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É preciso ter muito cuidado ao ouvir o assunto que vamos tratar hoje porque vamos enfrentar algo que a mente humana considera muito importante, que ela considera fundamental para a vida. Por isso gostaria que lessem com muita atenção e por isso, também, vou começar nossa conversa repetindo um recado que já dei em outras conversas: estou falando a espiritualistas, àqueles que sabem que existe algo além da matéria e que querem viver para este algo. Se você não quer viver para este algo, o que vamos falar hoje é um assunto que não lhe diz respeito. Isso é fundamental para ter contato com esta conversa, pois quem não quer viver para este algo vai se chocar muito com o que vou dizer hoje.
Para o espiritualista não existe ser humano: existe ele, aquele que vocês antigamente chamavam de espírito. Para o espiritualista não existe vida humana, mas uma encarnação, uma sucessão de acontecimentos que são subordinados à vicissitude, ou seja, alternância de situações que servem como prova para que ele tenha a oportunidade de optar entre o bem e o mal e assim aproximar-se de Deus ou não.
Levando em consideração estas informações que já comentamos ao longo de outras conversas, descobrimos algo: não existe o mundo humano. Não existe a rua, a sua casa, o seu emprego, o seu país. Não existe nem existe o planeta. O que existe externamente à você é simplesmente um cenário onde acontecimentos se desenrolam. Para o espiritualista este cenário é criado pelo Senhor do Carma (Deus) através do seu faça-se usando da sua prerrogativa de gerador primário de tudo o que acontece.
Esta introdução para o tema de hoje é fundamental, pois vamos de falar de um assunto difícil, de uma unha encravada dos humanos. Vamos falar dos governantes, das pessoas que têm autoridade para governar.
Hoje no país de vocês e em outros e também durante toda a história, qualquer que seja o governante nenhum deles alcançou a unanimidade. Nunca na história houve um governante que tenha sido unanimemente declarado como um grande governante pela população de um lugar. Em qualquer tempo sempre existiram aqueles que são a favor e outros que são contra a qualquer um que esteja no governo, mesmo que os que estejam de um dos lados seja minoria.
A partir disso pergunto: o que leva um grupo de ser humano a ser a favor ou contra o governante? A resposta é muito simples: o ganhar. Todos aqueles que de alguma forma ganham com a ação de um governante são a favor dele; todos os que acham que perdem alguma coisa, são contra ele.
Observando isso chegamos à primeira conclusão deste tema: a avaliação de um governante é individual. O governante será bom ou mal para cada ser humano de acordo com o atendimento do egoísmo de cada um. Sendo ele atendido, o ser humano é a favor; não sendo, é contra o governante.
Este é um aspecto que o ser humano não leva em consideração. Ele não entende que o julgamento de um governante não tem nada a ver com a situação do país, com o que faz, mas é gerado apenas no interesse individual de cada um. Vou mostrar isso na prática…
Vocês lutam para ajudar os pobres coitados que não têm onde morar. Quando eles invadem um terreno e o governante manda expulsá-los, vocês consideram isso um absurdo e acham que o governante não agiu com justiça. Mas, eu pergunto: e se o terreno for seu, achará o mesmo absurdo? E se os sem tetos baterem à sua porta e quiserem dividir a sua casa com eles, vocês acharão o mesmo absurdo retirá-los? Claro que não. Ou seja, quando o governo age para defender o patrimônio de outra pessoa não presta, mas quando é você que pode perder, não acha a mesma coisa.
Outro exemplo. Vocês criticam os governantes corruptos, mas será que alguém está disposto a abrir mão de subornar um guarda para não pagar uma multa? Alguém está disposto a não sonegar impostos para que o governo tenha mais dinheiro e possa fazer o que você quer que ele faça? Acho que não, porque neste momento você sai perdendo…
Outro detalhe. O governo muitas vezes não pode fazer alguma coisa porque não tem dinheiro. Na verdade todo governo tem dinheiro, mas tem outros gastos. Um dos grandes gastos do governo é com a folha de pagamento daqueles que trabalham para ele. Você já viu algum sindicato pedir ao governo para mandar embora funcionários para que o governante tenha mais dinheiro para construir escola ou posto de saúde? Acho que não.
Essa é a prática. Quando o acontecimento é uma perda para os outros, vocês atacam o governante, mas se quem vai perder é você, neste caso o governante está certo em agir. Quando é para defender interesses seus, vale a pena agir contrário ao que cobra dos outros.
Quando falo do que não fazem, não estou criticando ninguém. Sei que cada um segue o roteiro que está pré-programado para a sua encarnação e por isso jamais alguém erra. O que estou querendo mostrar e deixar bem claro é que a mente é hipócrita, ou seja, utiliza-se de argumentos que são tratados como certo, para o bem comum, quando na verdade só está querendo obter vitórias e lucros individuais e não aceita de maneira nenhuma perder…
É isso que precisa ficar muito claro para o espiritualista. Se a sua mente possui razões para criticar o governo, por mais que sejam tornadas confiáveis estas razões, no fundo ela está usando de uma hipocrisia para poder gerar uma ideia egoísta com uma capa brilhante. Age assim para que você aceite a ideia e torne-se egoísta compactuando com o egoísmo que ela propõe.
