Participante: eu tenho acompanhado todas as palestras que estão sendo feitas com o grupo de São Carlos em como ajudar... Estes dias encontrei com uma pessoa que fazia muitos anos que não a via, e ela contou que tinha perdido tudo, família, carro, dinheiro... Estava endividada, precisava muito conversar, precisava de um amigo, etc. Eu fiquei olhando para a pessoa e fiquei me perguntando o que eu vou falar para ela? Na hora me bateu aquele silêncio.
Poderia ter falado: ‘que bom, seu caixão vai mais leve’. Já pensou botar carro, dinheiro, apartamento, as casas, suas posses, dentro do caixão? Vai ficar pesado ...
Não importa o que o outro esteja passando, o que precisa falar é o seguinte: ‘você tem duas formas de viver isso que está passando. Pode se entregar ao sofrimento, se lastimar, lamentar ou pode tentar resolver. Tem como resolver? Não. Quer se lamentar, se lastimar? Não. Então, tem que aprender a viver com a falta do que tinha’. É só isso.
É simples, mas tem um detalhe que não lhe deixa conseguir viver com essa simplicidade que, aliás, é o assunto que vamos conversar hoje.
Participante: eu entendi bem este lado do grupo, apesar de cada um ter sua religião, sua crença, todos estão em um meio em que se fala a mesma língua, que tem determinados ensinamentos como referência. Assim fica mais fácil. Agora uma pessoa que nunca ouviu falar sobre o Joaquim, que tem uma outra crença, como ajuda-lo? Como uma amiga que descobriu que está com câncer de mama e eu falei que iria tratá-la como se tivesse com uma doença comum, como gripe. As pessoas me taxaram como insensível. Eu não vou bajulá-la porque ela quer aquela atenção, aquela dó.
Se uma pessoa chegasse para mim dizendo que estava com câncer e se lastimando, aconselharia a dar um tiro na cabeça: é menos sofrimento. Se vai sofrer de agora até a hora da morte, morre agora logo. É melhor.
Agora, se você sabe que vai morrer daqui a dois, três ou quatro meses, a pergunta que precisa se fazer é a seguinte: vai perder o tempo que lhe resta sofrendo? Aproveite esse tempo ...
Procure cura, faça todo possível para se curar, mas compreenda uma coisa: a cura só vai acontecer, se tiver que acontecer. Se não acontecer, você vai morrer. E se vai morrer, preste atenção: você ainda está viva, tem um tempo para viver; por isso, aproveite-o.
É isso que precisa ser feito. É preciso chocar a pessoa que está nesse processo, porque ela acha normal sofrer, mas sofrer não é normal: é antinatural.
Participante: mas, depois você acaba vendo que a sociedade, os demais, ficam incentivando mais ainda o sofrimento. Quem é da sangha acaba se isolando porque o mundo deles é buscar o sofrimento, e acabamos nos afastando para não sofrer junto com eles.
Você deu o seu recado. Quer fazer? Faz. Não quer fazer? Não faz. O problema é deles; sofre quem quer.
Participante: uma coisa que estou tentando por na minha cabeça é que não somos responsáveis pelo sofrimento do mundo. Não conseguimos controlar o nosso, que dirá o dos outros, por mais amigos que sejam, filhos...
Participante: mas as pessoas esperam que você alimente o sofrimento deles. Se não der ...