Participante: só que tem algumas pessoas que estão morrendo por dentro, mas não abrem espaço para você ajuda-la. Externamente fingem que estão bem.

Você está falando de pessoas que vivem com uma capa externa que não é o que estão sentindo por dentro. Isso acontece e muito: as pessoas fingem que estão bem.

Esse é um burro emocionalmente, porque abrindo-se poderia ser que alguém lhe ajudasse a acabar com o sofrimento. Mas, ao mesmo tempo, ela não quer se abrir par não mostrar que é fraca.

Sim, isso existe. O que você pode fazer nesse caso? Nada. Entenda que tem gente que gosta de sofrer e esses não tem como você ajudar. Isso porque eles não procuram ajuda.

Agora, aquele que lhe diz que está cansado da vida dele, de si mesmo, do seu trabalho, da família que tem, acabo de lhe pedir ajuda. Concentre-se nesses.

É na hora que as pessoas expõe o seu sofrimento e se dizem cansadas de sofre que você pode ajuda-las. Como? Como pode ajudar uma pessoa que chega junto e lhe fala desse jeito?

Participante: primeiro ouvindo-o.

Claro, porque se não ouvi-lo nem saberá que está pedindo ajuda.

Participante: perguntando o que teria que acontecer para que ele melhorasse?

Não.

A forma para ajudar essas pessoas é dizer: “está de saco cheio da sua família? Mude de família. Aqueles que não puder mudar, afaste-se. Largue todos, abandone aqueles que estão lhe causando sofrimento. Está de saco cheio do seu emprego? Pede demissão e procure outro. Está de saco cheio da sua vida? Viva de uma forma diferente”.

Lembre-se da oração da serenidade: é preciso primeiro reconhecer o que pode ser mudado. Se não mostra à pessoa que ela possui uma solução óbvia, lógica na sua frente, que muitas vezes ela não vê, não aceitará mais nada que você falar. Dando conselhos em como lidar com a família que ele tem, a reação da pessoa será: “é porque ele não convive com a minha família. É por isso que está falando assim. Se vivesse o que vivo não estaria falando desse jeito”.

Ora bolas, se você está vivendo mal por causa da sua família, a primeira ideia de um ser inteligente seria mudar-se, sair dela, ir viver em outro lugar, esquecê-los, larga-los. Só que essa solução que é óbvia não é possível para todos.

Se você disser isso para uma mãe que sofre com o filho, ela lhe responderá: “é meu filho, não posso larga-lo”. Com isso mostra o caminho para você falar da inteligência emocional: se não consegue resolver o problema, conscientize-se disso e não deixe aquela emoção tomar conta de você.

Portanto, quando se trata de ajudar os outros a alcançar essa inteligência que estamos falando, a primeira coisa é mostrar a eles que existe uma saída, que há algo que pode ser feito. Nesse momento, eles podem aceitar o que você está dizendo ou pode lhe dizer: “mas, se eu pedir demissão, do jeito que está o país não vou arrumar outro emprego fácil e preciso do dinheiro para me sustentar”.

Participante: e aí, se faz o que?

Diga para ele: “ouviu o que disse? Você não pode sair desse emprego. Então, procure se harmonizar com ele como está. Aprenda a viver em paz com o emprego que tem, por mais que não goste dele”.

Viram a prática da inteligência emocional que falei? Primeiro a pessoa reconheceu que não pode mudar o que tem e depois compreendeu que precisa encontrar um meio de viver em paz com o que tem. Sempre é preciso se reconhecer o que se pode mudar e o que não se pode, para só depois falar em se harmonizar com o que tem.

Essa é a hora de falar em inteligência emocional. Pergunte a ele: “a sua raiva do emprego, o seu desgosto do que acontece lá dentro, mudará o seu patrão? Transformará as coisas dentro do seu emprego? Não. Então, para que ter raiva? Viva-o do jeito que é sem raiva e irá ter as mesmas ocupações de hoje sem sofrer”.

Se você não pode pedir demissão, se não pode mudar a forma como a empresa opera, viva o seu emprego de uma maneira inteligente: não deixe que a raiva ou o desgosto tome conta de você. Sabe o que acontecerá com essa pessoa se fizer isso? Terá o mesmo emprego, o mesmo trabalho e a vida não estará uma droga.

