Participante: para mim isso é claro, mas, da mesma forma que você me perguntou antes e eu dei uma resposta humana, a busca pela mudança do mundo externo vem à mente automaticamente. Aí não consigo eliminar o sofrimento. Inclusive anotei uma frase de Paulo que queria conversar com você: o bem que quero fazer, não faço, mas o mal que não quero, faço. A compreensão, até onde posso ter, obviamente, de tudo o que conversamos é clara. Mas, chega na hora, não consigo fazer. Imagine alguém que nunca esteve aqui…
Eu sei que já entenderam o que estou falando. Por isso não é esse o fundamento da nossa conversa. O que quero hoje que compreendam é a questão do processo e não da lógica.
Um detalhe: quando ajudar os outros, não se preocupe com a cura. Se acontecerá ou não, se será logo ou não, não importa no nosso auxílio às pessoas que sofrem.
Participante: Joaquim, a ideia de perfeição humana é quando existe a cura. Vemos a doença como algo negativo, ruim, mal.
Da sua declaração de incapacidade para viver, nasce a sua competência para viver. Enquanto não se declarar incompetente para mudar a situação nada conseguirá.
O caminho para a Deus é o caminho da bondade com você mesmo e com os outros. Isso porque enquanto estiver reclamando da doença que tem, não está sendo bondoso com ninguém.
Você sabe o quanto de revolta teve consigo mesmo e com outras pessoas por ter essa doença e não poder fazer determinadas coisas, não é verdade?
É o que já disse: da sua declaração de incapacidade para viver, nasce a sua competência para viver.
Enquanto não declarar para si mesmo que é incapaz de mudar a situação da vida buscará uma saída para ela. Enquanto não encontrar uma saída, irá sofrer por estar vivendo aquela situação.
Participante: vou ilustrar com a minha experiência para ver se casa com o que você está falando. Na época que tinha síndrome do pânico, não tinha condições de pegar ônibus. Tinha medo de passar mal dentro do ônibus e ninguém me acudir.
Uma das vezes que enfrentei esse medo, passei mal dentro do ônibus. Naquele momento me veio à cabeça o seguinte pensamento: eu não tenho como me livrar disso. Então tenho que enfrentar. Não vou me deixar levar por essa ideia. Se for para me matar agora, que me mate. Nesse momento me senti a pessoa mais livre do mundo, passei pela crise e não morri. É isso?
Participante: sim, o senhor não mudou os sintomas, mas a visão que tinha sobre a doença.
Não, não mudei nem a visão que se tem sobre a síndrome do pânico. Continuei dizendo que é uma doença horrível, que causa muito sofrimento. Não mudei isso. A única coisa que fiz foi atacar a ideia do ser humanizado que imagina que pode mudar o que está acontecendo.
Participante: nesse momento as pessoas além de se levantarem, vão me dar um soco. Não vão. Sabe por quê? Porque mostrou a solução para elas. Participante: a solução que a humanidade não mostra, não é? Sim.
Na conversa de Araraquara usei um exemplo para falar dessa ajuda.
Uma pessoa disse: ‘tenho síndrome do pânico. Sofro por tê-la, pois por causa dela não consigo sair com meus amigos, ter uma vida normal. Não faço as coisas que quero’.
Como se poderia ajudar uma pessoa com esse problema? Como ela pode sair do sofrimento por ter síndrome do pânico? Saberiam me dizer? Não esqueçam da oração da serenidade.