Participante: no último trabalho espiritual que participei, percebi de forma mais clara que existe em mim uma consciência que quando se manifesta consigo atravessar os momentos de dor e dificuldade com mais suavidade. Aquilo que antes era muito difícil suportar torna-se mais fácil. É como se fosse possível estar separado de si mesmo acolhendo a própria dificuldade. Seria esse o nosso objetivo: aprender a carregar a cruz sem sentir o seu peso, aprender a sentir a dor sem deixar essa dor alcançar o nosso âmago? Acredito que seja esse o sentido das palavras meu jugo é leve e meu fardo é suave.
Não, não é o sentido dessas palavras.
O caminho é esse: aprender a viver aquilo que, vamos dizer, lhe faz mal, sem se sentir mal. Aprender a viver aquilo que sente falta, sem sentir falta. Aprender a viver com aquilo que acha errado, sem sofrer por causa do erro. É isso. O caminho é esse.
Agora, o meu jugo é leve não é nesse aspecto. Quer dizer que não existe na doutrina ensinada por Cristo obrigação de nada.
A religião é fundada em obrigações criadas a partir do ensinamento do mestre. Por isso ele mesmo diz: ai de vocês professores da lei, fariseus e hipócritas.
A religião tem obrigações, mas a doutrina do Cristo não tem. Quando ele fala que é preciso perdoar nem sete nem setenta, mas setenta vezes sete, retira o peso, a obrigação de ter que fazer, ser e estar, de cima de vocês. É isso que é tirar a canga, tirar o peso do ter que fazer a partir de uma norma determinada o que é preciso ser feito.
É também por conta dessa característica do ensinamento do mestre que Paulo fala: Cristo nos trouxe a verdadeira liberdade. Aquele que realmente segue o ensinamento do Cristo, é livre. Não se sente obrigado a nada. Quando fez, fez, quando não fez, não fez. Parece um peto velho que eu conheço, né?
Esse é o jugo leve: a doutrina que lhe mostra um caminho sem obrigações, nem de fazer o caminho. O jugo leve é uma doutrina que contém ensinamentos que levam a bem-aventurança, mas que não são obrigatórios fazer. É isso que o Cristo ensina quando fala do jugo leve. Com relação à sua pergunta, então, o caminho é exatamente esse: aprender a viver a vida de tal jeito que a dor não doa.