Das diferentes posições sociais nascem necessidades que não são idênticas para todos os homens. Não parece poder inferir-se daí que a lei natural não constitui regra uniforme?

Essas diferentes posições são da natureza das coisas e conformes à lei do progresso. Isso não infirma a unidade da lei natural, que se aplica a tudo.

Kardec está perguntando se as situações materiais não interferem nas provas? Aliás, me perguntaram a mesma coisa outro dia quando falaram: para o pobre coitado que não tem o que comer não é muito mais difícil alcançar a elevação espiritual? As posses materiais são conforme a lei do progresso, ou seja, dentro da justa e merecida necessidade para a prova.

É isso que precisamos compreender. Não importa a situação de qualquer ser humano, a lei natural está lidando com cada um de acordo com a sua situação, de acordo com sua necessidade, levando em consideração o trabalho que precisa ser feito durante a encarnação.

  A pessoa que perde uma perna, por exemplo, não é um coitadinho, nem para ele é mais difícil ser feliz. Aliás, está comprovado que há muita gente que tem tudo e sofre o tempo inteiro por ilusões fantasmagóricas, como Krishna chama o sofrimento. Pode ter certeza de que quem passa por uma situação dessa está tendo a justa experiência que precisa passar para a sua elevação espiritual.

  Essa é a compreensão! Se Deus desse por igual a todos os espíritos, ou seja, se colocasse no planeta uma vida sem alta sociedade e pobreza ao mesmo tempo, estaria tratando diferentes de uma forma igual. Com isso estaria prejudicando alguns porque não estaria dando o que precisa para realizar o seu trabalho.

  Para alguns seria como tirar uma criança do primário e colocá-la na faculdade. Para outro seria tirar alguém da faculdade e coloca-la no primário. Cada um precisa receber o que precisa para sua elevação espiritual. E Deus magnânimo concede exatamente o que cada um precisa. É como Cristo ensina: Deus dá a cada um de acordo com suas obras.

  Então, se ainda sonham que nesse planeta termine aquilo que chamam de miséria, aquilo que chamam de maldade, de ruindade, só há um caminho, amar. Amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Nenhum outro caminho – a crítica, a acusação, a ação contraria, a guerra, a morte, a doação material –, nenhuma outra ação poderá extinguir a miséria do planeta.

É preciso amar a tudo e a todos incondicionalmente porque na hora que amamos, doamos amor para o universo. Com esse amor cria-se uma atmosfera que auxilia os transviados, os que estão no mal, os individualistas, a cumprirem o  mandamento de Deus. É isso que precisamos compreender.

  Não adianta fazer campanha para a fome mostrando e expondo a situação dos outros, como, aliás, se faz todo ano sem a extinguir. Com isso apenas estamos criando pena, dó e não o verdadeiro amor. Com essas campanhas podemos até dar um prato de comida a alguns, como aliás acontece, no momento em que se está fazendo a campanha, só que não acabamos com a fome. No dia seguinte ela está de volta. A comida é matéria e por isso só serve para fabricar matéria, que vai embora no dia seguinte, mas o amor alimenta e dura para sempre.

Por isso, o que precisa ser feita é uma grande campanha de amor. Não de pena, de compaixão, como vocês fazem. É preciso criar uma grande campanha para ensinar ao próximo a vir para o lado do bem, para ensiná-lo a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Essa campanha que estamos dizendo que deve ser promovida, no entanto, não é direcionada especificamente a quem tem fome. Esses, os humildes, normalmente são solidários, amam ao próximo. Claro que entre eles há gente revoltada, mas a maioria é universalista, pensa no próximo.  

A grande campanha que precisa ser feita é junto àqueles têm. A grande maioria dos que têm querem mais. Aqueles que têm muito, na falta de um mínimo detalhe, sofrem. Não compreendem que por mais que tenham sempre faltará um detalhe. Se não for assim, onde a prova?

Essa é a grande campanha que precisa ser feita. Ao invés de criticar os que têm e não dividem, devemos amá-los e ensiná-los a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

Essa deve ser a intenção de qualquer missionário nesse mundo. Só que eles estão preocupados apenas em dar matéria. Isso fica claro observando o que acontece dentro dos locais de oração das religiões. Nesses locais nunca vi ninguém rezando pelo rico (de dinheiro, saúde, família). Não rezam porque imaginam que tem está bem, não precisa de oração. Só que esses são os que mais precisam, pois são os mais individualistas. Como o próprio religioso, aquele que se diz amante de Deus, julga a necessidade do outro levando em conta apenas o bem material?

Precisamos fazer uma campanha de doação àqueles que tem e que possuem. Não só posses materiais, mas verdades, desejos, vontades, a posse sentimental, a posse moral e a posse pessoal sobre os outros. São esses que precisam ser orientados. Precisamos ajudar aqueles que doam com pena, com dó, com compaixão, um dinheirinho para salvar o próximo. Aqueles que só doam se o dinheirinho não fizer falta para trocar de carro ou para comprar as coisas que quer.

Esses são os que precisam ser amados, não aquele que passa fome. Esses últimos, na maioria, sabem amar. Se têm uma panela de feijão, chamam logo o vizinho que não tem nada. Os que têm dizem: não, se eu gastar dinheiro para fazer almoço para os outros, como é que vou ficar depois? Pode fazer falta amanhã.

Disse ontem e volto a repetir: estamos tendo uma oportunidade de ouro para conversamos sobre as questões espirituais, principalmente sobre a questão do bem. Como já vimos, bem não é dar um prato de comida, tirar roupa velha do armário e doar, apenas para abrir espaço e poder dizer que está precisando comprar roupas. Bem é amar a Deus sobre todas as coisas, é amar o próximo como a si mesmo.

Disse que é uma oportunidade de ouro porque a partir da compreensão do que é bem, podemos refletir sobre todas as coisas da vida.  Sem isso não adiantaria estar aqui conversando.

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