Jesus continuou: se o mundo odeia vocês, lembrem-se que me odiou primeiro. (João, 15, 18)
Alguém já ouviu essa frase – se o mundo odeia vocês, lembrem-se que me odiou primeiro – como ensinamento de Cristo? Acho que não, pois ela muitas vezes é esquecida por aqueles que ensinam o que o mestre disse. Mas, nem por isso deixa de ser verdade.
Atentando-nos aos acontecimentos da encarnação Jesus Cristo, no entanto, veremos que ela é uma verdade líquida e cristalina. Ele foi odiado pelos romanos, pelos senhores do Cinéreo e pelo próprio povo judeu, que o preferiu a Barrabás.
Mas, isso foi no passado. Será que no presente a humanidade odeia Cristo? Respondendo, diria que ela afirma amar o mestre, mas odeia os “Jesus Cristos”, ou seja, aqueles que vivenciam durante a vida humana os ensinamentos do mestre.
É nesse sentido que estou falarei a respeito da hipocrisia que vive os religiosos que se comportam frente aos acontecimentos do mundo como seres humanos comuns. Esta hipocrisia se reflete exatamente na frase que disse acima: a humanidade diz que ama Cristo, mas odeia os “Jesus Cristos”.
Sabe por que isso? Porque a humanidade afirma que ama Cristo, mas odeia aqueles que quebram as leis. Os seres humanos dizem que amam Cristo, mas são os primeiros a acusarem, julgarem e condenarem aqueles que são pegos em flagrantes delitos. Mas, Cristo não fez isso.
Quando a mulher adultera lhe foi apresentada, Cristo disse: quem não tem pecado que atire a primeira pedra. Quando ninguém mais ficou ele disse: se ninguém lhe condena, não sou eu que vou lhe condenar.
Portanto, para se portar como Cristo, os seres humanos deveriam eximir-se de julgar qualquer um, mesmo aqueles que fossem pegos em flagrante delito. Mas, o mundo detesta os “Jesus Cristos” e por isso chama de fraco, inconsequente e outros adjetivos pejorativos aqueles que não cumprem a obrigação de julgar, acusar e condenar quem erra.
A humanidade diz que ama Cristo, mas odeia aqueles que, como o mestre, não seguem rigorosamente a lei humana. Acontece que aqueles que se eximem de culpar os outros (os “Jesus Cristo” ou aqueles que buscam o caminho que leva a Deus) praticam o perdão, o que, aliás, foi ensinamento do mestre e serve como caminho para Deus: Pai perdoa, eles não sabem o que fazem.
Apesar do mestre ter ensinado assim e a humanidade dizer que quer segui-lo, ela não quer perdoar. Diz que ama Cristo, que o aceita como legítimo guia e pastor, mas não quer praticar o perdão que ele ensinou. Prefere julgar, condenar e acusar a todos. Pior, quem não segue estas premissas é chamado de bobo, de otário.
Mas, se a humanidade diz que busca a Cristo, deveria, não digo nem aclamar aqueles que buscam viver como Cristo, mas pelo menos não os odiar. Deveria, pelo menos, não os taxar com palavras que demonstrem menosprezo.
A humanidade diz que ama Cristo, mas o ser humano, mesmo os que se dizem cristãos, estão preocupados com o que vão comer e vestir hoje. Cristo nunca teve esta preocupação.
Cristo dizia: se Deus dá o alimento aos bichos e dá roupa às flores, porque eu vou me preocupar com isso? Apesar deste ensinamento, a humanidade ainda se preocupa e, para aqueles que vivem do jeito que deveria ser o ideal de todos os que dizem que buscam seguir a Cristo, existe a acusação de serem alienados. São menosprezados, considerados bobos.
A humanidade diz que ama Cristo, mas se preocupa não só com o que vestir, mas como se vestir. A humanidade preza muito mais a aparência física do que o interior. Preza ver se está arrumado, limpo ou cheiroso.
Esquecem-se do que Cristo afirmou: ai de vocês que lavam o copo e o prato por fora, mas por dentro estão cheios de coisas que vocês conseguiram pela violência e pela ganância. Para descrever aqueles que se preocupam com o exterior Cristo fez a seguinte comparação: são como túmulos caiados de branco, que por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos mortos e de podridão…
Se estes chegassem perto de Cristo não iam se sentir confortáveis, pois o mestre não era de se preocupar muito com estas coisas. Sabe, aquela imagem do manto sempre branco é apenas uma figura. Isso porque Cristo andava no meio do deserto. Sendo assim, no mínimo o seu manto era coberto de pó.
