Participante: tenho mais de cinquenta anos e cheguei à conclusão que fali como ser humano. Me preparei para ser um profissional e estou desempregado. Não consegui constituir família e os meus parentes não me procuram. Isso me causa uma sensação angustiante.

Você me fala que faliu nessa vida. Diz isso porque está com mais de cinquenta anos, e se preparou para ser um profissional, mas acabou desempregado, se preparou para ser um bom filho, mas no momento a sua família não lhe procura, porque se preparou para ser o marido e o pai, mas não possui uma família sua, não é casado. Vamos tentar entender isso.

O que fez para chegar a todas estas conclusões? Julgou-se. Avaliou a si mesmo e chegou a uma sentença sobre você. Isso é o que fez.

Agora, Cristo ensinou que não devemos julgar, nem ao outro nem a si mesmo. Então, fazer o que fez é algo contrário aos ensinamentos deste mestre. Só por isso, deveria ser algo que não fizesse. No entanto, apesar da orientação de Cristo, vocês não conseguem deixar de julgar. Por que isso acontece? Porque o próprio pensar é julgar e vocês não conseguem deixar de pensar nunca.

Pensar e analisar uma informação a partir de uma verdade estabelecida é o processo do julgamento e do pensamento. Portanto, é impossível deixar de julgar. Quando pensa sobre si mesmo, é impossível deixar de julgar-se.

Portanto, temos algo que não deveria fazer, mas que inevitavelmente faz. E se isso é inevitável, é sinal que precisamos encontrar um meio termo de conviver com isso. Se o auto julgamento não pode deixar de ser feito, temos que encontrar um meio de conviver com ele. É sobre esse meio de viver com isso que quero lhe falar.

Você diz que faliu como profissional, como marido, com membro de família. Esses três aspectos que julgou a sua participação na existência não correspondem a tudo na vida. Existem outros aspectos, outras atividades nela que não só essas três. Será que nesses também faliu? Será que se portou mal neles? Não sei a resposta. Só quem saberia é você.

No que acabei de falar está o primeiro detalhe para aprender a conviver com o auto julgamento. Saber que ele não é completo, não é perfeito.

O auto julgamento é feito sobre aspectos, mas pode e há outros onde a sentença pode ser diferente. Só por isso não deve dar tanto valor a esse julgamento. Este é o primeiro ponto, a primeira coisa que deve ter em mente.

Se a sua personalidade humana lhe joga esses valores sobre si, não aceite, porque eles são incompletos, porque não retratam a realidade real. Pode ter falido em três pontos, mas pode não ter falido em dez. Se é impossível deixar de se auto julgar, continue analisando outros aspectos da vida e não só o que a mente joga. Se fizer isso, encontrará um lado bom em você, porque não há nada que seja completamente errado ou bom.

Segundo aspecto que quero abordar sobre o auto julgamento.

Como disse, julgar é analisar uma informação à luz de uma verdade. A partir disso, pergunto: o que dará força à sentença? É o que está sendo analisado? Não. É ao que aquilo que está sendo analisado será comparado.

É essa regra que é usada para julgar o que está acontecendo que vai levar a uma sentença. Por exemplo: não matar é uma lei, uma regra que serve para analisarmos alguns atos como o de atirar em outro, de dar facadas em outro, de esganar outras pessoas. Mas, o ato em si, se não analisado à luz da lei não mate, não contém erros, não está errado. Só quando compara à uma regra é que acaba achando um erro ou um acerto.

Entendido isso, lhe pergunto: você é espiritualista? Acredita na vida depois da vida? Acredita que está encarnado e que por isso precisa realizar determinadas provações? Que ao realiza-las precisa fazer um trabalho para que receba o lucro na outra vida? Acreditando em tudo isso não pode usar regras que se prendam a esta vida para julgar-se.

Repare bem. Diz que faliu como profissional, mas qual o valor para o espirito ser um bom profissional no sentido de profissão humana? Nenhum. Qualquer profissão humana não existe no mundo espiritual, a não ser no dos devas.

Diz que faliu porque a sua família não liga para você e porque não constituiu a sua própria. Mas, Cristo não ensinou que no céu não há casamento? Mas, o Espírito da Verdade não disse que temos que abrir nossa família para incluir tanto o superior como o inferior como se fizesse parte dela? Se esses foram os ensinamentos dos mestres, qual a importância de constituir ou fazer parte de um pequeno núcleo familiar para o espírito? Nenhuma.

É isso que precisa também estar atento se é inexorável que se auto avalie: o que usará para avaliar-se? O que usará como critérios para determinar se faliu ou não? Quando não atenta a este detalhe deixa a mente trabalhar por conta dela e ela sempre se apegará à regras humanas. Por isso decretará que faliu como ser humano, mas qual a importância para o espírito de se realizar humanamente falando? Acho que aquele que é espiritualista deveria estar concentrado em realizar-se no sentido espiritual e não no humano.

Veja, o que falamos aqui são duas formas que precisa usar para interagir com o julgamento que não foi você quem fez, mas a vida, a mente. Para que ela fez este julgamento? Para ver se você se ama mesmo ela tendo decretado a sua falência humana.

É isso que lhe chamo para ver, para reparar. Reparando nestas questões, todo o julgamento que a mente gerou não mais lhe tirará a paz, a harmonia ou a felicidade de viver consigo mesmo.

Qualquer coisa que queira acrescentar ou perguntar, estamos à disposição.

Compartilhar