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Segundo ensinamento desse versículo: aquele que vive a Unidade com Deus não conhece prazer nem dor.

Aparentemente esse ensinamento é muito claro, pois aquele que alcança a elevação espiritual não vive essas emoções. O fim do aprisionamento às verdades leva ao não condicionamento da felicidade. Quando não há verdades e desejos não há nada para ser contentado ou atacado e por isto o prazer e a dor se extinguem, dando lugar à felicidade incondicional.

Mas, Dattatreya vai mais além: o ser universalizado também não conhece ninguém que sofra do prazer ou da dor.

Aí está um conhecimento muito profundo que precisamos entender, pois fere frontalmente aquilo que os seres humanizados chamam de compaixão.

Quando alguém age contrariamente ao que você deseja, seu ego lhe leva à conclusão que esta pessoa não teve compaixão (piedade), ou seja, não se preocupou com o sofrimento que poderia causar. Agora, analise comigo: piedade do que, do seu prazer?

Aquele que afirma que o contraria não teve dó do seu prazer, mas não de você mesmo. Ele agiu contrariamente aos seus interesses ilusórios criados pelo ego através das suas verdades, mas não contra você, o espírito universal.

Quando o mestre ensina que o ser unido com Deus não reconhece ninguém que tenha prazer ou dor, é porque está unido com o ‘eu celeste’ que existe dentro do ser humano e não ligado às paixões humanas que nutre. Está afirmando que aquele que alcança a elevação espiritual não reconhece verdade nenhuma que precise ser acatada nos mayas dos outros. Por isto não se preocupa em satisfazê-las.

Aquele que vivencia a realidade universal não se sente obrigado a atender o desejo humano do outro, mas esforça-se para servi-lo amando-o de uma forma universal.

Esse amor está longe de buscar satisfazer as vontades humanas do ser, mas ama, como Cristo ensinou, como o Pai ama a seus filhos. O objetivo do amor divino é sempre proporcionar oportunidades para que o ser se eleve espiritualmente, ou seja, que abandone o seu individualismo e vivencie o universalismo. Este também é o sentido do amor daquele que conseguiu viver na sua essência celeste.

Sempre que participa de uma ação (acontecimento), aquele que se libertou dos condicionamentos da felicidade, vive este amor sublime, sem se importar se nas atitudes que pratica se reflete uma compaixão pelas paixões humanas do próximo. Ele sabe que Deus o dirige e o utiliza como instrumento para proporcionar ao próximo uma oportunidade de libertar-se de suas verdades e por isto não sofre se por acaso suas atitudes forem contrárias a elas.

Você pode ir contra o desejo do próximo com amor. Quando age sem julgar ou criticar a si ou ao próximo e quando não se vangloria do que praticou, ou seja, quando participa dos acontecimentos com outra intencionalidade que não servir a Deus, você, apesar de ter agido contrário às paixões do próximo, o fez com amor universal. Quando, no entanto, a sua intenção for atacar as verdades do próximo, ou seja, agir com a intenção de provar que está certo, agiu sem amor.

NOTA – Agir sacrificando a sua intencionalidade individual a Deus é um ensinamento de Krishna a Arjuna no Bhagavad Gita.

O ser que age sem intenções não objetiva nada: “eu fiz isto, mas não sei porque fiz”. Esta é a diferença entre aquele que causa com amor o que o outro não gostou e aquele que faz para atender a seus desejos: o objetivo com que se vive, a declaração expressa de saber o que está acontecendo e o porquê das coisas.

O que separa as duas formas de viver (com ou sem intencionalidade) é uma linha muito tênue que o ego explorará para que você se critique e sofra, dando a ele o alimento que precisa: sua dor ou seu prazer. No entanto, nem com isto você deve se preocupar.

A intenção não é colocada no momento que se pratica o ato porque neste você age instintivamente (faz o que Deus comanda), mas sim depois. Quando acontece o raciocínio sobre o que está acontecendo, durante ou depois do fato, é que o ego vai tentar lhe pressionar para colocar uma intenção de glória ou de autoacusação.

Rejeite as duas opções. Não se acuse de ter sido o instrumento da situação que o próximo não queria vivenciar e nem se glorifique por isto. Aja de forma equânime independente do que está acontecendo e terá realizado o trabalho sem intenções.

Portanto, não se preocupe em tentar compreender se agiu “certo” ou “errado”, com intenção ou sem ela, mas lute contra esta análise declarando expressamente que não sabe afirmar com certeza isto. 

 Agora o que precisa ter é a consciência de que não deve se apegar às preocupações materiais dos outros, atender aos seus desejos humanos. Mesmo que o que esteja acontecendo com a sua participação sirva de instrumento para ferir as paixões ou desejos do próximo, você não deve preocupar-se em satisfazê-las, mas sim em eliminar a sua intenção.

Você não pode se preocupar se aquele que está recebendo a sua ação está se sentindo “mal” com a situação. Como espírito elevado você não deve se preocupar se a situação está “ofendendo” ao outro ou não, porque senão estará servindo ao ego daquele ser e não a ele mesmo.

Pergunta: mas preocupar-se com a felicidade do próximo não é amá-lo?

Não. Se você se preocupa em atender os requisitos de felicidade dele não o está amando, mas satisfazendo-o.

O verdadeiro amor ao próximo se exprime quando você age sem intencionalidade, sem fazer qualquer coisa por vontade própria, sem levar vantagem individual alguma. Para isto não pode “ganhar” o sofrimento ou o prazer, ou seja, não deve se desarmonizar de Deus com o que está acontecendo.

Vivencie o ato unido a Deus, ou seja, vivencie o que está acontecendo sem querer agir materialmente. Se no decorrer do ato aquilo que o próximo não está gostando se alterar é porque se alterou, mas se isto não acontecer, não se perturbe. Não se preocupe em agir de determinada forma, mas em amar, em permanecer ligado a Deus, ou seja, ao que está acontecendo com amor.

Se você se preocupar em mudar o acontecimento para satisfazer o próximo não estará unido a Deus e por isto não pode servir ao próximo, mas estará ligado ao ego do outro que o domina a ponto de imaginar que seja ele mesmo. Você estará servindo a uma verdade individual e o máximo que conseguirá levar àquele é uma satisfação.

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