Participante: esta consciência da potência de Deus existe no instinto, não?


Sim, e é por isso que afirmo que você precisa eliminar todos os conceitos presentes na razão. Quando eliminá-los, poderá viver apenas instintivamente o que, como já vimos, é indicado pelo Espírito da Verdade para aquele que quer alcançar a elevação espiritual.
Aliás, foi assim que todos aqueles que conseguiram a santidade – a vida em plenitude com o Pai – viveram. Eles abandonaram o que queriam e diziam: que seja feita a vossa vontade. Abandonaram a presunção de fazer e disseram: Senhor, guia meus passos.
Quando a questão é unir-se a Deus, sempre oriento a leitura das cartas de Paulo. Apesar delas serem exíguas para a compreensão da visão que esse apóstolo tinha sobre o viver em Deus, podem lhe trazer um pouco do despertar que Paulo conseguiu na estrada de Damasco e depois.
Paulo era um judeu e um dos maiores professores da lei do Sinédrio. Nesse lugar onde se debatia a lei de Deus passada pelos profetas judaicos, era um dos maiores debatedores e gostava muito de mostrar o quanto sabia sobre o assunto. Por causa disso, inclusive, perseguia aqueles que seguiam Cristo.
Um dia, dentro de uma das suas perseguições a cristãos, Paulo, que à época se chamava Saulo, na estrada para Damasco é atingido por um raio e cai do seu cavalo sem poder enxergar mais nada. É levado a uma hospedaria onde um cristão lhe socorre e cura a sua cegueira. Durante o tempo que esteve cego, teve uma compreensão perfeita de tudo o que o mestre nazareno ensinava.
Isso é o que a Bíblia conta. A partir disso, pergunto: qual a primeira coisa que ele fez quando teve a compreensão? Foi para o Sinédrio participar das discussões, só que agora defendendo os ensinamentos de Cristo. Apesar de ser proeminente naquele meio, apesar de ter plena consciência de tudo o que o foi passado pelo Messias, os membros do Sinédrio não aceitaram o que Paulo falava e começaram a persegui-lo. Por causa disso, teve que fugir.
Desiludido porque não tinha conseguido convencer os professores da lei judeus, Paulo, que adorava os debates, foi para a casa de seu pai. Chegando lá, como todo professor da lei, Paulo dedica-se a conversar com seu pai, que também pertencia à classe dos dirigentes do judaísmo de então, sobre os ensinamentos que tinha aprendido. Acontece que o pai dele também não aceita as novas verdades. Mais uma vez Paulo tem que fugir.
Cansado, sentindo-se derrotado, pois adorava discutir e mostrar o quanto sabia, mas as pessoas não mais acreditavam no que tinha a dizer, Paulo adormece à beira de uma estrada. Nesse momento um anjo do senhor lhe aparece em sonho. O novo apóstolo, então, pergunta o que deve fazer. O anjo do senhor lhe diz que deve abandonar tudo e partir sem rumo. Ainda desiludido, pois o que gostava mesmo era de debater os assuntos religiosos, mas não conseguia mais fazer isso, Paulo sai pelo mundo.
Durante quatro anos vaga pelo mundo vivendo do seu tear e meditando sobre tudo que ouviu na estrada de Damasco. Só depois desse tempo é que retorna à condição de apóstolo e assume a transmissão dos ensinamentos de Cristo aos não judeus.
Contei essa história para que você entenda que a meditação como processo para a elevação espiritual não é algo que acontece da noite para o dia, mas que requer muito trabalho. Se até Paulo que, como ele mesmo diz, recebeu os ensinamentos no mais alto dos céus, precisou de quatro anos para realmente alterar o sentido da sua vida, imagine você, que está recebendo os mesmos ensinamentos rodeado por tantas questões materiais que envolvem sua vida. Será preciso muito trabalho para poder transformar o valor essencial da sua vida. No entanto, saiba que trabalhando com afinco poderá penetrar na mesma compreensão que o apóstolo penetrou e com isso conseguirá se unir a Deus, como ele fez.

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