18. Aquele que ama o amigo e o inimigo, que é equânime da honra e na desonra, que não se altera com o calor e com o frio, com o prazer e com a dor, livre de todo laço.

19. Aquele que não se comove com o louvor fácil e com a áspera censura, que é silencioso e desapegado, que está contente com tudo, que não está comprometido por um lar, que possui uma firmeza mental, esse que assim Me ama, esse é Meu amado.
Bhagavad Gita

Tem uma frase interessante neste assunto, que, aliás, está presente nos ensinamentos de todos os mestres. Já estudamos este assunto em todos os ensinamentos que vimos, mas em Krishna é a primeira vez que este assunto é tocado: aquele que não está comprometido com um lar…
Todos os mestres ensinam aos seres humanizados a não se comprometerem com um lar. Tem uma história no Bhagavata Puranas onde Krishna conta o seguinte.
Um passarinho encontrou uma passarinha e ficou perdidamente apaixonado por ela. Ele fazia tudo por ela até que um dia tiveram um lindo passarinho. O filhote vivia voando pela mata cantando. Um dia, o filho do passarinho caiu na rede um caçador. A mãe desesperada por causa disso foi tentar salvá-lo e também ficou presa à rede. Neste momento, o pai perdeu toda a sua alegria de viver.
A prisão àquilo que vocês chamam de família é a sentença de morte para a felicidade do ser. Cisto ensinou isso, Buda, também. O próprio Espírito da Verdade também ensinou a mesma coisa. Agora vem Krishna e nos alerta sobre a mesma questão.
Todos os mestres ensinaram isso e quando repito o que eles disseram vocês dizem que eu sou insensível. Quando ensino que para seguir Cristo e chegar a Deus é preciso abandonar pai e mãe, vocês dizem que não sou amoroso, mas o próprio mestre nazareno ensinou isso.
O laço familiar só existe neste mundo, pois no universo não existem diversas famílias, mas apenas uma: a família de Deus. Quando vocês separam a família de Deus em pedacinhos e se prendem a eles, estão mortos. Falo assim, porque vocês estão querendo dividir o indivisível e com isso não conseguem ver a emanação de Deus através das pessoas, objetos e acontecimentos deste mundo.
Esta informação completou todos os ensinamentos que poderíamos retirar do Bhagavad Gita. Se como foi dito até aqui é preciso que o ser humanizado se liberte de tudo o que é material, nós não podemos manter nada que pertença apenas a este mundo.
Como ensinou Krishna nos versículos que estudamos, tudo só é sagrado quando encarado como emanação de Deus. Apesar deste aviso, ainda separamos partes das coisas do mundo material para tornar sagrado. Isso é impossível. Quando se consagra alguma coisa, transforma-se outras em diabólicas.
A liberdade que o espírito alcança quando se liberta das coisas materiais é suprema, ou seja, ele se torna livre de tudo que é material, de toda e qualquer amar que lhe prenda a esta vida, a este mundo, às leis deste mundo, a qualquer elemento do sistema humano de vida.
O verdadeiro sábio é completamente, Isso não quer dizer que precisa ficar solteiro. Não, ele pode até ser casado, mas precisa estar liberto da amarra da família. Ele não vive em devoção ao marido, esposa ou filhos, mas em devoção a Deus. Ele vê Deus através do cônjuge e não 0o ser humano.
Participante: precisamos ver Deus em todas as coisas.
Perfeito, mas você não vê a manifestação de Deus através dos outros, principalmente daqueles que agridem a sua família, porque está preso àquela família.
Não estou falando aqui, assim como os mestres também não falaram, que vocês não devem casar. O que estou dizendo é que vocês devem se casar com Deus. Quando fizerem isso vão conseguir ver no outro a emanação de Deus e não o homem ou mulher da sua vida.
Quem vive com os seres criados pelo ego, não vive com Deus. Por conta desta vivência é que os seres humanizados sentem-se às vezes feridos ou magoados por alguém. Se estivessem em conexão com Deus, como poderiam imaginar que o Pai possa ferir ou magoar alguém?
É isso que Krishna está nos ensinando e que todos os mestres também ensinaram. Quando Cristo nos diz que se deve abandonar pai e mãe para segui-lo, ele fala em abandonar a figura do pai e a da mãe para poder se conviver com o ser humanizado que está exercendo aquele papel como sendo emanação de Deus.
É por conta da dificuldade em conviver com o parceiro como uma emanação de Deus que Paulo ensina: o melhor era vocês não se casarem. Mas, para poder conter um pouco o seu individualismo, case. No entanto, ao casar, saiba que você não está se unindo a ninguém, porque cada um tem uma vivência, tem a sua própria vida para viver. Quando se devota ao outro, deixa de viver a sua vida.
Portanto, não precisa deixar de criar a sua família, mas conviva com ela sem amarras, sem a obrigação que cada membro dela satisfaça o outro. Na família cada membro não pode exigir que o outro satisfaça seus desejos, mas tem que trabalhar para sentir-se amado pelo Pai, pouco importando o que esteja acontecendo.
Esta é a diferença entre a vivência do casamento como hoje acontece no planeta, uma comunhão onde se busca a satisfação e a idolatria a si no outro, e o que é entendido como casamento pela espiritualidade. Já comentamos a resposta que Cristo dá aos fariseus quando eles perguntam sobre a mulher que ficou viúva de sete irmãos: no céu não existe casamento.
Cristo diz isso, mas a igreja cria uma santidade para o casamento. Paulo fala a mesma coisa e a igreja, que é apostólica, fundamentada nos ensinamentos dos apóstolos, e diz que a união matrimonial é santa e que não pode ser desfeita. Como elas querem gerar um compromisso que dure uma existência inteira se Cristo ensinou que não se deve jurar por nada, que não se deve comprometer com coisa alguma?
A formação do núcleo familiar que vocês vivem hoje é totalmente material, tanto assim que ele é sacramentado com a assinatura de um contrato. Ao fazer esta negociação humana, você se sente aprisionado àquela união.
Saiba de uma coisa: para aquele que busca a verdadeira devoção a Deus, a vida precisa ser vivenciada nos detalhes e não no atacado. É preciso estar atento a cada detalhe da vida para poder se libertar da ação do ego e com isso conseguir vivenciar a devoção que o aproxima de Deus. Portanto, de nada adianta se libertar de muitas coisas, mas ainda manter-se preso ao núcleo familiar que vive.
Apenas volto a repetir: não estou falando em se separar, mas em aprender a viver com os membros deste núcleo dentro da verdadeira devoção a Deus. É preciso romper a dependência destes membros com a qual você vive a vida.

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