Bhagavad Gita – Capítulo II – versículo 18. Estes corpos, nos quais habita o Eterno Ser, imortal e incomensurável, têm fim; por conseguinte, luta, ó descendente de Bhârata!

Lembrem-se de que Arjuna não queria entrar nesta guerra, não queria lutar, porque imaginava que ao ferir o corpo dos seus parentes, iria matá-los. Mas, acontece que, de qualquer forma, este corpo terá fim! Sendo assim, qual o problema de o corpo acabar hoje ou amanhã? Um dia ele vai acabar, mas qual será o dia que ele acabará?

Participante: no dia que acontecer a morte.

Você está completamente fora do Universo… Onde está Deus na sua frase? Onde está a ação Deus nela?

Participante: a morte ocorrerá na hora que Deus precisar que ela ocorra…

Deus não precisa de nada… A hora da morte ocorrerá quando o equilíbrio universal precisar e você merecer que isto aconteça.

Mas, quando será percebida por você a hora da sua morte? Quando o amor de Deus for decodificado pelo seu ego desta forma. Se tudo é Deus e Sua ação e se esta é sempre decodificada pelo ego de uma determinada forma, tudo o que acontece é o amor de Deus decodificado daquela forma.

Para que exista um corte num corpo é preciso a ação Dele. Mas, o que é esta ação? O que pode matar e desintegrar um corpo? O amor de Deus…

Sendo assim, jamais um corpo acabará sem que Deus crie esta ação e Ele jamais a criará fora do seu carma. Isto porque Ele é o Sublime Administrador dos carmas.

Tudo é carma e tudo é o amor de Deus em ação, porque o amor de Deus em ação se chama carma… Carma é o amor de Deus, porque a ação Dele é a única coisa que existe no Universo.

Mas, para que serve este ensinamento para nós? Como se vivenciar este ensinamento na prática, no dia a dia da vida? De que serve saber que o corpo não morre, mas que há uma modificação de aparência? Compreender que Deus está te amando e você está sofrendo.

Quando se conhece a Verdade do Universo (Deus age constantemente amando os espíritos e os egos decodificam esta ação sob diversas formas), deve-se ter a consciência de que Deus te amou naquele momento, enquanto o seu ego lhe diz que foi acusado, vilipendiado, abandonado, morto etc.

Participante: então, o problema é sempre o sofrer?

Sim, o problema é sempre o sofrer…

Veja o que diz Krishna no item 11 deste estudo: “Estivestes lamentando-te por aqueles que não o merecem. Todavia, pareces falar como um sábio. Só que os verdadeiros sábios não se lamentam nem pelos vivos nem pelos mortos”. Quando você está se lamentando pela ação que vivenciou, parece uma pessoa sábia, mas não é. Se você morreu, isto não foi um ato de maldade, mas sim o amor de Deus que foi percebido pelo seu ego desta forma.

É isso que venho dizendo há muito tempo para vocês: não se importem com nada do que façam… Isto porque vocês não fazem nada: são instrumentos do amor de Deus, o sal da terra. Sendo assim, qualquer ato que pratiquem é o amor de Deus em ação. Já o seu sofrimento ao participar de qualquer ação é uma visão individualista do amor de Deus.

Participante: se é assim, quando matei um rato hoje, o envenenamento terrível que ele sofreu fez parte do carma dele?

“Envenenamento terrível” é uma percepção que você está tendo sobre o amor de Deus, e não uma realidade… Além do mais, você tem a percepção disso ter acontecido, não sabe se o rato a tem igual…

Saiba que mesmo que você tenha uma percepção sobre as coisas, isso não quer dizer que todos os outros seres, principalmente os de classe diferente da sua, também as tenha. Lembre-se de que, apesar do estômago ser o mesmo em todo os seres humanos, existem coisas que você come e passa mal, mas outras pessoas não passam. Isto porque a dor é uma percepção dada por Deus, e não uma realidade do corpo físico.

Apesar de afirmar que o rato pode não ter sentido nada que você imagina que sentiu, posso garantir que, se ele passou por tudo isso, foi Deus quem criou isso, foi a ação Dele. Portanto, foi amor em ação. Agora, a individualização, ou seja, sentir que o rato sofreu, é que te tira da interpenetração no Universo…

A interpenetração no Universo acontece quando você tem a consciência de que não matou rato algum: Deus amou.

É isso que vocês precisam compreender. Se Deus é o Supremo Administrador dos carmas, você não pode fazer nada que um rato não mereça. Não se esqueça de que as sensações de uma existência, não importam de que forma, sempre servem para futuras encarnações. Então, ao morrer por um “envenenamento terrível”, o espírito que habitava o rato teve uma lição que levará para eternidade.

A vida na matéria é uma escola, um gerador de informações para a vida eterna. Ela não é castigo, não é punição, não é carma punitivo…

Como é que você pode saber qual a sensação e a percepção de tomar um choque elétrico?

Participante: tomando choque…

Então, tomar choque é bom ou mal? Não é bom nem mal: é aprendizado. Será bom se você passar a gostar de toma choque, será mal se não gostar. Mas, de qualquer jeito, você só poderá saber o que sentirá pelo ato de tomar um choque quando o tomar.

Ao tomá-lo, aprende-se alguma coisa… Se me basear pela lógica humana, posso dizer que você aprende a não por mais a mão ali…

Por isso, afirmo que qualquer das situações que o espírito passe, seja no mundo racional ou não, não é punição, mas sim aprendizado. Nada em qualquer existência é punição, mas exercício de escola, aprendizado. Sendo assim, é um ato amoroso, pois proporciona uma oportunidade de aprendizado…

Está vendo o que faz não interpenetrar na realidade do Universo? Você passa a chamar o amor de Deus de punição…

Interpenetrar na realidade não é mudar atos, atitudes, mas sentir-se constantemente amado pelo Pai.

