Agora vamos ver a oração do Pai Nosso.

“Portanto, orem assim:” (Mt. 6, 9)

Vou fazer o adendo que fiz antes: oração não são palavras, são caminhos. As palavras da oração são um guia de como você deve viver. Viver em oração.

“Pai nosso,” (Mt. 6,9)

Quando vocês oram, têm a consciência de que Ele é o Pai de todos? Acho que não.

Pai dá as coisas só para um filho? Sim. Só que o Pai de muitos filhos deve contemplar a todos e não apenas a um, não é verdade?

Orando com a consciência de que Ele é o Pai de todo mundo deverá saber que haverá hora que irá receber, mas em outras Ele terá que não lhe dar para poder dar a outro filho. Por isso, terá a consciência de que deve esperar que durante a vida haja momentos onde não seja contemplado, pois o Pai estará dando para os outros, que também são filhos Dele.

Quem pratica essa oração deve viver sabendo que quando não ganhou o que queria é porque o Pai, que é de todos, deu para outro. Por isso deve exercitar a sua paciência e aguardar a sua vez. Vivendo assim, não há motivo para sofrer quando não se recebe o que quer.

É por causa do que estamos falando agora que disse em outra palestra: para um ganhar, outro tem que perder. Na hora que você perdeu, alguém ganhou. Fique feliz porque o Pai atendeu o seu irmão.

Mas, porque alguém ganhou e não você? Porque o Pai é de todos e tem que atender igualmente aos seus filhos.

“que estás no céu” (Mt. 6,9)

Fica por aí mesmo e não vem para cá encher meu saco …’ Como uma criança ou adolescente humano, isso é o que dizem quando o seu Pai se intromete na vida de vocês e dá o que não querem. 

 O céu aí é a Perfeição, o lugar perfeito. Ele é habitado por seres perfeitos. Então, quando ora o Pai Nosso na sua existência, vive a partir dele, reconhece que está se dirigindo a um ser que pratica a Perfeição e por isso tudo que Dele advém é Perfeito. Mais: reconhece que não está nesse lugar, ou seja, que não é perfeito.

É aquilo que já falamos: superioridade moral. Se não reconhece que Ele é moralmente superior a você, o que recebe, o que está acontecendo. Só que avalia as coisas pelas suas verdades. Julga a Deus e O condena por não fazer as coisas dentro do que você quer. Só que suas verdades são imperfeitas. Por isso, a sentença dada a Deus é injusta.

Participante: posso entender céu, não como um espaço físico, mas como um estado de espírito?

Céu, espaço físico, é esse buraco que veem quando olham para cima. Como esse livro que estamos vendo não é de geografia, mas um tratado espiritualista, precisa ser encarado como o lugar da Perfeição. Uma dimensão, um plano espiritual elevado …

O nome não importa para o nosso estudo. O importante é saber que os habitantes do céu são perfeitos

Participante: não posso entender aqui que céu é algo interno, que está dentro de nós?

Não. Nesse caso é o reconhecimento da perfeição.

Não está se falando do reino do céu, do ponto máximo dá existência espiritual. Aqui apenas se quer dizer que é preciso reconhecer a superioridade moral do Pai.

“que todos reconheçam que o teu nome é santo.” (Mt. 6, 9)

Por ter essa superioridade moral é preciso, para ter a bem aventurança, que se reconheça que Ele tem em si a santidade:

O que é ser santo? Ser justo e amoroso. Santo é aquele que é perfeitamente justo e perfeitamente amoroso. Perfeito no amor, perfeito na justiça.

Participante: e quem pode se considerar santo?

Deus. Só Ele.

Participante: e estes santos criados pela Igreja Católica?

São santos, para a Igreja Católica.

Para a doutrina Católica, eles possuem a perfeição católica. Por isso são considerados santos. Viveram de acordo com a Doutrina Católica.

Os santos da Umbanda são perfeitos porque produzem dentro da Doutrina da Umbanda. Eles entendem a justiça e o amor a partir do preconizado por aquela doutrina. Então, são santos para aquela doutrina.

Participante: E quando se ora para um santo?

Você está orando para um Ser que é superior a você, mas ainda não chegou à Santidade Universal. Ainda não chegou ao Céu.

Antes que me pergunte, com certeza são superior porque eles não estão encarnados e você está.

Participante: mas, isso não o faz superior. Só porque não está encarnado…

Sim, porque não está nem neste orbe.

Participante: e esses trastes que a gente pega no caminho? Eles estão desencarnados e não são superiores …

Não, esses não estão desencarnados: estão encarnados sem carne. Apesar de não terem carne, vivem como ser humano.

O desencarne não se dá quando você está na carne ou não. O desencarne se dá quando se liberta do egoísmo, que é a característica do ser humano.

Participante: a gente pode considerar os Mestres como santos?

Os Mestres não. Eles estão em outra classe. São os enviados a esse mundo (Cristo, Buda, Krishna, Espírito da Verdade) não. Os mentores ou os médiuns dos mestres (Jesus, Sidarta Gautama, etc.) pode considerar assim.

Venha o teu Reino.” (Mt. 6, 10)

O que você está pedindo quando ora esse trecho do Pai Nosso? Que viva o que for produzido pela santidade de Deus. Que você viva o Amor e a Justiça de Deus.

Já falamos sobre isso em outra palestra quando abordamos a questão da fome e sede de fazer a vontade de Deus. A vontade de Deus é o que está acontecendo. Quem ora pedindo que venha o Reino da santidade precisa amar tudo o que é produzido pelo Amor e pela Justiça.

