Participante: ainda nesse sentido, um exemplo: eu gosto de azul. Se outra pessoa falar que isso não é azul, não vou sofrer. E se eu for na casa de alguém que é tudo cor de rosa, ok. Digo que ela tem o direito de achar que é rosa, mas eu escolho o azul. Não sofrer com o externo e eu ainda ter minha particularidade de quando quiser usar o azul, porque essa cor me faz sentir bem, mas eu não imponho nada. Tem algum problema?
Nenhum. Você não sofreu.
Você tem o direito de ser quem é e tem que respeitar o seu direito. Você tem todo o direito de ser quem quer, só não pode exigir que o outro seja o que você quer.
Participante: é que as vezes me dá a impressão que eu tenho que estar justamente no lugar que é o contrário do que eu gosto só para me colocar em prova.
Sim. É preciso estar em um lugar que é exatamente o contrário do que quer. Para que? Para aprender a respeitar o outro, para fazer o trabalho que precisa fazer, que é acabar com seu vício. Mas, quando isso acontecerá? Quando estiver lá. Não se preocupe que estará sempre no lugar que precisar estar. O problema não é estar aqui ou acolá, mas onde estiver e houver outro que acha certo algo diferente, precisar que ele siga o seu certo.
O vício é a dependência da vida, não só do outro. Ele pode ser nutrido pelo que o outro faz, mas pode ser também uma chuva que inunda sua casa, uma ação da natureza qualquer que contrarie o que você acha bom ou certo. O gatilho do vício não interessa; o importante é compreender que não pode exigir nada da vida. Quando exige algo dela, é você que vai sofrer.
Enquanto gostar da cor que gostar, quiser o que quiser e não exigir da vida que ela aconteça como quer, não vai sofrer. Ainda será um egoísta, mas não terá o vício no egoísmo.
Se eu colocar isto tudo em paz, eu vou estar em paz comigo mesmo, eu vou estar em paz com o mundo. Que maravilha! As centenas de contrariedades que você vive por dia e não vai viver mais. Olha a diferença.
Participante: como eu sei que resolvi aquela contrariedade ou só sabotei, fingi?
Quando você não exigir que a coisa seja do jeito que quer. Quando não sofrer
Participante: por exemplo, minha filha fez alguma coisa e na hora aquilo me causou uma contrariedade, no momento fiquei brava com aquilo.
Ficou brava, falou tudo que tinha que falar ... Tudo isso faz parte da vida. Agora, você não vai ficar se lamentando, sofrendo pelo que ela fez. Faz parte do teatro da vida você ficar brava na hora.
Participante: no exemplo, você gritou com uma pessoa, na hora nem se ligou, mas depois ficou se culpando. Nesse caso havia uma intencionalidade. No caso dela com a filha também, se depois ficar se culpando. Explica isso.
Você é dependente de não brigar com sua filha para ser feliz. Só que pode brigar quanto quiser. Da boca para fora. O que não pode é ficar dizendo: ‘minha filha não presta, não faz nada certo, está sempre errada, tenho que muda-la’. Tudo isto é um sofrimento.
O fato de se culpar é dizer: ‘eu sou mãe, não posso brigar, tenho que aceitar tudo que minha filha fizer’” Não, isso não é real. Mãe tem que fazer o que fizer, mas o filho também tem o direito de fazer o que quiser.
A linha é essa: ‘eu gosto do azul e estou em uma casa que é toda cor de rosa? Estou. Não tem jeito. Vim aqui, estou aqui, a casa é cor de rosa, a dona gosta de cor de rosa, mas eu vou continuar gostando do azul e dar a ela o direito de gostar de outra cor’.
Agora se chegar para a dona da casa e questionar porque ela gosta da cor de rosa, mostrou sua contrariedade.
Participante: no meu caso que não gosto de barulho, quando acontece penso que está tudo bem, tudo é Deus, respiro fundo... Só que uma vez você falou: vai lá e pede para baixar a música ..
Você pode falar o que quiser. Falar é da boca para fora. Agora, não pode deixar a música alta lhe fazer sofrer.
É o mesmo caso das cores. Estou falando em nem ver diferença de cores ou de volume de som. Cor, seja ela qual for, na verdade é apenas uma cor. Não existe nem cor de rosa nem azul. O que existe é uma cor. Por isso você teria que viver com todas as cores.
Quando aceita as outras cores, mesmo gostando de uma específica, não há problema nenhum. O problema é quando gosta de uma e não aceita a outra. Aí gera problema para si.
Participante: mas se você cultiva, dá preferência a uma? Por exemplo: tenho duas festas para ir, uma é cor de roas outra é azul. Se eu for na cor de rosa, está tudo bem, mas se for na azul, não estaria alimentando ainda mais esta minha zona de conforto? Ou isso é perigoso?
Primeiro que você não vai: é levado. Os atos acontecem, independente da sua ação. Para ser feliz, você tem que se portar na festa de rosa da mesma forma que se porta na azul. Só isso.
Só que se você gosta do azul, a vida acaba lhe levando para a festa cor de rosa. Não tem jeito. É a mesma coisa: você troca de marido, mas o outro é igualzinho ao anterior.
Todo sofrimento surge quando você não se adapta onde está, com o que está acontecendo. Quando está naquele lugar, vivendo aquilo, exigindo que fosse diferente do que é.