Vamos começar explicando a vida humana.

Como já disse, viver é como ler um livro. Você recebe através do pensamento frases. Elas geram percepções: ver, ouvir, sentir gosto e cheiro, sensibilidades pelo corpo. Elas também criam movimentações e compreensões sobre a vida. Isso é a vida!

Na verdade, se falarmos em termo espiritual, você, espírito, está no universo espiritando. Durante esse espiritar recebe frases, que são as razões criadas pela mente. Elas vão gerando a ideia de estar acontecendo algo fisicamente, no mundo externo, quando na verdade não há nada lá fora. Tudo isso acontece em um mundo mental do espírito.

As frases que são criadas possuem uma característica: elas são neutras. As frases não têm polaridade nenhuma! Não são boas nem más, certas ou erradas, ruins ou péssimas, justas ou injustas. São apenas descrição de alguma coisa.

Olhe agora para fora de você. Tudo que vê, tudo que acha que está acontecendo com você e ao seu redor, são criados mentalmente, racionalmente, pela razão. Não dá para explicar esse processo através de detalhes científicos, e nem interessa para nós fazer isso. o que importa é saber que não há nada acontecendo lá fora, mas sim uma narrativa no íntimo que cria a ideia de existir alguma coisa lá fora.

Tem mais um detalhe importante a saber: essa narrativa é sempre neutra! Vou dar um exemplo para ficar claro.

Aquela pessoa fez alguma coisa aqui agora. O que ela fez é simplesmente o que ela fez. Não é certo nem errado, bonito ou feio, limpo ou sujo, arrumado ou desarrumado, necessário ou não. É apenas o que ela fez.

Essa forma de entender a vida vale para tudo. Tudo que existe, que acontece, é apenas uma imagem gerada a partir de uma narrativa. Não tem polaridade, ou seja, é uma imagem neutra.

Mas como algo que é neutro se transforma em algo certo ou errado, bonito ou feio, limpo ou sujo, arrumado ou desarrumado, qualquer desses dualismos referentes aos adjetivos da vida? É muito simples: através dos ismos.

O ismo do ego, como já comentei, é um conjunto de normas e verdades que geram obrigações e necessidades.

Então, vamos dizer que aquela outra pessoa tenha na sua razão um ismo que afirme que o que a outra fez está errado, é feito, não deve ser feito. Ou seja, tenha uma verdade que diga que aquilo é errado e feio. Esse ismo, que já está dentro da mente daquela pessoa, será ativado quando a narrativa do que aconteceu chegar à razão.

Reparem, a razão, a ideia de que está acontecendo, ativa o ismo. Com isso haverá a consciência de que o que aconteceu é certo ou errado, bonito ou feio, limpo ou sujo, justo ou injusto, se tinha que ser feito, se precisa ser feito, etc.

O acontecimento é só o acontecimento. Toda essa carga de adjetivos e razões a respeito daquilo que está sendo feito é gerado pelo ismo e cria a razão do ser humanizado. Essa razão representa a prova de cada um.

A razão é a prova de cada um porque o ismo ativa o egoísmo do ser. Vamos entender mais isso.

Se uma pessoa acha que aquilo é justo, se recebe o ismo dizendo que aquilo precisa ser feito, que o que faz deveria ser feito, o seu egoísmo vai dizer: ‘eu ganhei, tive uma vitória, porque fiz o que devia ser feito. Sinta esse prazer, pois é a recompensa por ter feito algo certo, justo’.

Agora, se o egoísmo diz que deveria ser feito, mas não foi, ele culpará o outro por não ter acontecido o que devia acontecer. Fará isso para ter alguma vitória.

É isso: não importa o que aconteça, o ismo sempre vai ativar o egoísmo. Ele é ativado a partir das posses, paixões e desejos, da vontade de ganhar e do medo de perder, da vontade de ter o prazer e o medo de desprazer, da vontade da fama e o medo da infâmia, da vontade de ser elogiado e o medo da crítica, as Quatro Âncoras.

O ismo é isso: são as obrigações e necessidades que são aplicadas sobre uma descrição que é neutra.

Fazer algo não é bom nem mal, é fazer. Fazer qualquer coisa não é certo nem errado, é fazer. Fazer durante a vida não é bonito nem feio, é fazer.

É isso que precisam entender sobre a vida. A vida corre por estas duas vertentes: a descrição que cria o acontecer alguma coisa e a valorização que se dá àquilo que está acontecendo. Essa valorização acontece através de ismos do ego e tem por objetivo ativar o egoísmo década um. Falando de uma forma espiritualista, valorizar de acordo com a prova de cada um. Faz isso para ver se aquele espírito supera o egoísmo e diz a si: ‘eu acho isso, mas não vou aceitar a fama de ter feito, não vou aceitar a crítica porque o outro não fez’.

Quando o espírito supera o ismo, a obrigação e a necessidade, o que acontece? A paz, a felicidade, a harmonia.

Eu não sei se era o que devia ter feito ou se não. Não sei se acertei ao ter feito ou não. Não sei se o que aconteceu é bonito ou não. Sei apenas que fiz; acabou’.

Isso é a forma de viver vida para quem quer ser feliz. Isso é aprender a viver na vida.

Ah, Joaquim, mas se eu viver desse jeito só eu vou trabalhar, ninguém mais irá’. Olha a busca da fama através de outro ismo. A narrativa de que ninguém fez é um ato do ego para não sentir um perder.

A vida precisa ser analisada momento a momento, presente a presente, exatamente separando o que é descrição do que é ismo, aceitando a descrição sem aceitar o ismo.

É isso que é viver em paz e harmonia. É isso que uma faculdade de vida ensina. E olha que para isso não precisa nem ser espiritualista. Basta apenas querer ter paz nessa vida e não ganhar. Basta apenas querer ser feliz nessa vida e não querer ter o prazer de vencer os outros.

Na hora que se abre mão do prazer de vencer os outros, de estar certo, você consegue paz, felicidade, harmonia.

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