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Participante: eu tenho vontade de ter uma personalidade definida. Se um dia penso uma coisa, no outro penso o oposto. A minha mente trabalha contra mim. Ela não se empenha em me ajudar a construir uma personalidade sólida. Esse problema me faz lembrar a letra de uma música que diz: se hoje eu sou estrela, amanhã já se apagou, se hoje eu te odeio, amanhã tenho amor. Raul Seixas. Se ontem tomei uma decisão pensando ser sábia, no hoje olho essa decisão com desprezo. Vendo isso que acontece na minha mente, acho que não vou conseguir ter uma personalidade definida nessa vida, muito menos poder conhecer o que sou.
Mas que trabalho gotoso esse de conversar, não é?
Quer dizer que acha que não tem uma personalidade definida? Claro que tem. Você tem uma personalidade definida: aquela que um dia pensa de um jeito e no depois pensa de outro.
Esse é outro grande problema: vocês vivem buscando objetivos. Não estou falando de objetivo de vida, mas objetivo de vivências. Objetivos de ser algo específico, de sempre viver bem, de sempre estar bem, de sempre procurar determinada coisa, de alcançar determinados desejos.
Esquece coisas materiais. Não estou falando de objetivos a seres alcançados materialmente, mas sim de convívio com a mente. Estou falando de buscar alcançar objetivos dentro do convívio com a mente.
É por causa dessa busca que sofre quando toma hoje uma decisão e amanhã outra. Sofre por quê? Porque não quer ter isso. Mas tem, e daí? É aí que vem o problema.
Você é o que é na hora que é. Quando não é, não é.
Parece brincadeira, parece pegadinha, parece que é para rir, mas essa é a verdade. Aquele que quer ser feliz, que quer ter paz nessa vida, não toma posição alguma. Não cria padrão nenhum, nem sobre si mesmo. Vive o que se apresenta cada dia sem cair na depressão do sofrimento, da contrariedade ou na exaltação do prazer.
Apesar de achar que não, você tem uma personalidade extremamente definida: um dia ela é uma, outro dia é outra. Isso em si jamais vai causar efeito em você, a não ser quando aceita o ismo de que é preciso ter uma personalidade definida. Isso não existe, é o que precisa entender: ninguém é igual a si mesmo como era há cinco minutos atrás.
Buda chama isso de Impermanência. Ninguém é permanentemente igual.
A impermanência é uma qualidade da vida, é uma lei da vida. A cada momento você é diferente do momento que passou. Na hora que está dirigindo um carro é uma pessoa, um motorista; na hora que está andando de carro com outra pessoa dirigindo, é outra pessoa, é um passageiro. O passageiro não pensa igual o motorista, e o motorista não pensa igual ao passageiro.
Na hora que está assistindo televisão é um assistente de televisão; na hora que está conversando com outra pessoa sobre o que está passando na televisão assume uma posição diferente.
Isso não é só com você, mas com todos. A mente, de uma forma geral, funciona desse jeito. A razão humana é completamente impermanente.
Agora, repare em uma coisa. Se já descobriu que é impermanente, a cada momento tem uma personalidade diferente, fez uma grande descoberta. Agora precisa aprender a viver a sua impermanência, sem cobrar-se permanentemente de alguma coisa.
Saiba de uma coisa: todos são iguais no sentido de serem diferentes a cada momento. É isso que vocês precisam entender. Por isso, só quando se libertarem do ismo que fala que precisam ter uma personalidade forte, única, é que poderão ser felizes. Enquanto não aceitarem a impermanência de si mesmos, vão sofrer e muito se cobrando para ser o que não podem ser.