Participante: acho que o suposto mal que nos fazem pode auxiliar no sentido de não querer repetir com o outro o que nos fizeram, já que entendi que aquilo pode causar dor. Isso é individualismo?
Não, não seria individualismo, pois está pensando no outro. Agora, será que você tem esse pensamento? Será que se preocupa com a dor que pode causar ao outro quando alguém faz você sentir dor? Mais: será que terá esta mesma preocupação com todos, inclusive com aqueles que não gosta?
Participante: o que você diz cabe perfeitamente nas questões recentes do cenário brasileiro, nas manifestações recentes contra a corrupção. Poderia fazer algum comentário a respeito? Como podemos conviver com a mente que insiste em criticar quem tem uma determinada e que propõe medo de alguns acontecimentos.
Quem tem medo de algum acontecimento futuro? Aquele que não quer o acontecimento, ou seja, que tem uma intencionalidade.
Participante: viver em paz quer dizer viver indiferente com relação às coisas?
Viver em paz é viver em harmonia com as coisas. Se chama esta harmonia como indiferença, essa é a sua forma individual de se referir à ela. Agora, se acha que é estar indiferente, ainda terá uma situação certa, ser indiferente, e com isso não conseguirá harmonizar quando não for indiferente.
Então, cuidado, estar em paz é estar harmonizado com a sua indiferença ou estar harmonizado quando não for indiferente.
Jamais. Se a paz é algo íntimo, só existe dentro de cada um, você só pode lutar pela sua. Quem quer lutar pela paz do outro, perderá a sua paz, pois entrará em desarmonia quando o outro não estiver em paz.
Aliás, só o fato de achar que o outro não está em harmonia, já se caracteriza numa desarmonia sua.
Participante: a desarmonia seria uma ferramenta para nos mostrar que a paz que tanto buscamos está relacionada ao estado espiritual?
A desarmonia só serve para lhe mostrar uma coisa: você não está amando a Deus acima de todas as coisas e nem ao próximo como a si mesmo. Amando a todos e a tudo, está em harmonia com qualquer coisa. Portanto, é um instrumento para lhe mostrar que apesar de dizer que ama, você não ama.
Já reparou nas pessoas que dizem que ensinam os outros a seres a ser, estar e fazer as coisas de alguma forma e dizem que agem desta forma por amor? Esses vivem em desarmonia, porque estão sempre tentando mudar o outro. Que amor é esse que provoca desarmonia? Que amor é esse que cobra alguma coisa dos outros? Que amor é esse que exige mudanças? A desarmonia ou a perda da paz só lhe faz entender que apesar de dizer que está participando com amor, amando, está apenas sendo egoísta, individualista.
Participante: a técnica básica da busca da felicidade é dizer à mente que não sabe de nada, ou seja, não acreditando nas histórias propostas. Agora parece que a busca da paz é um pouco diferente. Parece que agora o não sei não se aplica muito bem, ou seja, temos que investigar, perguntar, para saber onde estão os soldados, tenentes e o general que estão nos tirando a paz, achar a raiz do problema. Existe mesmo esta diferença entre a busca da paz e da felicidade, ou entendi errado?
Existe e por isso disse que a paz parece com a felicidade, mas não é.
Participante: como não acreditar nas sensações que a mente nos sugere? Hoje meu sapato machucava muito meu pé. Pensei nos seus ensinamentos e tentei imaginar que não era o corpo e que só sentia a dor porque tinha o desejo de não sentir. Só que continuou doendo e eu continuei incomodada. Como é ter paz nestas situações?
Como você esperava obter a paz se estava trabalhando para não ter mais dor?
Participante: e, quando simplesmente vem o sofrimento, por exemplo uma crise depressiva sem nenhum motivo aparente. Como ficar em paz dentro dessa dor?
Deixe lhe dizer algo. A depressão causa dor? Eu diria que não. Sabe o que causa dor? Não querer ter depressão.