Estamos fazendo um estudo chamado ‘Vivência espiritualista’. Nele estamos observando alguns aspectos da vida humana e buscando dentro dos ensinamentos dos mestres como vivenciar esses acontecimentos sem perder a caminhada no sentido a Deus, a paz e a harmonia com os acontecimentos desta vida.
Essa paz e harmonia foram chamadas por nós de felicidade plena. Por causa disso, vocês acham que não ter esta paz plena é ser infeliz. Isso até é verdade, mas quando se fala de infelicidade, quando se fala de sofrimento, o ser humano não consegue compreender perfeitamente esta questão.
Por isso, hoje como vamos falar especificamente de momentos da existência humana onde haja sofrimentos, é necessário, antes de tudo, compreender o que é sofrimento. Portanto, para começar este assunto vamos primeiro falar do que é sofrimento.


Existem dois tipos de sofrimento. Não estou falando de tipos de coisas que causam sofrimento, mas tipo de sofrer. Há um sofrer humano e outro espiritual.
O que é um sofrer humano? É uma razão, um pensamento com ideias sofredoras. Por exemplo: uma pessoa fala alguma coisa e sua mente lhe diz que você está sendo agredido, por isso deve sofrer. Este é o sofrimento humano, um sofrimento que pertence à vida, à mente e não ao ser.
Numa conversa que acabamos de ter em São Paulo, uma pessoa disse que um parente dele estava sofrendo porque tinha perdido o filho e ele imaginou que este sofrimento fosse espiritual, mas não é. Trata-se de um sofrimento humano, pois é um sofrimento criado e proposto pela mente. É a mente que diz que precisa haver um sofrimento porque a pessoa perdeu um filho.
Já o sofrimento espiritual ocorre quando você aceita o sofrimento proposto pela mente. Por isso disse àquela pessoa naquela hora: ela não está sofrendo. Disse isso porque sei que ela não aceitou o sofrimento proposto pela mente, apesar de aparentemente a vida dela ser sofredora.
O que estamos falando está complexo? Acredito que sim e isso acontece porque tem que ser complexo. Para descomplicá-lo a primeira coisa que é preciso ser entendida é que é necessário separar você de você mesmo.
Existe um você que é o humano e outro que é alguma coisa que você não sabe o que é. Este último trata-se daquele que foi definido por uma pessoa em uma de nossas conversas como ‘aquele que vocês chamavam de espírito’.
No caso do exemplo que estou usando quem está sofrendo é o humano e o aquele que você não sabe quem é está em paz com Deus. Vou tentar explicar isso. Vou tentar explicar como o você que não sabe quem é pode não estar sofrendo quando o você humano sofre.
O que é você humano? É a própria vida. Não existe um elemento vivendo uma vida, mas sim uma vida se apresentando a este você que não sabe quem é.
Essa vida é composta de fatores externos, como a movimentação das coisas, as formas delas, as sensações e as percepções. A estas coisas se agregam as formações mentais e a memória. Estas fazem declarações expressas sobre o que está ocorrendo no mundo externo. Vou explicar…
Já usei este exemplo neste estudo: uma mão vem de encontro a um rosto. Isso é uma movimentação externa. Neste momento a mente forma um pensamento que diz que aquela pessoa foi agredida. Aceitando esta declaração, aquele momento transforma-se numa agressão. Na verdade não houve agressão; o momento só virou uma agressão porque a mente afirmou que era isso que estava acontecendo. Portanto, é a partir do que a mente diz que a vida daquele ser torna-se ser agredido.
Compreender esta questão é muito importante para o assunto de hoje porque ser agredido é uma coisa, uma mão movimentar-se em direção a um rosto é outra coisa. Além disso, é muito importante porque com este exemplo descobrimos o que é vida.
Estamos falando de vivenciar a vida e, portanto, é importante descobrir o que é vida. A vida é tudo que é percebido pelos órgãos do sentido e a valorização que é dada àquilo através de um pensamento.
Se hoje vamos falar dos momentos de sofrimento, podemos, então, dizer que ele é a vida que o ser tem para vivenciar, já que é o resultado de uma ideia e de percepções. Além disso, como é fruto de um processo mental, posso dizer que o sofrimento está na vida e não no ser que você não sabe quem é.
Porque posso fazer esta afirmação? Porque ele é o encontro de fatores externos que estão sendo captado pelos órgãos do sentido mais um pensamento que está aplicando valor ao que está sendo percebido. No momento que é a vida é sofrer, posso dizer, então, que é a mente que está dando um valor sofredor à uma percepção e não que o ser está realmente sofrendo.
Portanto, quando falamos de acontecimento humano, onde existe sofrimento, estamos falando de vida. Esse é o primeiro aspecto que precisamos levar em conta na conversa de hoje.
