amigo espiritual do EEU, por mais que o achemos certo, diuturnamente seus ensinamentos não fazem parte de nossa lógica. Apesar de culturalmente imaginarmos que sabemos, na prática a vida é bem diferente. Imaginamos que pensamos por moto próprio, ou seja, acreditamos que somos nós que estamos formando aquele pensamento.

Por isso a razão deste texto...

Se você imagina que pode pensar por si só – e eu me junto a todos que acham isso, apesar dos nove anos ouvindo Joaquim – reflita um pouco nestas palavras. É claro que culturalmente sei que elas só surtirão o efeito, ou seja, só gerarão o pensamento que Deus der a cada um, mas se assim é, este texto e os pensamentos que ele contém também foram dados por Deus...

Voltemos ao assunto reflexão...

Como disse, refletir é criar uma formação lógica que determine um resultado. Estudei um pouco de lógica na faculdade e lá me foi ensinado que uma formação lógica é composto de dois elementos: premissas e resultado.

Exemplo: Todo animal emite um som; o gato mia; logo, todo animal que miar é um gato...

Este é um exemplo chulo, mas que mostra uma linha de raciocínio criada dentro dos padrões da Lógica. As duas primeiras frases são os argumentos e a terceira é a conclusão que é verdadeira e única, pois atende as premissas levantas pelos argumentos.

Numa construção lógica, toda conclusão é verdadeira, a não ser que o argumento não o seja. Exemplo: Todo homem é bom; eu sou homem; logo sou bom...

A conclusão desta reflexão não é real porque uma das suas premissas é falsa: nem todo homem é bom... A este tipo de premissa a Lógica chama de falácia.

Ou seja, a conclusão só será falsa se uma das suas premissas for falsa, mas se isso não acontecer, logo ela será verdadeira...

Voltando ao nosso assunto, a reflexão do que nos é ensinado, e aplicando o que disse acima à execução do espetáculo do pensamento, podemos entender que o que o Dr. Cury salienta é que o homem deixou de analisar aquilo no que acredita. Hoje, ele apenas “compra” idéias prontas sem analisá-las à luz daquilo que acredita...

Se você – assim como eu – acredita que pode pensar por moto próprio, precisa se atentar a este detalhe. Precisamos analisar a luz daquilo que estabelecemos como “verdade”, mesmo que relativa, mas real para nós, todo o resto...

Digo analisarmos a luz daquilo que estabelecemos como “verdade” porque, como afirma a Lógica, a conclusão será verdadeira para cada um se as premissas que levam à ela também o forem. O exemplo está exatamente na reflexão do Armando.

Ele acredita que todos os elementos do pensamento humano são ilusões. Sendo assim, a conclusão de que a elevação espiritual como entendida por esta personalidade não pode ser real... Trata-se de uma questão lógica...

Na verdade, o que ele conseguiu foi uma expansão de consciência...

Este termo tem sido muito utilizado hoje em dia pelas fontes universalistas e espiritualistas, mas, pelo menos para mim, de forma errônea. A idéia que se têm sobre expansão de consciência é a de alcançar conhecimentos novos, descobrir o que ainda não está descoberto.

Não sou totalmente contrário a esta idéia, mas como “descobrir” alguma coisa sem haver um parâmetro que possa nos mostrar que algo foi “descoberto”? Ninguém pode descobrir nada se o que for descoberto não for antes aceito como expansão de uma verdade que já existia...

Se alguém descobre alguma coisa que não possui referencial algum que a qualifique como verdadeiro, certamente irá descartar o que foi descoberto. Dirá que aquilo é uma alucinação, que não é real, que não é verdade...

Sendo assim, pelo menos para mim, expansão de consciência é conhecer outras coisas a partir da análise feita utilizando algo que já é conhecido, que já é verdadeiro...

Sei que estou falando muito em pensar e em verdades, coisas que para aqueles que acreditam nos ensinamentos do EEU são apenas ilusões, mas estou falando de ser humano para ser humano. Como disse em São Paulo, de nada adianta vivermos com as verdades dos espíritos se elas não se aplicam ao nosso mundo. Disse e reafirmo: tais conhecimentos devem existir como referências e não como elementos de nossas vidas...

Somos seres humanos e vivemos como humanos, mesmo que afirmemos que possuímos informações que dizem ao contrário. Por isso continuo falando em verdades... Até porque, se tudo é causado primariamente por Deus...

Voltando, então, ao que estava falando a partir do e-mail do Armando, acho que somos humanos e se possuímos verdades, mesmo que relativas, e imaginamos que podemos pensar, deveríamos buscar expandir nossas consciências, ou seja, aplicar as verdades que acreditamos em pensamentos lógicos para chegarmos a conclusões sobre outros assuntos. Foi isso que o Armando fez; é isso que tenho buscado fazer com estes textos.

O contrário disso, ou seja, daquele que não promove o espetáculo do pensamento, são aqueles que correm a livros ou a mestres em busca de uma resposta para suas dúvidas. Com isso não concluem, mas apenas recebem uma informação pronta que decoram e saem distribuindo. Estes jamais conseguem criar uma “verdade” sua para servir a novas conclusões e vivem como barquinhos navegando ao sabor do vento, ou seja, do que lhe dizem...

  Por isso, amigo Armando, aproveitei o seu e-mail e desabafei. Acho que podemos e devemos ter verdades – até porque se as tivermos nada há de errado nisso, pois o problema é o espírito acreditar nelas e não nós as termos, como nos foi ensinado – mas não conseguiremos, tê-las apenas escutando o que nos dizem: é preciso chegar a conclusões próprias...

Expandir a consciência, ou seja, ter mais compreensão sobre as coisas da vida, é o resultado do raciocínio constante, da execução do espetáculo do pensamento...

Mas, para isso, a primeira coisa é acreditar em algo. Não há como se expandir a consciência sem que se parta de uma premissa que pelo menos para nós seja “verdade” e “real”. Isso é fé, ou seja, confiança e entrega a alguma coisa.

Dentre as múltiplas linhas de informações que todos nós recebemos devemos escolher uma que aceitamos mais, à qual nos afeiçoamos mais. A partir deste momento, devemos transformar o que ela cita como verdade e não questioná-la constantemente...

Quando, no trabalho do ego – Conhece a ti mesmo – Joaquim disse exatamente isso, houve muita contestação. “O senhor está dizendo que não podemos questioná-lo”, perguntaram as pessoas. Ele respondeu: não é isso que quero dizer...

 O que ele sabiamente nos ensinou é que não importa no que você acredite, acredite naquilo. De nada adianta ficar questionando a premissa fundamental, pois sem ela não haverá expansão de consciência...

Os gurus orientais são taxativos neste ponto: o primeiro aspecto para se aprender alguma coisa é a obediência ao mestre... De nada adianta se estar em algum lugar questionando constantemente o que ali é dito.

Se aquilo não lhe convém ou não lhe faz bem, busque outro até encontrar algo que lhe satisfaça. Quando o encontrar, porém, abrace-o com entrega e continue por lá, pois sem uma primeira verdade que oriente todo processo de reflexão que leva à expansão da consciência nada é alcançado...