Por isso, o espiritualista, aquele que sabe que não existe ser humano e nem mundo humano e que as histórias e o cenário deste mundo são apenas enredo que geram as vicissitudes necessárias para que ele tenha a sua prova, não se deixa levar por estas questões. Quando a mente lança argumentos hipócritas baseando-os na ideia com a preocupação com o bem comum, o espiritualista não compactua com a consciência que é gerada.
Não estou falando que o ser espiritualista não pode participar de manifestações, que não grite contra o governo. Isso é ato e pode acontecer desde que o enredo que gerará as vicissitudes da sua encarnação precise dele. O que estou dizendo é que esse ser não aceita quando a mente diz que o governo, seja qual for, faça o que fizer, é o responsável pela sua desgraça. Isso precisa ficar claro para entendermos o relacionamento do espiritualista com os governantes.
Vou falar outra coisa a respeito da hipocrisia da mente. Muitos religiosos, entre eles espiritualistas, esperam a volta do Cristo. Vivem esta espera porque acham que quando isso acontecer toda iniquidade acabará. Toda opressão dos governantes, todos os desfeitos e mal feitos se acabarão como um passe de mágica, pois quando voltar Cristo os enfrentará.
Desculpem, mas quem acredita nisso está perdendo o seu tempo. Se ele voltasse não faria isso. Faço esta afirmação não porque seja amigo íntimo de Cristo, mas porque a história prova que não.
Quando houve a encarnação Jesus Cristo o que o povo daquela época (os judeus) esperava é que ele fosse contra os romanos, que eram os governantes de então. Os judeus esperavam um messias, um homem que fosse libertá-los do jugo dos romanos assim como Moisés tinha os libertado da escravidão no Egito. Mas, Jesus cristo jamais mexeu uma palha contra o governo romano. Ao contrário…
Em sua missão, Jesus Cristo curou parente de senador, empregado de oficial romano. Além disso, deixou bem claro que não interferiria na questão da ação do governante de então quando afirmou que se deve dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus e mandou pagar o imposto dele em dia.
Ele nunca foi contra os opressores, aqueles que escravizavam e tiranizavam o povo daquela época. Por isso, se voltasse agora, não poderia ser contra quaisquer governantes que aja da mesma forma que os daquela época agiam… Esse é um detalhe que nós que estamos buscando aproveitar as oportunidades para nos aproximarmos de Deus precisamos levar em consideração quando a mente cria a ideia de atacar os governantes.
É por conta desta forma de ser de Jesus Cristo que Paulo afirma numa das suas cartas: todos devem respeitar os governantes porque eles foram escolhidos por Deus. O que o apóstolo que compreendeu os ensinamentos no mais alto céu quis dizer é que não se deve ir contra os governantes, pois eles são o agente carmático específico para gerar o que os espíritos que encarnam naquele país precisam para viver.
Estamos falando novamente de um assunto que abordamos na última conversa. Como nós vimos na pergunta 132 de O Livro dos Espíritos, há mais uma função que os espíritos exercem durante a sua encarnação: eles tomam um corpo de acordo com o mundo que vão viver e lá, sob as ordens de Deus, agem contribuindo para a obra geral. É isso que estou falando agora…
O seu governante, seja em que esfera for, não age da forma que age porque quer, porque é ganancioso, porque é maldoso, porque quer simplesmente ganhar: age do jeito que age para que o país, o estado ou a cidade, enfim aquilo que ele governa, tenha a vicissitude que precisa para a prova dos espíritos que estão naquela comunidade. Essa é a visão do espiritualista da função do governante, da sua forma de agir.
É a partir dessa visão que o espiritualista pode enfim libertar-se da formação mental que é gerada quando esse governante faz alguma coisa que aparentemente leva este ser a perder, a não ganhar. Usando este corrimão, apoiando-se nesta visão do mundo, que é uma visão passada a partir de um olhar de cima para baixo, da realidade espiritual para o acontecimento humano, que o espiritualista consegue, então, continuar sua caminhada no sentido de aproximar-se de Deus.
Como disse no início é uma visão chocante para o ser humano comum. Este ainda acha que a salvação do planeta depende dele ou de qualquer outro ser humano. Esta visão não é errada, pois a partir dela alguns acontecimentos vão surgindo e as provas vão sendo criadas. Para o espiritualista, no entanto, não é algo a ser compartilhado, pois ele não se preocupa em salvar o mundo, mas a si mesmo.
A questão de salvar o mundo ainda será abordada em outras conversas que teremos. Por enquanto fica apenas a orientação ao espiritualista de que ele não deve comungar com as críticas que a mente gera para os governantes, como não deve também, comungar aos elogios aos mesmos governantes, quando o que ele fazem está bom para ele.
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