Eu fui morto na cruz com Cristo. Assim já não sou eu quem vive, mas Cristo é quem vive em mim. E esta vida que agora eu vivo, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, quem amou e se deu a si mesmo por Deus, que me amou e se deu a si mesmo por mim. Não rejeito a graça de Deus. Pois, se é por meio da Lei que as pessoas são aceitas por Deus, então não adiantou nada Cristo morrer!

Veja bem: se uma pessoa for aceita por Deus simplesmente porque cumpriu a lei, porque fez tudo aquilo que é apontado como certo pela humanidade, então, posso afirmar que Cristo não foi aceito por Deus.

Isto porque durante a encarnação “Jesus Cristo”, o espírito mestre da humanidade vivenciou a quebra de todas as leis da época. Até o não matar foi quebrado por ele ao matar uma figueira que não estava produzindo, numa época que não deveria mesmo dar frutos.

Portanto, se o mestre durante aquela encarnação não cumpriu a lei, não foi aceito por Deus. E se Cristo não foi aceito por Ele e você o segue, ou seja, se diz cristão, então é participe do diabo, ou seja, do inimigo de Deus.

 Mas, Cristo foi aceito por Deus e a ressurreição prova isso. Portanto, isto quer dizer que para você atingir a elevação espiritual precisa não se tornar prisioneiro da lei, não se sentir obrigado a fazer tudo que é certinho, não fazer tudo de acordo com as normas, como Cristo também não se sentiu.

O que precisa ser alcançada não é a obediência cega à lei, mas aquilo que o mestre alcançou. Segundo João, Cristo era o verbo, ou a ação do amor. Portanto, é a ação praticada com a consciência amorosa (amor em ação) que leva à aceitação por Deus.

Não importa o que você ou outra pessoa faça, ame a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Essa é a única garantia que tem de elevação espiritual, pois foi ela que Cristo deixou como caminho.

Esse é o testamento, o Evangelho deixado pelo mestre. Quando Cristo come nos sábados, o que era contrário aos códigos de leis judaicos, deixa bem claro para os professores da lei que o acusam: vocês não sabem o que quer dizer nas Sagradas Escrituras quando Deus fala “Eu não quero que queimem incensos em meu louvor, mas que sejam bondosos”.

Quando um ser humanizado faz só porque é certinho, porque está dentro da lei, está queimando incensos a Deus e não agindo por bondade ao próximo, por amor ao Pai. O amor à Deus e ao próximo se traduz pela não aplicação do certo e errado, mas por viver praticando todas as ações em louvor a Deus.

E aí nos lembramos do ensinamento de Krishna: fazer tudo sem intencionalidade, sacrificando-a a Deus. “Deus eu não queria vir a este lugar, mas estou aqui: louvado seja o seu Nome. A minha intenção de não estar aqui eu doo em sacrifício ao nosso amor e vivo feliz, estando aqui”.

Essa é a consciência amorosa em prática. Ela se traduz através de uma célebre frase de Cristo que já cansei de dizer que deve ser o guia da vida de vocês: Pai afasta de mim este cálice, mas se não for possível que seja feita a vossa vontade e eu estarei feliz do mesmo jeito. Esse é o ensinamento maior que o ser humanizado pode compreender durante a existência carnal.

Se eu disser que é necessário que que deixe de querer, de ter intenções, certamente você não conseguirá, pois cada ser humanizado tem o seu ego impondo vontades constantemente. Como ter essas vontades não depende de você e não poderá ser alterado até o fim da encarnação, dizer simplesmente deixe de querer perde o sentido.

Na verdade, o máximo que você pode fazer nesse sentido durante a encarnação é conviver com a cobrança do ego e reagir dizendo a si mesmo: Pai, o ego está me cobrando isso, mas não foi isso que o senhor fez acontecer. Louvado seja o Senhor.

Aliás, eu gostaria de recomendar às pessoas a leitura das tentações de Cristo no deserto. Veja se a sua vida não se baseia exatamente nas tentações que estão lá estampadas.

Observação: Estas são as três tentações que Cristo sofreu no deserto.

1. Diabo: “Se você é Filho de Deus, mande que estas pedras virem pão”. Cristo: “As Escrituras Sagradas afirmam que o ser humano não vive só de pão, mas vive de tudo o que Deus diz”.

Trata-se da tentação de utilizar a vida carnal para gozar o bem material (pão). A vida carnal não é feita com esta finalidade, mas para se “aprender o que Deus diz” (o amor, a comunhão universal).

2. Diabo: “Se você é Filho de Deus, jogue-se daqui de cima”. Cristo: “Mas as Escrituras Sagradas também dizem: não ponha à prova o Senhor, o seu Deus”.

 A tentação de usar Deus para conseguir o bem material. Quem cede a esta tentação é aquele que busca em Deus a segurança para viver o bem material durante esta vida.

3. Diabo: “Eu lhe darei tudo isto se você se ajoelhar e me adorar”. Cristo: “As Escrituras Sagradas afirmam: adore o Senhor, o seu Deus, e sirva somente a ele”. (Marcos – 4,4-10).

A tentação de viver a vida carnal pelo sentido material que humanidade impõe: crescer materialmente, culturalmente, socialmente. Quem cede a esta tentação adora ao diabo (ao ego) e não a Deus e por isto não transforma a elevação espiritual como objetivo primário da existência.

Aí está um belo exemplo de uma vida cristão, de uma vida espiritual: saber renegar a materialidade e os desejos oriundos da humanização e colocados por Deus através do ego como provação ou missão.

No entanto, é preciso que você sofra a tentação de viver a materialidade, pois sem ela não há vitória. Se não houvesse o ego para lhe tentar você não teria o que vencer e, desta forma, não poderia alcançar a elevação espiritual.

É preciso compreender que a elevação espiritual é adquirida pelo merecimento que é gerado quando se vence algo. Sem vitória não há merecimento e sem ele não há motivos para a existência da vida carnal.

Então, se você ficar esperando matar o ego para alcançar a sua elevação espiritual jamais conseguirá. Você precisa ser tentado pelo ego, ou seja, ter desejos, vontades individualistas, mas o ao mesmo tempo necessita, pela fé (confiança e entrega a Deus) suplanta tudo o que o ego lhe impõe para, assim, retirar o condicionamento da realização desses desejos para ser feliz e alcançar a bem-aventurança.

Realizar a elevação espiritual, portanto, não é tão difícil assim: não há necessidade de se eliminar o ego (parar de desejar), mas apenas aprender a conviver com o desejo agindo através da fé.

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