Participante: Como podemos acreditar no que o senhor diz? Sua visão sobre as coisas deste mundo é completamente diferente daquela que temos como também é daquela que nos é trazida por outros espíritos.
Tudo que tratei aqui como realidade não é idéia minha, mas sim dos mestres. Repare que a cada assunto que comentamos citei ensinamentos que estão disponíveis nos livros sagrados, ou seja, naquilo que deveria servir como guia para os espiritualistas. O que fiz não foi criar novidades, mas apenas aplicar profundamente a visão destes ensinamentos na vida humana.
O problema não está no que eu falo, mas sim naquilo que você acredita. Se observar bem, para tudo que eu disse você conhece uma interpretação diferente. Esta interpretação é fundamentada no mesmo ensinamento que eu uso. Por que, então esta diferença de interpretações? Porque a humanidade cria dos ensinamentos realidades hipócritas, realidades que possam sustentar o sonho do feliz para sempre. Estas realidades são ilusórias porque não estão dentro do ensinamento dos mestres e são hipócritas porque os seres humanos que acreditam nela se dizem seguidores destes mestres.
Tudo o que você conhece como interpretação dos ensinamentos sagrados são criações de mentes humanas e por isso estão viciadas com o propósito de construir a idéia de que este é um mundo de satisfações e não de provações. Aliás, se você observar bem, verá que existem diversos ensinamentos dos ensinamentos dos mestres que são esquecidos pela mente. São ensinamentos onde não há como criar este direcionamento para eles.
Você por acaso ouve uma mente humana cristã falando da necessidade de despossuir apesar do ensinamento de Cristo que afirma que se deve dar tudo de seu aos pobres e segui-lo? Dificilmente. Por quê? Porque todos, mesmos os cristãos, estão mais preocupados em possuir para poder gozar a felicidade. Cristo também nos ensina que não se deve servir dois senhores ao mesmo tempo. Você ouve constantemente este ensinamento? Não. Por quê? Porque não há como se adequar o serviço a Deus e o sonho de ser feliz.
Nas ‘Bem Aventuranças’ da Bíblia você encontrará o seguinte trecho:
“Felizes são vocês quando os insultam, perseguem e dizem todo tipo de calúnia contra vocês por serem meus seguidores”. (Bíblia Sagrada – Evangelho de Mateus – Capítulo 5 – versículo 11)
Repare: não há como se casar este ensinamento com o sonho da felicidade para sempre. Isso porque Cristo ensina claramente: vocês serão felizes quando... Nesta frase há claramente a informação de que é necessário que o ser humano seja insultado, perseguido e caluniado para poder alcançar a bem aventurança. Como isso não se coaduna com o sonho de felicidade nesta vida (ser reconhecido e elogiado), as mentes ditas religiosas preferem omitir este ensinamento.
Aliás, isso fica bem claro que se continuarmos a ler o mesmo texto:
“Fiquem alegres e contentes, porque está guardada uma grande recompensa no céu”.
As mentes humanas religiosas não falam deste ensinamento porque priorizam o sonho de receber esta recompensa agora. Para o ser humano que não acredita haver algo em si além da matéria e que este algo vive um processo de provação para poder aproximar-se de Deus é até válido não se comentar isso, mas para quem acredita será? Quem é espiritualista deveria viver sua vida com o foco do receber a recompensa pelo seu trabalho na encarnação depois dela e não agora. Como não vive com esta idéia, prefere esconder o ensinamento, já que não há como adaptá-lo para justificar a busca do seu sonho.
Por isso, como Cristo fez, eu os chamo de hipócritas:
“Ai de vocês, professores da lei e fariseus, hipócritas! Pois são como túmulos caiados de branco, que por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de osso de mortos e de podridão. Por fora vocês parecem boas pessoas, mas por dentro estão cheios de mentiras e pecados”. (Bíblia Sagrada – Evangelho de Mateus – Capítulo 23 – Versículos 27 e 28).
Só um detalhe. Também assim como Cristo não falo deles com condenação, mas apenas como constatação. Eu não os acuso que são hipócritas, mas apenas mostro a hipocrisia que existe nas suas idéias.
As mentes humanas religiosas, portanto, fazem questão de esquecer alguns detalhes dos livros sagrados quando transmitem os ensinamentos a vocês e para aqueles que elas citam os usam criando uma interpretação de que há um mundo espiritual preocupado em servir à matéria, ou seja, em criar ações que possam resultar numa vida humana confortável sentimentalmente, materialmente e moralmente falando. Isso eu não faço...
Não faço isso porque sou mais evoluído ou porque seja melhor do que qualquer um de vocês. Não ajo assim porque este não é o meu trabalho, não é minha missão. Aquilo que fui incumbido de fazer é servir de instrumento para combater a hipocrisia da humanidade, principalmente no tocante à prática dos ensinamentos dos mestres.
Não faço, portanto, porque seja melhor do que alguém, mas porque não é esta minha missão. E se reconheço que cada um age dentro de sua missão e não dentro do seu querer ou capacidade, também não posso acusar outros seres universais que servem à criação das interpretações dos ensinamentos dos mestres que prendem os seres humanos ao sonho. Somos todos empregados do Senhor e cada um de nós contribui para a obra geral seguindo aquilo que Ele ordena que seja feito.
