Resumindo, a busca a Deus deve começar por se autoconhecer no sentido de ter consciência do que está afastado. Depois disso deve começar um trabalho para se aproximar do que se está afastado.
Participante: se entregar como, aceitar?
Já disse que não gosto da palavra aceitar, mas sim, aceitar.
Aceitar, por exemplo, que o terrorista, para cumprir seu papel dentro do teatrinho do planeta Terra, para questionar o bom que você vive, precisa cortar o pescoço de quem, por ação carmática, precisa e merece morrer daquele jeito. Precisa aceitar que essa ação é Deus.
Deus não é só a coisa boa da sua vida; Ele é tudo. Deus não é só as coisas boas do planeta; é tudo. Se for só o que é bom, pergunto: a quem pertence o que é mal? Será que você ainda acredita na partição do universo entre Deus e o Diabo?
Sendo assim, tudo aquilo que você considera mau, é Deus. Por isso para se entregar a Ele, tem que se entregar também ao que considera mal. Uma observação: entregar-se não quer dizer participar daquilo, não quer dizer achar certo; só quer dizer que não deve achar errado. É não colocar o bom como condicionamento para ser feliz.
Então, sim, existe um trabalho espiritual a ser feito. Ele é o trabalho de entregar-se a Deus. Só que essa entrega é muito maior do que se entregar aos anjos, aos santos: é preciso entregar-se também ao que não é bom.
Sobre o comungar com o inimigo, na Bíblia, Cristo diz assim: se um soldado inimigo lhe faz carregar uma tora por dois quilômetros, carregue duas por três quilômetros. Se alguém lhe pedir o manto, dê o manto e as vestes. Esse ensinamento quer dizer que precisa dedicar-se à entrega ao que não gosta muito mais do que àquele que normalmente se entrega.
Participante: isto também inclui aos nossos aspectos que nós consideramos negativos.
Sim. Aos seus e aos dos outros.
Buscar a Deus, já que falamos que não podemos esperar nada Dele e mesmo assim precisamos nos entregar a Ele, é começar a trabalhar muito seriamente o momento em que não está entregue a tudo que existe. Este, é o momento em que está contra a alguma coisa que existe e por isso, contra Deus.
Participante: é a história de ficar no momento presente?
Não. É a história de não separar o bem do mal.
A eterna luta do bem contra o mal não existe, pois o valor de bem ou de mal é individual. Se tudo vem de Deus, para se entregar a Ele precisa se entregar a tudo. Para isso precisa superar os seus valores individuais de bem e mal.
Volto a dizer: não se trata de compactuar com o que está acontecendo, mas parar de achar que aquilo é mal, parar de achar que aquilo é errado. Não é. Tudo que acontece está cumprindo seu papel dentro da peça Divina Comédia Humana, dentro da sansara dos espíritos.
Isso é se entregar a Deus. A mente diz que não, que para aproximar-se Dele deve se afastar do mal, repudiar o mal. Só que quando se afasta ou o repudia o mal, está se afastando de Deus, pois Ele é tudo, inclusive o que você classifica como mal.
O caminho é esse: viver com o todo. É o universalismo: ser um com todos, com tudo. Uno com tudo.
Esse é o trabalho da vida: se tornar um com o todo. Para isso é preciso não ser contrário a nada. Como diz o próprio Cristo: se você só abraça o seu amigo, o que faz de bem? Qualquer ateu faz isso. Quero ver é cumprimentar o seu inimigo.
Participante: o problema é difícil de ver as malas do Senador como um ato de Deus. Para mim essa forma de se portar está muito distante.
Pode ser que esteja distante para você, mas essa é a verdade, a realidade ensinada pelos mestres.