Sofrimento - Textos

A busca da sua essência

Participante: esse processo de chegar à conclusão de que ninguém tem culpa, que você é responsável pela sua felicidade, é doído. Não é um processo fácil não; pelo menos para mim não foi.

Quando chega no ponto de sair do processo de que o outro é responsável, você vive a síndrome da abstinência do prazer, do egoísmo.

Toda síndrome de abstinência é dolorida. Não importa no que você é viciado: ficar sem é dolorido. Por isso precisa saber que no final do processo sairá mais fortalecida, no caso, mais feliz. Tendo essa consciência, pouco importando a dor de agora, se conscientiza da necessidade de passar pelo processo.

 A busca da felicidade é um processo de ir soltando as amarras da vida. Voltar-se para dentro, para si e aprender a conviver consigo sem depender de mais nada nem de ninguém.

Volto a dizer, isto não muda a vida, os acontecimentos, nem um minuto, nem um segundo, nem uma vírgula. A vida continua a mesma. O que muda é a vivência do que acontece.

Vocês nunca repararam que quando acontece uma coisa muito ruim, a vida não para de viver? ‘Perdi minha mãe’. Perdeu, e agora? Você tem o amanhã e o depois de amanhã para viver. Como fará, se terá que continuar sua vida? Se ficar à sepultura dela, vai passar pelas mesmas coisas que teria que passar só que em sofrimento.

Por isso, enterre sua mãe e saia de lá, ou seja, continue vivendo a sua vida. Guarde a saudade no coração, mas não entregue-se ao sofrimento.

Participante: você concorda que é saudável a pessoa se internalizar nesse momento? Que ela precisa por um tempo se recolher dessa vida que continua acontecendo? Só depois de algum tempo ela deve voltar a integrar a vida.

Sim, mas esse recolhimento não é físico. Não é necessário ir para um mosteiro e ficar trancado. É o momento onde o ser precisa se recolher intimamente, internamente, mas continuar vivendo, pois como disse, a vida não para. Se trabalha, precisa ir trabalhar; se dirige, terá que continuar dirigindo. Terá que continuar praticando a ação da vida.

Por isso, concordo com o que disse: você precisa estar recolhido dentro de si para alcançar o autoconhecimento, para ver o quanto está preso às necessidades humana. Mais: para ver o quanto essa prisão é o que lhe causa mal e não o que está acontecendo.

É a prisão, a necessidade das coisas humanas que lhe causa mal e não o fato de estar integrado em uma vida humana. Tudo é sempre dentro de si mesmo. Por isto Cristo disse o reino dos céus está dentro de cada um. Ele não está lá em cima e nem lá em baixo. Antigamente se dizia que o inferno era em baixo, debaixo da terra.

O reino prometido está dentro de cada um. É dentro que você vai viver ele e não fora de si. No seu interior está a sua essência. Por isso, mergulhando em si e retirando o que a encobre, a encontrará. Ela está dentro, só que está calada, silenciada por esse monte de necessidades ao qual você está apegado. Por isso, quanto mais consegue ir desapegando, tirando, mais a essência consegue brotar.

Um dia estávamos em outra reunião e chegou, sem chegar, alguns extraterrestres. Um participante encarnado falou: ‘estou sentindo uma coisa aqui dentro que não sei o que é’. Eu disse: é saudade ... Aquele ser encarnado não estava ‘vendo’ os extraterrestres, mas estava sentindo a saudade dos amigos de antes da encarnação.

Isso aconteceu naquele momento, mas no dia seguinte não estava mais sentindo o que sentiu naquele momento. Por quê? Porque a sua essência, que é quem estava sentindo mesmo, foi soterrada pela mãe, pela profissional, pela dona de casa e por toda a amarra a esse mundo com a qual vive.