Aproveitando nossa conversa de hoje, me permitam falar uma coisa.
O que é dual? O que é dualismo? Vocês poderiam dizer que dual é algo que existe como um par de opostos. Isso, no entanto, é ilusão, uma visão estreita da realidade.
Não só os pares de opostos são dualistas. Toda e qualquer divisão de alguma coisa é dualismo. Vocês acham que magro e gordo é um dualismo, mas ainda existem o pouquinho mais magro, o bem magro, um pouquinho mais gordo, está no ponto certo, etc. Todas essas referências fazem parte do dualismo e não apenas as duas pontas.
O dual não existe apenas pelas duas pontas, mas é formado por uma escala de valores. Por isso, o termo para falar disso não deveria ser dual (dois), mas múltiplo.
Só que não importa se você chama de dual ou de múltiplo, tudo que é formado por mais de um, é ilusão. Por quê? Porque no universo real tudo é unidade, é uno. No universo só existe uma única coisa e não a multiplicidade.
Sendo isso verdade, não pode haver gordo, magro, menos magro, mais gordo. Para atingir a essa realidade, no entanto, precisamos acabar com a ideia de peso. Se houver peso, tem que haver dualismo, pois é uma escala que existe em multiplicidade.
No universo não pode haver dor ou alegria. Havendo, inevitavelmente haverá uma escala de dor e alegria. Tudo que existe em escala é múltiplo e por isso preso a questão da dualidade. Ou melhor: é não uno.
Melhor do que usar a palavra dual ou múltiplo é usar o termo não uno. A própria ideia da existência de uma multiplicidade já nos atrela ao dualismo, pois tudo que é múltiplo é dual. Não se deve trabalhar nem com a ideia da existência da unidade, pois essa própria ideia já é dual, pois quando admito existir a unidade é porque acredito que existe uma não unidade em algum lugar. Se não existisse essa não unidade, para que dar o valor de unidade para alguma coisa?
Dessa conversa toda o que quero é que entendam o seguinte: tudo que vem da mente, tudo que é racional, é fundamentado na não unidade, enquanto que o universo é uno. Entenda isso e compreenda que você não pode transformar o seu ego em uno, trabalhando com a unidade de tudo. Você não pode jamais unir seu ego ao universo porque? Porque ele só sabe trabalhar com a multiplicidade. Por isso, a única coisa que pode fazer é entender que tudo que ele cria é ilusão.
Aliás, a primeira obra da razão que gera a multiplicidade é a ideia da existência de um eu independente do outro, do mundo. Existem algumas ideias corriqueiras no mundo humano como uma que foi dita aqui há alguns minutos: o eu divino. O eu divino não pode existir, pois a sua existência obrigatoriamente geraria um eu material.
‘Então, existe o eu, Joaquim’, vocês podiam perguntar. Respondo: que eu? Para existir um eu independente do todo teria que haver outros eus. Pronto, acabou a unidade.
Portanto, se não pode levar o seu ego à unidade, deve entender que tudo que está nele é não uno, ilusão. Por isso deve silenciá-lo, não dar voz a ele. Por isso, volto a repetir – e é a terceira vez que falo hoje isso: o único trabalho que você tem que fazer durante a vida humana é silenciar, não dar voz à razão. É deixa-la continuar falando e você dizer a si mesmo que nada daquilo é verdade.