Não estou falando em pedir para que venha alguma coisa, mas reconhecer que tudo que lhe ocorre vem de lá para cá, é fruto do seu pedido de receber o Reino. Rezar o Pai Nosso é expressar a vontade de receber o que vem e, por isso, não se revoltar contra o que vem.

“Que a tua vontade seja feita aqui na terra como é feita no céu.” (Mt. 6, 10)

Ou seja, quer que o fruto da Santidade, o Seu Amor e a Sua Justiça, aconteçam na Terra como acontece lá. Será que já não é assim? Será que aqui as coisas não correm como lá?

Claro que sim. A necessidade desse pedido estar incluso no tratado com Deus é porque vocês acham que aqui é diferente. Acham, por exemplo, que um bandido atirar em alguém não é um ato de Amor e Justiça. Só que é.

É preciso que esse item esteja presente para lembrar a vocês que tudo é uma coisa só. Vocês não podem rezar o Pai Nosso e isolar a Terra do Céu. Tudo é uma coisa só e fruto da mesma Santidade.

A oração do Pai Nosso é uma aceitação de que tudo que acontece aqui é fruto da ação desse Santo. Mais: uma declaração que quer receber o que Ele tem para dar: venha a mim o seu Reino.

Participante: quando isolamos caímos naquela situação em que ficamos eternamente buscando…

Não. Quando se isolam fazem outra coisa: querem ser Deus, a Santidade. Querem determinar o que tem que acontecer e julgar tudo que ocorre.

Na verdade, vocês rezam assim: ‘Pai Nosso que estais no Céu, santificado seja o vosso nome, venha a nós o vosso Reino, mas nessa vida seja feita aquilo que eu quero, aquilo que acho certo, o que acho justo... ‘

É essa forma de viver que mostra a hipocrisia humana. De nada adianta rezar; é preciso viver os termos da oração. Por isso disse que a oração não são palavras, mas um código de vivência do acontecimento humano.

Dá-nos hoje o alimento que precisamos.” (Mt. 6, 11)

Natural e normal se pedir isso, não?

Qual o alimento que precisam? Só lembrando porque a memória é curta: ‘nem só de pão vive o homem,’.

O alimento necessário para a existência é tudo que vem do céu: a bem aventurança, a paz, a harmonia e a felicidade. Você pode não ter um grão de comida mas se estiver em paz, está harmonizado. Pode estar com o armário cheio de comida, mas se não tiver paz não está alimentado.

É por isso que comem muito quando ficam nervoso. Pela ausência de paz a comida nunca sacia. A ansiedade sempre traz a sensação de não se saciar.

Sim, Pai, nos dê o alimento que precisamos, mas reconhecemos que ele não é o pão físico, a comida. O alimento que precisamos é a paz de espírito, a harmonia e a felicidade eterna.

Participante: vou fazer uma pergunta que foi feita em relação a esse tema quando foi postado na Internet: O ser humano não vive só de pão, mas vive de tudo que Deus diz. Ao usar o termo só, Cristo também inclui o pão material nas necessidades do humano?

Não é pão, alimento, mas as coisas materiais. O ser humanizado precisa das coisas que existem nesse mundo.

Quando estudamos isso falamos do pão como elementos materiais: o ter, o ser, o estar, o fazer. Nada nesse mundo é proibido. Não oriento a fugir das coisas desse mundo como o Diabo foge da cruz. Não é preciso fugir delas: o que não pode é alimentar-se delas.

O que é alimentar-se delas? Achar, por exemplo, que é ótimo ter uma família toda organizada, que você precisa ter uma família assim para poder ser feliz. Foi o que acabemos de dizer na questão caridade: quem vive assim já recebeu o que tinha para receber; a satisfação de ter uma família organizada ou o sofrimento de não ter. Você pode ter uma família organizada e ter a benevolência, mas isso só acontecerá quando a família organizada, que neste caso é o pão, não for aquilo que acha importante, que lhe alimenta.

Agora, me diga uma coisa: como deixar de alimentar-se de família organizada sem que pertença a uma? Está vendo, é preciso o material, pois ele é o instrumento para o cumprimento do acordo.

Você precisa se alimentar das coisas espirituais: da paz, harmonia e da felicidade. Mas, esse alimento só vai lhe trazer sustância, só vai lhe deixar satisfeito, se não exigir que junto com ele venha a coisa material. Se está tudo bem na sua vida, não tem dívida, pode ajudar todo mundo, tem a família organizada, tem casa própria, carro, que trabalho precisará fazer para honrar o acordo? Nenhum.

Participante: posso colocar em minhas palavras para ver se entendi? Hoje em dia tenho um bom salário, um carro novo… Já tenho isto tudo e ainda quero exigir ter paz com a família? É isso que é alimentar-se do pão?

Não. É precisar ter alguma coisa desse mundo para se sentir bem. Poderia ser o contrário, não ter nada disso, ter paz na família e exigir tudo isso para se sentir bem.

“Perdoa as nossas ofensas como também nós perdoamos as pessoas que nos ofenderam” (Mt. 6, 12)

Repararam uma coisa? Existe uma condicionalidade nesse texto. Sendo assim, como é que quer que Deus lhe perdoe se não perdoa ninguém?

“E não deixes que sejamos tentados, mas livra-nos do mal.” (Mt. 6, 13)

Que o Senhor não ponha a tentação na nossa vida. Mas, se puser, vou aceitar.

Que o Senhor me livre do mal, que é o egoísmo. Mas, se vier, vou aceitar.

Participante: “afasta de mim este cálice, mas se não for possível que eu beba até a última gota” Exatamente.

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