Participante: pegando o exemplo da raiva que já foi usado aqui, posso, então, dizer, que a raiva precisará existir sempre, pois há pessoas que precisam dela, mesmo que em outras oportunidades eu já tenha conseguido vencê-la?

Sim, o ego, a mente, a razão humana precisa ter a raiva, não você. Ele precisa ter a ideia de ter raiva de alguém que precisa e mercê, por carma, receber essa emoção para poder agir libertando-se dela.

Participante: você obrigatoriamente terá que vivenciar esse momento.

Não. Terá que receber a ideia da ilusória raiva, mas vivenciá-la ou não dependerá de sua opção naquele momento. O ser encarnado precisa receber a ilusória emoção humana oriunda da razão, mas ao recebê-la deve dizer a si mesmo: ‘eu não quero isso’.

Deixe-me trazer um ensinamento de Buda a esse respeito que é muito interessante. Ele falou:

‘As pessoas dizem que eu ensino a não sofrer. Isso é errado. O que ensino é a lidar, conviver, com o sofrimento. Ensino que o ser humanizado deve receber o seu sofrimento quando ele aparecer, abraça-lo, acarinha-lo, e depois deve deixa-lo seguir o seu caminho’.

Esse é o caminho para quem quer ser feliz: receber seu sofrimento, abraça-lo e deixa-lo seguir o seu caminho.

A felicidade não é conseguida com a renegação do sofrimento, com o prevenir-se para que ele não apareça. Não, não é assim. Ela existe quando o ser sabe relacionar-se com ele.

Porque não podemos renegar o sofrimento? Porque ele é a coisa mais importante da existência de um ser.

Sabiam que o sofrimento é a coisa mais importante da sua existência? Por quê? Porque é a oportunidade de trabalho. Se não houvesse um sofrer, você não teria a oportunidade de fazer um trabalho para libertar-se do sofrimento.

Participante: se você ficar quietinho ele vai passa.

Sim, passa, mas quando isso acontece? Quando você decide não sofrer mais.

Quando abrir mão de sofrer. Falo isso porque o ser humanizado não sofre simplesmente; ele sofre, sofre, sofre, sofre… O sofrimento do ser humanizado é apenas um só, que ele prende junto assim e vive muitos momentos.

Porque agarram o sofrimento? Para poder ser realmente feliz é preciso enfrentar de frente a vida e renega-la. Por isso quero deixar bem claro agora o motivo pelo qual vocês sofrem o mesmo sofrimento por muito tempo. Desculpem a franqueza, mas é preciso.

Sofrem por muito tempo para poder mostrar aos outros como são injustiçados, como são vítimas do mundo e assim as pessoas venham passar a mão nas suas cabeças. Sofrem para que os outros possam acarinhá-los. Sofrem porque estão sempre buscando a fama, esperando um elogio, querendo o prazer, ansiando por obter uma vitória individual.

Isso muda completamente a nossa concepção de vida. Não é por causa do que acontece que o ser humanizado sofre na vida, mas porque quer sofrer e assim sustentar o seu egoísmo natural. Vivem se prendendo ao sofrimento, buscando motivos para sofrer para poderem atrair a atenção dos outros. Vivem sofrendo para dar valor a si mesmo, para ser o centro da atenção de todos.

Depois de notados, dizem: ‘não queria sofrer. Queria ser feliz, mas não consigo porque a vida não deixa’. Isso é falso. A vida não tem culpa alguma do sofrimento dos seres, mas dos próprios que estão sempre buscando vitimarem-se, para poder assim ser o alvo da atenção dos outros.

Desculpem meu jeito de falar, mas é disso que precisam. É preciso que encarem a verdade e ela é: não é a vida que os faz sofrer, não é a energia negativa de ninguém, não é atitude dos outros, mas o sofrimento é fruto de uma ação egoísta que quer demonstrar o sofrimento para poder ser alvo da preocupação dos outros, para poder receber carinho e atenção dos demais.

Enquanto não compreenderem esse ponto e enfrentarem essa atitude de frente, jamais conseguirão se libertar da humanidade para poderem chegar a Deus. Se continuarem vivendo acusando o mundo como causador do seu sofrimento, ao invés de fazerem essa aproximação, permanecerão rezando a Deus para que Ele note o quanto são pobre-coitados injustiçados. 

É, chamar a atenção de Deus para as suas carências é outra consequência do aceitar a convivência com o que leva ao sofrimento.

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