Vamos falar de um tema hoje, conversar sobre como um espiritualista precisa vivenciar determinado acontecimento da vida e dar a base para ele se apoiar para alcançar para alcançar esta vivência, que não é uma coisa comum de acontecer na vida humana. Acho que este acontecimento não ocorre na vida de ninguém: ser preterido, ou seja, escolherem outra pessoa que não você.
Isso não acontece na vida de todos vocês, não é mesmo? Ninguém nunca perdeu um emprego que estava buscando, ou seja, alguém foi escolhido no seu lugar; ninguém nunca viveu um momento onde outro foi escolhido para ser promovido; ninguém nunca viveu na vida um momento onde outra pessoa deixa muito claro que gosta mais de um do que dele? Claro que sim…
Esse é um momento que existe na vida de todo ser humano, que todos passam por ele. Por que isso acontece com todos? Porque esse é um grande momento onde os mandamentos ensinados por Cristo precisam ser colocados na prática. Este momento é corriqueiro na existência de diversos seres humanizados porque testa o amor a Deus acima de tudo e o amor ao próximo como a si mesmo. Por isso vamos conversar sobre ele…
Porque você é preterido em alguns momentos? Porque isso faz parte da vida, acontece na existência dos seres.
O que é vida? Encarnação, uma oportunidade de provação, que acontece através da existência das vicissitudes, do espírito. Portanto, posso dizer que sempre que um ser humanizado é preterido está vivendo uma vicissitude, está vivendo um momento negativo da sua vicissitude, da sua prova.
O outro não foi promovido porque puxa o saco do chefe, a outra não foi escolhida porque dorme com o chefe, aquela pessoa não prefere outra porque ela é mais bonita. Isso é ilusão gerada pela mente. Na verdade isso acontece na vida de um ser humanizado porque é a sua prova.
Ser preterido é um momento de vicissitude negativa seu e você precisa como espiritualista, como aquele que acredita haver em si algo além da matéria e que vive para esse algo mais caminhando no sentido de aproximar-se de Deus, aprender a vivenciar esse momento em harmonia. Não vivenciá-lo em harmonia com a mente, com o sofrimento que ela propõe, mas aceitando a promoção do outro sem sofrer com isso. É essa forma de vivenciar os momentos onde você é preterido que lhe leva a aproveitar a oportunidade espiritual que está tendo.
Aliás, não sei se vocês já entenderam, mas agora que já falei da existência da vicissitude, podem entender claramente que cada momento onde a mente propõe o sofrimento existe uma grande oportunidade para aproximar-se de Deus. Aquele que vivencia o acontecimento sofredor unido a Deus amando o próximo como a si mesmo, aproximar-se-á Dele. Não o vivenciando desta forma, mas sim preso ao seu processo mental, não conseguirá aproximar-se do Pai. Esta opção é a que está na questão 851 de O Livro dos Espíritos, que já comentamos: escolher entre o bem e o mal.
No entanto, como dissemos antes, além de mostrar a vivência que leva o ser humanizado a aproveitar a oportunidade da elevação, temos que dar um apoio para que o espiritualista se sustente quando da prática do amor. Por isso pergunto: que corrimão o espiritualista pode usar para se apoiar mentalmente e aceitar que alguém menos capacitado seja promovido no seu lugar, que aquela pessoa que considerava seu amigo acabe preferindo outro? Um ensinamento de Cristo que, humanamente falando, é muito esquecido: os últimos na Terra serão o primeiro no Reino do Céu.
Esse é o corrimão que pode lhe ajudar a atingir esta vivência. O espiritualista, aquele que fundamenta a sua existência nos ensinamentos dos mestres, não luta por posição de destaque. Ele não luta pela glória, pela vitória.
Ao afirmar isso não estou dizendo que ele não possa ter. Pode. Neste caso seria uma vicissitude positiva na sua existência. O que estou afirmando é que aquele que pretende usar esta existência para aproximar-se de Deus não deve transformar a glória, a honra individual, como busca. Ele não deve buscar isso, mas a glória pode acontecer naturalmente.