Como temos feito nas outras conversas, para falar da vivência deste acontecimento é preciso colocar corrimões para que o espiritualista possa se apoiar e com isso não vivenciar a própria vida, ou seja, as movimentações e, principalmente, aquilo que a mente está criando. Para colocar esses corrimões temos que entender a definição do que é vida para o mundo do algo mais que o espiritualista sabe haver além dele mesmo.
O espiritualista acredita haver em si algo além da carne que vai sobreviver ao acontecimento morte e que continuará existindo tendo vida. Mais: ele sabe que antes de ser o humano já tinha esta vida. Portanto, ele é alguém que acredita no mundo espiritual, onde tem etapas de existências que são vivenciadas no mundo humano e outras que são vivenciadas no espiritual.
A esse processo Kardec chama de reencarnação. Encarnar diversas vezes, vivenciar diversas vidas.
A partir desse conhecimento o espiritualista tira um corrimão para a sua existência: ele não está vivo, mas encarnado. É diferente uma coisa da outra.
Quando você acredita que está vivo, está preso a um conjunto de aspectos e verdades que dizem respeito a esta vida. Quando está encarnado está preso a outro conjunto de verdades e informações a respeito desta mesma vida, da humana. Por isso o espiritualista para continuar na sua caminhada no sentido de aproximar-se de Deus, não trata o que vivencia como vida, mas como encarnação. Só fazendo isso ele se prende ao conjunto de verdades e aspectos que dizem respeito à outra vida e não aos desta vida. Este é o primeiro corrimão e este é o amparo que sai desta conversa e que é fundamental para que um espiritualista possa usar esta vida para aproximar-se de Deus. A partir dele temos que ver outra coisa.
Dentro desse conjunto de aspectos e verdades do mundo espiritual que se aplica a esta vida, qual o objetivo de estar vivenciando a vida humana? Isso foi afirmado na pergunta 115 de O Livro dos Espíritos que já comentamos, mas que neste momento vamos acrescentar algo que está na resposta do Espírito da Verdade e que não comentamos anteriormente.
“115. Dos Espíritos, uns terão sido criados bonés e outros maus? Deus criou todos os espíritos simples e ignorantes, isto é sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los de si. Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade. Passando pelas provas que Deus lhes impõe é que os Espíritos adquirem aquele conhecimento. Uns aceitam submissos essas provas e chegam mais depressa à meta a que lhes foi assinalada. Outros só a suportam murmurando e, pela falta em que desse modo incorrem, permanecem afastados da perfeição e da prometida felicidade”.
Já havíamos abordado a questão de Deus dar uma oportunidade para o espírito ignorante retirar a sua ignorância mantendo a sua pureza, mas como vemos agora, na resposta é dito que uns conseguem mais facilmente e outros não. Por que isso ocorre? Porque segundo o Espírito da Verdade alguns vivem com ranger de dentes.
O que é ranger os dentes? É estar em desacordo com a vida. É ter raiva, ódio, chorar, não gostar, não querer. Quem vive assim está em desacordo com a vida. Lembro que vida é a qualificação que as formações mentais conferem às movimentações externas.
Começamos, então, a entender que o objetivo do ser que você não sabe quem é ao longo da sua jornada espiritual é vivenciar o que é gerado pela valorização que a mente dá ao que é percebido sem ranger de dentes: sem sofrer, sem chorar, sem se lamentar, sem ter raiva. Esse é o objetivo primário de uma existência e ele cria mais um corrimão para a jornada do espiritualista.
Apoiando-se neste ensinamento o espiritualista sabe que está tendo uma encarnação e que ao tê-la o seu objetivo é vivenciar os acontecimentos deste mundo sem ranger de dentes. Ele não está aqui para formar-se em médico, para aprender coisas ou formar família, mas sim para vivenciar acontecimentos e durante eles não ranger os dentes.
Esse processo para verificar se o ser range os dentes ou não também é chamado de provas. As provações que o ser se submete, e que como já vimos quanto estudamos a questão da fatalidade são acontecimentos fatalistas, precisam acontecer porque estão representando os gêneros da prova que o espírito pediu antes da encarnação.
A partir da descoberta de todas estas coisas, ainda falta um detalhe para entendermos bem as provas do espírito. Este detalhe está na pergunta 132 de O Livro dos Espíritos.
“132: Qual o objetivo da encarnação dos Espíritos? Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é expiação, para outros missão. Mas, para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal; nisso é que está a expiação”.
Nesta questão é dito, entre outras informações que mais tarde iremos usar, pois o texto desta resposta do Espírito da Verdade é fundamental para a caminhada do espiritualista em direção à Deus, o seguinte: o ser viverá uma existência onde estará presente a vicissitude.
O termo vicissitude muitas vezes é mal compreendido. Para os espíritas, viver vicissitudes é passar por necessidades, por carências. Mas, não é isso que está no dicionário. Nele o termo vicissitude quer dizer alternância de situações, ou seja, vivenciar momentos onde dá tudo certo, outros onde tudo dá errado; vivenciar momentos onde há alegria e outros onde há sofrimentos; momentos onde se consegue o que quer e outros que não se consegue.
