Quando surge a raiva em relação a uma pessoa, ele deve desenvolver a boa vontade para com aquela pessoa. Dessa forma, a raiva por aquela pessoa deve ser subjugada.
Os textos deste estudo foram desenvolvidos com a visão do EEU a partir do sutta de Buda Anguttara Nikaya V.161 – Aghatapativinaya Sutta
“Desenvolver a boa vontade para com aquela pessoa”: o que quer dizer isso? Vamos conversar sobre o tema.
As contrariedades surgem quando há um desacordo entre o que cada um dos envolvidos num relacionamento acha verdade ou certo. Ela existe porque a verdade ou o certo do outro contraria a sua verdade ou seu certo. Mas, o que é a nossa opinião que é certa ou verdadeira?
Cada ser humanizado é exposto diariamente a centenas de informações. Estas informações são analisadas pela mente a partir de conceitos pré-existentes na memória. Cada vez que uma informação se coaduna com o conceito que está na memória ela é considerada certa ou verdadeira. Mas, como se formam os conceitos pré-existentes na memória?
Somos o resultado do meio que vivemos. A cultura de cada povo, região, cidade, bairro ou mesmo núcleo familiar possui um grupamento específico de informações às quais dá o valor de verdade e certo. Acontece que estes grupamentos diferem entre si. Nos países ocidentais, por exemplo, a cultura afirma que só se pode ter uma esposa, nos árabes ela já é diferente: o homem pode ter mais mulheres. Entre os jovens, atitudes irresponsáveis são consideradas como atos perfeitos, entre os mais velhos isso já não acontece.
Quem está certo? Todos os dois… O certo e o errado não são absolutos, ou seja, não servem para todos e não permanecem por toda a existência sem mudanças. Na verdade, a avaliação de certo ou errado aos conselhos depende do momento da existência de cada um ou do grupo social onde se vive. Na verdade, ela é relativa, ou seja, depende de cada um.
Por isso cada um tem o direito de achar certo e verdadeiro aquilo que achar naquele momento. Não se pode criar um estatuto rígido que sirva para todos ao mesmo tempo. É fundamentado neste conhecimento sobre a relatividade da avaliação de certo e errado que Buda ensina que devemos ter boa vontade com todos.
Você tem o direito de ter o seu padrão de certo e verdadeiro, mas o outro também o tem. Querer impor ao outro o que aquilo é verdade para você só leva à contrariedade. Isso porque o outro não vive a sua vida, ou seja, não vivencia a existência dele com os mesmos valores que você.
Aliás, aproveitando que estamos falando com espiritualistas, exigir do próximo que ele tenha as mesmas avaliações que você é querer retirar dele o livre-arbítrio. Acreditamos que Deus deu a cada um o direito de livre optar por qualquer coisa. Exigimos para nós este direito, mas não o estendemos ao próximo. Escolher um padrão próprio de certo e verdadeiro é o exercício do livre-arbítrio que se foi dado por Deus a cada um não pode ser retirado por ninguém.
Este é o caminho da boa vontade que Buda ensina que leva ao fim da contrariedade e com isso evita a existência da raiva e do ódio: dar ao outro o direito de exercer o seu próprio livre-arbítrio.
Quando alguém faz ou pensa coisa diferente de você, ao invés de se contrariar, diga: ‘ele tem o direito de fazer ou pensar aquilo que achar melhor para ele’. Este é o exercício da boa vontade. Concedendo ao próximo este direito não existirá contrariedade, apesar de continuar existindo a não similitude entre o que você e o outro acham certo ou verdadeiro.
Desenvolver a boa vontade com o outro não é acreditar no que ele acredita ou fazer o que ele faz, mas apenas dar ao próximo o direito de ser diferente de você. Isso leva ao fim da contrariedade, da raiva e do ódio. Leva ao fim do seu sofrimento.