A questão do buscar ou deixar a glória vir naturalmente foi ensinada claramente por Cristo. O mestre ensinou: se você for convidado para um jantar, sente-se no fundo, porque se sentar na frente pode ser que o dono da casa lhe mande para o fundo e isso seria uma desonra. Sentando-se no fundo e sendo chamado para sentar na frente, será honrado.
Esse é outro corrimão que pode sustentar racionalmente o espiritualista para que ele se harmonize com o momento onde seja preterido, onde ele não é o escolhido. Ele deve saber que está sentado no fundo, mas não foi chamado para frente e por isso não há desonra. Agora, se vive a busca de estar na frente, de alcançar o sucesso, de ser famoso, pode vivenciar a desonra ao ser preterido.
Parece, pelo tamanho da conversa que estamos tendo agora que esta vivência é fácil para o espiritualista, mas cuidado. Cuidado porque o pensamento humano possui características – não estou falando sobre determinados seres humanos, mas de todos. Como o pensamento é realizado por uma personalidade que é por natureza egoísta, a mente do ser humanizado sempre promove formações mentais a partir dele e a favor dele. Tudo o que é pensado é da forma que é para que o eu individual seja atendido.
As características fundamentais de um pensamento são quatro. Todo pensamento tem como objetivo alcançar uma vitória, nem que seja simbólica; alcançar um prazer, viver a satisfação de ter seus desejos atendidos; tornar-se famoso, ser reconhecido; e tem também como fundamento buscar ser elogiado.
Quando falamos isso, vocês imaginam que é fácil se libertar do pensamento. Acham que encontrarão facilmente a busca que ele faz pela vitória e com isso conseguirão libertar-se daquela ideia. Mas, não é tão simples. Por quê? Porque a mente, além de egoísta, é hipócrita por natureza, ou seja, ela justifica essas buscas com falsas verdades, com verdades ilusórias.
Por exemplo: o caso da pessoa que foi preterida pra a promoção. O pensamento dessa pessoa quando ela for preterida dirá que ele é o melhor, que sabe mais que o outro e por isso o que aconteceu é injusto. Isso é hipocrisia, é puxar a brasa para a sua sardinha. É só uma justificativa para incitá-lo a vivenciar esse momento preso às criações mentais que querem ganhar, ter o prazer, alcançar o reconhecimento e o elogio.
Se você colocar em prática o amor ao próximo – e a prática do amor ao próximo é o respeito ao outro – entenderá que só uma pessoa pode dizer quem é o melhor: aquele que escolheu quem será promovido. Não é você que tem que saber se é melhor que o outro, mas aquele que tem a responsabilidade de realizar a promoção. E, como ficou claro pelo que aconteceu, ele achou que o próximo era mais capaz, tanto que o promoveu e não a você.
Essa questão é importante: você precisa respeitar o que os outros pensam. Não respeitando o direito de cada um ter verdades diferentes de você, cairá nas tentações geradas pela mente quando ela, usando suas verdades individuais e querendo ganhar, lhe iludir dizendo que o outro está errado. Ele não está nunca errado, pois agiu de conformidade com a sua individualidade, com as suas verdades. Respeite esse direito que ele tem…
Por isso comecei dizendo que a questão que estamos tratando agora é uma grande prova do amor a Deus e ao próximo. Quando você, aceitando o que a mente afirma como se isso fosse uma verdade universal, está preocupado em ser o primeiro, acha-se o merecedor dessa distinção, sofre quando é preterido, não ama a Deus nem ao próximo. Isso porque quem reclama de ser preterido não ama nem quem foi escolhido nem quem realizou a escolha, já que não os respeitou.
Fica, então, o recado: muito cuidado com as armadilhas que estão no pensamento. Não aceite as justificativas criadas pela mente para dizer que você é que deveria ser o escolhido, que você deve ser o melhor, porque senão estará sendo hipócrita e quando isso acontece, não consegue caminhar no sentido de aproximar-se de Deus.

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