Outra característica presente em todos os pensamentos humanos é a vontade de sentir prazer.
O prazer é uma sensação (emoção) gerada pela personalidade humana quando a vida (os acontecimentos do mundo) está de acordo com os desejos do ser humano. Quando o que acontece é desejado, a personalidade humana cria a sensação de prazer; quando não, a de desprazer ou sofrimento...
O prazer, como acredito todos sabem, é inebriante. Trata-se de uma sensação que causa uma euforia que se traduz como bem-estar. Mas, espiritualmente falando, ele não é assim tão positivo.
Cristo nos falou da existência de um bem celeste e outro material. Como no céu não existem elementos materiais que possamos chamar de bem, temos que imaginar que o mestre se referia ao mundo sentimental. Ou seja, ele dizia que havia um sentimento que pertence ao mundo dos espíritos e outro que pertence ao mundo dos homens. Este último é o prazer...
O prazer não pode ser considerado um bem celeste porque para existir ele depende do egoísmo. Só tem prazer quem é egoísta. Isso porque se o prazer depende do atendimento de desejos e estes dependem da existência de paixões e elas são o fruto da ação do egoísmo, só quem quer para si, quem quer ganhar alguma coisa tem prazer.
Não amealhe bens na Terra, mas sim no céu...
Eis aí um recado de Cristo que cria um parâmetro para o espírito poder observar em que se fundamenta a razão humana que lhe chega à mente primária. Serve como um balizamento para que o espírito compreenda que quem quer se ajustar no seu próprio meio familiar não deve vivenciar esta sensação.
Apesar deste mesmo recado estar presente na cultura humana, a personalidade humana não consegue se desligar desta busca do prazer. Tenho observado, por exemplo, as chamadas do Padre Marcelo para as missas radiofônicas. Diariamente ele conclama o povo a juntar-se a ele na santa missa com um objetivo diferente: orar pela saúde, pelo emprego, pela família. Mas, isso não é busca do prazer?
Quem precisa orar pela saúde é porque tem o desejo de ser saudável; quem precisa orar pelo emprego é porque quer estar empregado; quem precisa orar pela família é porque quer ter paz no seu âmbito familiar. Ou seja, quem precisa orar a Deus pedindo alguma coisa é porque está em busca do prazer, do bem terreno que o mestre dos cristãos disse que não deve ser buscado.
Incongruente, não? Não, perfeitamente lógico se entendemos a vida como uma encarnação do espírito. O mestre afirma que não deve se amealhar bens na Terra, o representante de Cristo conclama o povo a buscá-lo e os fiéis aceitam esta busca como real. Só assim o espírito pode verificar a hipocrisia da mente humana e abandonar suas idéias convivendo, então, em uníssono com sua família espiritual.
Por isso disse antes: não há errado, não há acusações. Estas reflexões não objetivam criticar ninguém, mas apenas mostrar a realidade humana sob outro ponto de vista: da ação do instrumento para ajudar o espírito a aproximar-se de Deus...
Se a mente humana não fosse aprisionada à vontade de vencer e à busca do prazer, mesmo depois de orientadas a não fazê-lo, o espírito não poderia observar como o discurso é diferente da prática e continuaria aprisionado às idéias humanas. Com isso, continuaria a ser um filho rebelde que vive com os pais, mas em constante briga...
O outro lado da busca do prazer é o medo do desprazer ou sofrimento. Com relação a esta característica, acho que nem precisamos nos alongar mais, pois todos somos mentes humanas e sabemos do medo que temos de sofrer.