Há muitas pessoas que se culpam por suas ações durante a existência carnal. Algumas já vieram até conversar comigo sobre isso. Eu nunca as acusei de nada. Sempre disse que não me importava com o que elas faziam, mas demonstrei preocupação com a capacidade de sofrer que elas tinham ao vivenciar o errado que viam nelas ou nos outros durante as ações. Isto porque eu sei que elas nada fazem de errado.

Tudo o que elas fazem é o amor de Deus em ação, são elas servindo de instrumento a Deus. O problema não está no que fazem, mas no que elas sentem enquanto servem de instrumentos ao Senhor, ou seja, a forma como retribuem o amor de Deus…

Sendo assim, se você brigar com alguém, não sofra por que brigou. Tenha a consciência de que, se brigou, era porque tinha que brigar e acabe com os pensamentos sobre aquele acontecimento naquele momento. Não fique racionalizando posteriormente, não fique preocupado com os acontecimentos futuros que poderão advir dele, não fique se acusando por ter participado daquela ação como um suposto agente dela.

Interpenetrar o Universo é viver a realidade. Esta é dinâmica, ou seja, altera-se constantemente… Se você discutiu com uma pessoa num determinado momento, este momento já acabou; o momento presente é outro… A pessoa com quem você discutiu já não está nem mais presente à sua frente… Então, para que ficar racionalizando e se lembrando do que aconteceu?

Esta é uma fonte de sofrimentos… Não há necessidade de ficar vivenciando aquele acontecimento por outros momentos. Isto porque, ao recriar o momento, você também recria o sofrimento…

A angústia, a revolta ou a culpa de agora são criações atuais do que já tinha acontecido. Não se tratam de sofrimentos ligados ao passado, mas sim criados agora… Na hora que você discutir com uma pessoa, quando acabar este momento, não mais o vivencie, ou seja, não aceite mais as criações do ego a respeito dele…

Mas, para chegar a viver a vida desse jeito, é preciso trabalho. Este não é um tipo de acontecimento que ocorre de uma hora para outra. Portanto, caminhe devagar. Não há pressa…

O importante é entender que a luta daqueles que querem se unir a Deus não é no sentido de lutar contra sua forma de agir, porque ela faz parte do Universo. Você não deve lutar contra a sua forma de agir, pois ela não é sua: é a forma do amor de Deus agir através de você. Ou seja, é um papel que você desempenha para que o Universo esteja sempre equilibrado. Ao invés de lutar contra isso, louve a Deus por você ser do jeito que é, pois, se isso não acontecesse, o Universo estaria desequilibrado. Sabia que você, não importa como seja, é o ponto de equilíbrio do Universo?

Aquela imagem do santo puro que não faz mal a ninguém é ilusão… Leia a vida carnal dos santos que entenderá o que quero dizer…

Mesmo depois de conseguir a santidade, São Francisco de Assis brigava com os homens para proteger os animais, ou seja, quebrava o próprio ensinamento. Gandhi, o pacifista, lutava, mesmo que sem armas, contra o domínio do império britânico. Isso não quer dizer que eles estavam errados, mas sim que esta forma de agir era a função deles naquelas vidas. Santa Agostinho, em seu livro “Confissões”, fala claramente disso: na hora que agi, era instrumento de Deus…

Sentir-se instrumento do amor de Deus é alcançar a consciência universal; é a interligação com o Universo…

Vamos esquecer padrões… “Ah, o ser universal não mata.”: este é um padrão que o ser humano criou, e não uma verdade universal. Nós estamos estudando um livro, dito sagrado, onde Arjuna não quer matar, mas o mestre insiste que ele deve fazer isso. E diz mais: se você não for matar, não conseguirá sua elevação.

Através dos ensinamentos, Krishna está deixando bem claro a Arjuna que ele precisa servir o próximo e que, no caso dele, o serviço é matar seus parentes. Mas, para orientá-lo a ter sucesso na elevação espiritual ao praticar este serviço, o mestre lhe diz que deve matar sem raiva, culpa ou prazer.

Mais tarde, neste estudo, iremos entender que Krishna diz a Arjuna que o está incitando a matar por um dever devocional. O que é um dever devocional? É a prática de ações com subordinação a Deus. Deus lhe faz dizer a outras pessoas o que elas têm que ouvir. Você, se quiser aproximar-se Dele, precisa se subordinar a esta determinação e amá-Lo por lhe ter feito um instrumento para aquela determinada ação, ao invés de querer ser outra pessoa, fazer outra coisa…

Na hora que a sua consciência lhe disser que a sua ação, não importa qual seja, é o amor de Deus escoando através de você, alcançará o serviço devocional…

Cada um na sua função, vivendo o seu papel dentro da peça Divina Comédia Humana, agindo, tendo a consciência de que é o amor de Deus escoando através dele, sem achar nada sobre o acontecimento: este é o mundo onde Deus é o Senhor… Já falamos isso diversas vezes com outras palavras, mas acho que usar este termo que Krishna usa (serviço devocional) deixou mais claro o que eu queria dizer.

Querer viver um padrão de santidade para se considerar santo é um serviço devocional a você mesmo. Isto porque está se entregando ao seu patrão de santidade.

Quem disse que um ser elevado espiritualmente não briga com ninguém? Cristo só brigou com todo mundo… Só que, quando Ele brigava, não tinha raiva dos outros, não sofria porque tinha brigado nem tinha o prazer de brigar ou de sentir-se o certo. Ele fazia como serviço devocional a Deus porque tinha a consciência de que não era Ele quem falava, mas que Deus agia através Dele.
Joaquim de Aruanda

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