Praticante: mas é possível para nós nessa condição humana tão imperfeita chegar a isso?
Sim. Não na razão, mas internamente.
Quando a razão lhe disser que determinada pessoa não presta e reparar que aquela informação mexe com você, diga a si mesma: ‘o mais importante para mim é ser feliz. Por isso vou abrir mão desse ódio. Para mim é mais importante ser feliz do que me deixar incomodar pelo que ela fez’. Isso você tem condição de fazer hoje, agora.
Agora, racionalmente, mentalmente, conseguir uma construção lógica que lhe diga que é mais importante ser feliz do que reclamar do que a outra pessoa fez, não. Isso porque você não comanda o pensamento. O pensamento vem de algum lugar, surge do nada, pronto, sempre explorando o egoísmo. Por isso ele sempre está ligado a uma emoção oriunda do não ganhar.
O pensamento, segundo a ciência, vem da sinapse; nós falamos que é a programação de Deus. Na verdade, enquanto encarnada, nunca vai saber de onde ele veio. Apenas terá consciência de que ele chegou. Tanto é assim, que, de repente, pensa em uma coisa sobre a qual não tinha nenhuma atenção no momento.
Mentalmente, racionalmente como um padrão de ação mental? Não, não vai conseguir. Nem agora, nem nunca ...
Participante: quer dizer que os pensamentos vão continuar vindo, mas você controla a emoção dentro de si?
Você não controla nada dentro de si.
Buda ensina assim: ‘dizem que ensino a não sofrer. Isso é mentira. O que ensino é que quando o sofrimento vier, você deve abraça-lo e depois dizer: meu sofrimento, que lindo você é! Como é bom estar com você! Estava com saudades! Agora pode ir embora.’
Então você não vai conseguir que o sofrimento não venha mas quando ele vier você precisa reagir se libertando dele, deixando ele passar por você. Você sente ele e diz: “parou. Não é isso que quero para mim. Pode ir embora.”
Buda diz outra coisa: as emoções são como um rio, e você está sentado à beira do rio. Você precisa ver o rio passar. Só que você quer logo represar e ficar vendo a mesma água o tempo inteiro.
O caminho é este. O caminho é de vir o sofrimento e você dizer: para, não é por aí. Não é o que quero para mim. Vai embora.
Participante: é muito difícil mandar este curso do rio embora.
É muito difícil porque você acha que é você que está pensando. Mas, na hora que disser que não é você quem está pensando isso, que isso não é seu, vai embora.
Por isso a segunda parte: não existe um você. Não existe um você que pensa, nem para a ciência, nem para o espírito.
Na hora que entra na de não existir você pensando, pode, então, deixar o pensamento fluir. Deixá-lo acabar o seu ciclo e ir embora, ao invés ficar sofrendo o sofrimento de novo, que aliás é o que mais faz.
O sofrimento dura um segundo, mas vocês passam a vida inteira com um mesmo sofrimento, aquele que ela falou no início: traumas. Acabou, passou. Agora, se ficar revivendo, vai sofrer a vida inteira.