Quando digo estas coisas, também não estou querendo ser humilde, por ter conhecimento mais profundo ou algo parecido; trata-se apenas da prática dos ensinamentos dos mestres. Os dois trabalhos (o de criar os instrumentos do sonho e do despertar) são necessários, pois, como já vimos, a vida humana é uma encarnação onde o ser universal tem a oportunidade de optar entre duas coisas. Esta opção dá-se no mundo interior de cada um, ou seja, no íntimo de cada um.
A elevação espiritual, portanto, trata-se de uma opção entre duas possibilidades que o ser possua em seu íntimo. Como poderia haver uma opção se no íntimo só houvesse uma possibilidade?
Ao trabalho de optar por aquilo que seja mais condizente com a realidade e assim aproximar-se de Deus a mente humana deu o nome de ‘reforma íntima’. Promover a reforma íntima é alterar em seu íntimo aquilo que lá está. O que os espiritualistas reformam se só seguem o que todo ser humano segue? O que eles reformam se continuam como os seres humanos materialistas aprisionados à idéia de que a vida foi feita para que ele conseguisse aqui a recompensa do seu trabalho? O que eles reformam, se como todo ser humano materialista os espiritualistas não reconhecem a necessidade da presença da vicissitude em suas existências corpóreas?
É como Cristo ensinou:
“Se vocês amam somente aqueles que os amam, por que esperam alguma recompensa de Deus? Até os cobradores de impostos amam aquele que os amam! Se vocês falam somente com os seus amigos, o que é que fazem de mais? Até os pagãos fazem isso! Portanto, sejam perfeitos em amor, assim como o perfeito Pai de vocês, que está no céu”. (Bíblia Sagrada – Evangelho de Mateus – Capítulo 5 – Versículos 46 a 48).
A missão do grupo espiritual ao qual estou ligado, portanto, é proporcionar uma oportunidade do ser encarnado ter em seu íntimo um elemento para optar diferente daquele que já possui. Não se trata de verdades ou coisas certas, mas apenas mais um elemento que pode ou não ser escolhido. Aliás, nada do que você ouviu aqui é verdade. Se, como já disse, tudo o que você ouve é uma criação da mente, por este método não posso lhe transmitir verdades.
Tudo o que você ouviu aqui e durante todo o tempo em que conversamos não são verdades, mas mais uma alternativa de vivência da vida que sua mente criou. De qualquer forma, pouco importa se elas são verdades ou não, porque o que interessa não é no que você acredita, mas na forma como vivencia cada consciência que tem. Se você acreditar que eu lhe disse a verdade e viver isso dentro da expectativa de conseguir um feliz para sempre, tudo o que falei se transformará em instrumento do seu sonho. Por isso disse anteriormente a quem me perguntou se vocês eram hipócritas por estarem vindo aqui ouvir essas coisas: você só será hipócrita se sair daqui pensando que o que ouviu poderá ser vir para a sua felicidade plena.
Desde nosso primeiro contato com os seres humanos deixamos bem clara uma coisa:
“... levamos ao conhecimento de todos que não estamos aqui como uma nova religião. Estamos aqui como humildes servidores apenas para procurar auxiliar na fusão de todas as religiões do planeta sob uma única aspiração : AMAR A DEUS ACIMA DE TODAS AS COISAS”. (Primeiro Manifesto do EEU).
Não somos donos da verdade, mas apenas instrumentos de informações que podem lhe levar a optar pelo não viver o sonho que a mente cria. Como fazer isso sem mostrar as hipocrisias com as quais vocês convivem diuturnamente? Prendendo-me aos mesmos valores que você já tem, ou seja, corroborando o que outros ensinam o que pode ser reformado? Nada...
A minha responsabilidade, então é mostrar àqueles que se dizem espiritualistas a hipocrisia que vivem, ou seja, a diferença entre as compreensões que a mente cria e os ensinamentos que dizem acreditar. Agora quanto a acreditar no que eu digo ou praticar o que falei, de quem é a responsabilidade? Sua...
Respondendo-lhe, então, como você pode acreditar no que digo? Acreditando... Se não acreditar? Não acreditou... Não se esqueça: o espírito tem sempre o livre arbítrio, a livre opção de acreditar numa em outra coisa.
Por reconhecer esta liberdade de opção é que meu trabalho gera uma segunda característica. Você pode ouvir tudo o que foi dito e nada fazer no sentido de despertar. Se isso acontecer imagina que eu vou chamar a sua atenção? Imagina que Deus vai lhe castigar? Claro que não...
O livre arbítrio, ou seja, a liberdade na hora de optar entre sonhar ou estar acordado é um dom divino, é algo dado pelo Pai a todos os seus filhos. Seria Ele hipócrita se desse a cada ser o direito de optar e depois exigisse que você optasse sempre por um dos lados. Sendo assim, o Pai não dirige a sua escolha. Iria eu dirigir ou cobrar determinada escolha se nem o Pai faz isso?
Sabe o que estamos fazendo verdadeiramente? Abrindo o palco. Estamos descortinando mais elementos que existem no palco da ‘Divina comédia humana’ que vocês não vêem porque a mente não dá uma interpretação espiritualista aos acontecimentos da vida, mas prefere viver no sonho hipócrita.