Participante: é tanta coisa, fazer coisas para o outro: cuidar dele, ajudar, servir. Me parece uma hipocrisia, uma grande palhaçada.

Pare! Volto a dizer: você está, como sempre digo, preocupada com o ato.

A hipocrisia não é ajudar o outro, ajudar o próximo não é uma grande palhaçada. A grande palhaçada é imaginar que possa ajudar o outro.

Participante: digo isso porque nós somos os nossos grandes inimigos. Por isso, temos que fazer isso por nós mesmos.

Pare novamente.

Você pode sim, ajudar o outro. A quê? A fazê-lo entender que ele é um grande inimigo dele.

Você não pode fazer nada no sentido amoroso, carinhoso, paixão, irmão, meu amigo, etc. Isso não dá, isso é hipocrisia e palhaçada, pois na hora que ele pisar no seu dedo, acabou o amor, a pena dele.

Apesar disso, pode ajudar o acordando. Diga: pare, saia desse sonho que está vivendo.

Vocês não vivem a vida, vivem um sonho. É por isso que algumas doutrinas usam termos como acordar, despertar para a busca espiritual.

Sim, vocês estão vivendo um sonho. A vida de vocês, a vida em que vivem, é uma fantasia, fantasiam tudo. Mas, por que fazem isso, por que fantasiam a vida?

Antes de responder, deixem-me falar uma coisa. Acho que a maioria de vocês me conhece e sabe que não estou acusando ninguém de nada. Estou falando alto para poder ser gravado, não brigando. Falo de uma forma positiva para mexer na base das estruturas de vocês. Se eu ficar falando baixinho e dengoso, vocês embarcam no sonho de vez.

Portanto, é preciso acordar. Como se acorda uma pessoa que está histérica? O melhor remédio é dar um tapa. Não como agressão, mas para sacudir, acordar.

Vocês precisam entender que não vivem uma vida, mas sim uma fantasia. Vivem a fantasia de que sua mulher gosta de você, que a sua vida vai durar para sempre, que não vai acontecer nada de mal, errado. Vivem o sonho de que o seu filho vai crescer lindo, forte e saudável, vai ser um homem respeitado, com um bom emprego, um bom salário. Vivem a fantasia de que vão sair de casa todo dia de manhã e chegar onde querem.

Alguém aqui já saiu aqui e disse para si: para onde vou? Não sei. O que vou fazer lá? Só vou ver quando chegar lá. Alguém já saiu de casa pensando assim? Acho que não. Vocês saem de casa com o seguinte pensamento: vou sair, vou a tal lugar, vou fazer isso, depois vou a outro lugar fazer aquilo. Isso não é real, é um sonho, pois pode tirar o carro da garagem e cair duro ali mesmo.

Participante: você não controla a mente, o pensamento vem.

Perfeito, por isso não acredite nele.

O problema é que você acredita no que ele diz. Por causa dessa crença, passa a viver aquilo que ele está criando. Você acha que sim, que quando a mente diz que vai a tal lugar, acredita nela. Por isso, começa a viver o chegar lá, melhor, já está lá. Imagina que nada vai interromper o seu caminho de sair daqui e chegar ali.

É por isso que se choca se alguma coisa interromper sua caminhada.

Participante: o que vai sobrar para mim se eu acabar com a fantasia?

A vida.

Participante: mas aí vai ser insossa.

Não vai ficar. Ela só fica insossa quando continua apegada ao sonho.

Uma pessoa esteve conversando conosco e saiu com as pernas tremendo. Por quê? Porque na conversa destruí os sonhos dela. O que coloquei no lugar? A realidade. No primeiro momento em que se faz isso, choca, mas depois você descobre a vida.

Ah, vai ficar insosso. Não vai. Vocês vão continuar vivendo, mas agora a própria vida, que é o que vocês não conseguem ver, nem viver porque estão presos no sonho.

Você sai da sua casa todos os dias de manhã e vai para o seu trabalho. Todo dia, faz o mesmo percurso. Saí de casa com um monte de problemas, chego no seu trabalho e absorve mais problemas.

Algum dia parou para festejar que conseguiu sair de casa e chegar no trabalho sem acontecer nada? Você não festejou isso por quê? É o festejar a realidade, sair e chegar, por exemplo, que vai substituir o sonho. Olha, que bom, sair de casa e chegar aqui e não acontecer nada. É isso que vai sobrar.

Sabe uma coisa? Um dia, uma pessoa chegou para Maomé e disse assim: gostei muito do que você falou. Por isso, vou vir ouvir todo dia. Maomé respondeu: não venha, pois assim não vai mais se interessar pelo que digo.

O sol surge todos os dias de manhã e vocês já nem reparam. Não dá tempo para viver o sol, porque estão presos no sonho. Vocês são amantes da natureza, mas não têm tempo de viver a natureza. Por quê? Porque estão no sonho de ser, estar e fazer alguma coisa. Só quando se desligarem do sonho poderão ouvir o passarinho cantar. Se não se desligar, o passarinho canta o dia inteiro, fica rouco e você nem sabe que cantou. Pior: quando ele fica rouco, briga com ele porque não canta.

Não ouve o passarinho cantar porque hoje vive o sonho de querer ouvir o passarinho cantar.

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