A vida ou a provação do espírito não é uníssona, mas uma onda que sobe e desce, que passa pelo alto e pelo baixo. Lembrando mais uma vez que vida é o valor que a mente está aplicando àquilo que é percebido.
Por causa deste entendimento, posso dizer que a sua mente não pode gostar de tudo, que ela, para que você tenha a sua prova, precisa gostar de algo e não gostar de outra coisa. Só que este não gostar ou sofrer não é você quem faz, mas a vida, a mente. Faz porque precisa fazer para que a fatalidade aconteça e com isso um gênero de provas que esteja de acordo com o que foi pedido antes da encarnação ocorra.
Esse é o novo corrimão que colocamos para o espiritualista se apoiar. Ele diz o seguinte: o sofrimento é inevitável. O sofrer mental, humano, é inevitável… Ele faz parte da vida, faz parte da provação, faz parte da teatralização de gênero de provas pedido pelo ser antes de encarnar.
Agora podemos falar dos momentos de sofrimento que acontecem na vida e que são inevitáveis. Como o espiritualista deve vivenciar estes momentos? Em paz e harmonia. O que é viver em paz e harmonia um sofrimento humano? É dizer: ‘estou sofrendo, estou, e daí’?
Este é o grande detalhe que a mente faz questão de esconder. Ao invés de lhe induzir a aceitar o sofrimento, ela lhe lança como realidade que se você alcançar a prática das vivências que estamos conversando não terá mais momentos humanos de sofrimento. Mas, eles são inevitáveis, pois se não existirem, o ser não tem a vicissitude e não a tendo a sua prova está capenga.
Muitos espiritualistas acham que conseguindo alcançar a paz e a harmonia em momentos da vida, poderá mudar acontecimentos e sua vida será um mar de rosas. Isso é impossível. O resultado esperado da vivência do espiritualista está na vivência da vicissitude e não na mudança de acontecimentos deste mundo. Para alcançar uma vivência que lhe aproxime de Deus, o espiritualista precisa ter sempre durante esta encarnação momentos que a mente declarará como bons e outros que ela afirmará que são ruins.
É por isso que começamos esta conversando falando que existem dois sofrimentos: aquele que é humano, gerado pela mente, e aquele que pertence àqueles que vocês chamavam de espírito. O sofrimento humano é inevitável, faz parte da provação de cada ser. Já o sofrimento do espírito acontece quando ele não está em paz e harmonia com o sofrimento humano. Quando ele se rebela com o sofrimento humano, quando não quer que aquele sofrer aconteça, quando quer evitar que um sofrer aconteça, quando quer acabar com o sofrimento. Quando vivencia os acontecimentos desse jeito, ele está rangendo os dentes contra a vida que naquele momento é um sofrimento criado pela mente.
Então, nesta conversa que estamos falando sobre o sofrer humano é preciso deixar bem claro: nada do que foi dito até hoje vai mudar a sua vida. Nada do que foi dito aqui poderá servir como uma vacina para que a sua vida não tenha mais sofrimento. Isso é impossível. Você precisa tê-los, eles fazem parte da sua prova.
O que você tem que aprender é a conviver com o sofrimento da vida, com o sofrimento criado pela vida e não transformar os momentos negativos em positivos. Isso você não pode fazer porque estes momentos são a sua prova e você não pode interferir nela depois de encarnado, como já dissemos aqui quando abordamos o texto da pergunta 267 de O Livro dos Espíritos.
Eis, portanto, aí mais um tema, mais um acontecimento da vida humana que aprendemos como espiritualista deve vivenciá-lo: o momento onde há sofrimento na existência humana. Neles aquele que quer aproximar-se de Deus não luta contra o sofrimento humano, mas se harmoniza com o sofrer. Isso ele faz não aceitando as razões criadas pela mente e não mudando o que a mente está criando.
Para isso, dentro de um processo racional, é importante se lembrar que você não é o ser humano, que não está vivo, mas encarnado, que isso acontece para viver acontecimentos sem ranger de dentes e é importante lembrar, ainda, que nestes acontecimentos haverão uns que serão taxados de bons e outros que serão chamados de ruins. Com isso você estará preparado para receber o momento ruim sem deixar se levar pelo sofrer que está sendo produzido pela mente. Como disse, hoje íamos colocar diversos pedaços do corrimão que servirão de apoio ao espiritualista para alcançar a Deus.
Aliás, o que pretendemos ao longo de todo este estudo é colocar diversos corrimões entre o espaço onde você está agora até que alcance a Deus. Eles deverão ser usados para que se apoie em vivências de acontecimentos da existência humana que o leve ao Pai e com isso aproveita a oportunidade de estar encarnado.

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