Participante: e quando esse sofrimento está no nível inconsciente. Você não consegue identificar a causa.

Identificar a causa é outra coisa.

Quanto ao sofrimento estar no nível inconsciente, isso não existe. Digo isso porque tudo que está nesse nível você não tem consciência de existir. Sabendo que o sofrimento existe, ele é consciente. Pode não saber a causa, mas sabe que há um sofrimento.

Participante: mas, como se resolve nesse caso?

Do mesmo jeito. Deixe de fazer o que faz hoje e que lhe gera sofrimento que ele acabará. Se descobrir que não pode, entenda que se lastimar pelo que tem não resolve nada.

Participante: estou falando de uma situação de trauma. Situações onde a vida insistentemente lhe leva para viver situações análogas onde não configura a razão porque sofre, mas sabe que vive um sofrer.

Você está falando quando não sabe a razão, mas sabe que existe um sofrimento.

A primeira coisa que precisamos fazer quando se identifica que há um sofrimento é fugir do que lhe faz sofrer. Deveria ser. Se sofre e não gosta de viver isso, mesmo não sabendo as razões, mas sabendo que a origem está em determinado acontecimento, deveria fugir dele.

Participante: parece lógico.

Não parece: é lógico.

Só depois disso vem a razão e diz que você não pode fugir de determinada coisa porque precisa dela. Se isso acontece, ou seja, se sofre por uma coisa, não pode viver sem ela e não quer sofrer mais, só há uma saída: aprender a conviver com esse momento sem sofrimento.

Participante: eu tenho síndrome do pânico e isso me faz sofrer.

Obrigado. Um exemplo direto para trabalharmos.

Você tem síndrome do pânico e isso lhe faz sofrer, pois não consegue sair, não consegue ter uma vida social ativa, ou seja, tudo aquilo que faz as pessoas que possuem esse mal se revoltarem por não serem iguais aos outros. É isso?

Participante: sim …

Portanto, você tem síndrome do pânico e ela lhe faz sofrer. Por isso, lhe aconselho a buscar a cura. Consegue se curar?

Participante: não …

Então aprenda a conviver com a síndrome do pânico …

Tenho síndrome do pânico, por isso não posso sair de casa. Não tenho como me curar agora dessa doença, por isso de nada adianta ficar sofrendo porque a tenho. Vou tentar viver feliz com as consequências de tê-la”.

O problema não é ter síndrome do pânico ou não ter, mas sim querer sair de casa. Quem quer sair e passear na rua e por qualquer motivo não pode fazer isso, sofre. Se essa síndrome leva a essa incapacidade e se você não consegue deixar de tê-la, o que precisa fazer é viver a sua realidade sem apegar-se ao que deseja.

Só que como vocês são burros emocionalmente, ao invés de buscarem a saída mais simples, ficam batendo a cabeça contra a vida e por isso sofrem. Só isso.

É o que já disse: o que estamos conversando vale para tudo. Eu estou um tempo afastado do mundo material, por isso não sei me expressar sobre o que lhes faz sofrer, mas sei que são milhares de situações onde por burrice emocional vocês sofrem. Por causa da origem do sofrimento é que digo que o que estamos conversando é válido para a todas coisas. Analisem os motivos dos seus sofrimentos e verão que tenho razão.

Em qualquer situação analise a sua realidade. Pergunte-se se pode muda-la. Se a resposta for sim, vá lá e mude. Agora, se a resposta for não, deve compreender que a única solução que você tem é aprender a viver com aquilo. Isso é ser inteligente.

Como já falamos hoje, é lógico. Não sei porque tanto mistério em torno do que estou mostrando.

Participante: pelo que estamos conversando, a causa do sofrimento é a o desejo que temos, que é diferente da realidade que acontece. Por causa desse desejo, então, é que sofremos.

Sim. É o desejar diferente do que possui aquele que não é inteligente emocionalmente a sofrer.

Participante: a partir disso, como posso ajudar as pessoas?

Mostrando que errar é humano e persistir no erro é burrice. Sofrer porque tem síndrome do pânico é humano; persistir no sofrimento porque não consegue agir contra a sua realidade é burrice. O desejo que alimenta o sofrimento é fruto da persistência de se mudar o que se tem para viver, mesmo depois de chegar à conclusão de que não mudar o que tem.

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