A humanidade diz que ama Cristo, mas aqueles que não cumprem os rituais religiosos, são colocados na cruz. São acusados de hereges, de pagãos. Mas, Cristo nunca cumpriu um ritual religioso de sua época. Pior, quebrou todos…
Cristo se alimentou e fez cura nos sábados. Expulsou os vendedores do templo, o que era aceito pela doutrina religiosa de então. Foi contra as bases doutrinárias dos professores da lei, falando em amor e perdão…
Sabe, hoje é muito fácil para vocês não cumprirem as leis religiosas, pois elas foram adaptadas para servir à humanidade. Mas, naquele tempo não. Era tão complicado não se seguir a religião oficial dentro de todos os parâmetros que ela continha, que Cristo foi crucificado justamente por isso.
A humanidade diz que ama Cristo, mas tem como objetivo principal na sua vida realizar-se materialmente. Está preocupada em estudar, em se formar numa boa faculdade para poder arrumar um emprego melhor para ganhar mais dinheiro e ter mais ascensão.
Cristo nunca teve essa preocupação. E se ele é o caminho a verdade e a vida e só através dele se chega a Deus, aquele que ama o mestre não deveria ter estas preocupações, não deveria ter esses objetivos como primários na sua vida.
É isso que Cristo afirma quando diz que a humanidade o odiou. Só que ela não o odiou apenas naquele tempo, mas continua odiando-o até hoje através daqueles que seguem os seus ensinamentos.
Continuam criticando, acusando, chamando os seguidores de Cristo de não evoluídos. Isso porque a humanidade continua presa a um padrão de evolução que não foi a que o Cristo ensinou. Eles ainda continuam querendo exercer o poder de ser, estar e fazer, enquanto Cristo dizia: Senhor honra seu nome através de mim.
Aí está o problema: a humanidade diz que ama Cristo, mas não quer mudar a forma humana de viver. A humanidade, para poder se dizer seguidora de Cristo, precisa alterar os valores da sua vida. Aliás, o próprio mestre deixou isso bem claro: eu não vim trazer a paz, mas a espada. Enquanto você não abandonar suas paixões humanas, pegar a sua cruz e me seguir, não serve para mim.
Não adianta se dizer seguidor de Cristo e querer levar uma vida humana igual a dos outros, porque não se chega, espiritualmente falando, a lugar algum. Só se chega à elevação espiritual através do exemplo deixado por ele, pois eu sou o caminho a verdade e a luz; ninguém chega a Deus a não ser através de mim.
Esta sentença proferida pelo mestre quer dizer que ninguém chega a Deus a não ser vivendo a vida como ele viveu. Por isso a vida daqueles que querem se dizer seguidor de Cristo tem que ter como objetivo primário a mesma intenção que o mestre teve: vivenciar a cada momento a glória do Pai sem se preocupar com os acontecimentos materiais.
Mas, a humanidade odeia Cristo, odeia os “Jesus Cristos”: odeia aqueles que não se preocupam com os elementos materiais de sua vida. Aliás, a vida “Jesus Cristo”, ou seja, aquilo que deveria ser o objetivo primário de ser vivido por um espírito encarnado, é a antítese de tudo o que a humanidade sonha para si. Isso porque o fundamento da vida humana é alcançar a glória material (estar certo dentro dos padrões humanos), a fama (ser reconhecido como um ser humano adaptado às realidades humanas) e a felicidade material.
Participante: porque a sociedade hoje é tão individualista se a Terra está mudando para o Mundo de Regeneração. Não era para ter uma evolução com relação ao universalismo?
Não. Era para piorar mesmo, porque a quem muito foi dado, muito será cobrado.
Repare: se a prova de um espírito é vencer o individualismo, quanto mais se aproxima da prova final, mais individualismo tem que vivenciar. O individualismo precisa hoje lhe chamar mais fortemente, precisa lhe tentar mais fortemente, para que você esteja sempre fazendo provas dentro do seu nível de elevação…