Participante: você ensina que tudo é carma, que só acontece aquilo que merecemos que aconteça. Então, por exemplo, quando eu amo alguém, estou só realizando o carma dessa pessoa?
Sim, você não está amando-a
Participante: então aquele amor só serve como carma dela, não tem nada a ver comigo?
Tem. É o carma dela e o seu.
Participante: então, tudo é só é só realização de carma meu e do outro: Não há mais nada na vida?
Toda dramatização de vida humana é a realização de carmas.
Aliás, não existe vida humana que tenha que tenha um carma: toda existência carnal é um carma. Portanto, sim, tudo que acontece é um carma, é a dramatização de um carma, é o resultado da lei de causa e efeito.

Tudo na vida humana é colheita do que foi plantado anteriormente. Como a vida humana é feita de relacionamentos, para a existência do plantar é preciso que haja um agente que proporcione a oportunidade para que você plante algo. Por exemplo: quem planta amargura precisa de alguém que proporcione um determinado momento para que aquele ser plante aquilo.
Por isso digo que quem está praticando o ato, além de estar vivendo o seu carma, está protagonizando o do outro. Quem sofre a ação, além de estar vivendo o seu carma, também é instrumento da colheita do outro.
Na verdade o nome desse processo é interdependência. No universo tudo se interdepende.
Já viram roda com engrenagens onde um pino se encaixa perfeitamente num buraco da outra roda e depois sai para encaixar-se em outro? O carma é assim. As situações vão se encaixando perfeitamente e com isso faz girar o motor chamado existência universal. No universo, as coisas estão sempre se encaixando uma nas outras, as pessoas estão sempre interligadas, tudo regido pela lei de causa e efeito.
É por isso que Cristo ensina: Deus dá a cada um segundo as suas obras. Ou seja, segundo o seu carma, segundo aquilo que plantou no momento anterior.
Participante: então, qual a diferença entre amar ou não?
Na verdade, não existe diferença. Amando o ser gera um carma; não amando gera um carma.
Participante: não precisamos, então, seguir a lei do amor?
Sim devemos e seguimos sempre.
Considerando que tudo o que fazemos é o nosso carma e do outro também, vemos que só podemos amar aqueles que precisam e merecem ser amados. Ninguém conseguirá amar aquela que não merece receber amor. Só que quando não amamos alguém, estamos amando-o.
Compreendeu? Não? Para compreender essa minha resposta é preciso que façamos uma distinção entre amar e amar.
Existe o amor universal, que está embutido em qualquer coisa que aconteça nesse planeta, em qualquer emoção vivida por um ser humanizado. Quando ele tem raiva de outro, está amando-o, o amor universal está presente no momento da raiva. Por que isso? Porque o fato de conseguir ter raiva de alguém é sinal de que aquela emoção (a raiva) é o carma dela.
Acontece que todo carma é fruto do Amor Universal. É Deus amando seu filho. Portanto, a raiva sentida é amor.
Todo carma, por originar-se em Deus, é fruto do Amor Sublime e da Justiça Perfeita. Essa origem é que prova que o Amor Universal está presente. Vamos ver se isso é verdadeiro.
O que é Justiça Perfeita? É dar a cada um exatamente aquilo que precisa e merece. Receber exatamente o que precisa e merece de uma justiça é algo que vocês humanos não conhecem. O que conhecem é a justiça humana. Essa não se trata de dar o que cada um precisa e merece, mas de reparar erros condenando quem os tenha cometido. Como no universo não há erro, a Justiça Perfeita não pode conceder reparação.
Por isso afirmo que o carma nada tem a ver com reparação ou penalização. A Justiça de Deus nada tem a ver com reparação ou penalização. O que ela faz é dar a consequência natural do que foi feito anteriormente. Isso no universo chama-se Justiça
Portanto, cada um recebe a consequência natural do que fez antes. Só que no carma esse recebimento não se trata de um castigo, mas de uma nova oportunidade de realização daquilo que precisa ser feito para conviver no universo universal.
Por que o carma não é um castigo? Por causa da origem no Amor Universal, que é sublime.
É por conta dessa origem que disse que qualquer emoção que esteja sendo vivida, pouco importa qual seja, é um ato de amor. É por isso também que digo que o amor está sempre presente de um jeito ou de outro em todas as ações.
Esse é um amor, o Universal. Além dele existe o humano. É uma emoção que chamam de amor, mas, na verdade, trata-se de um gostar individual. Esse não está presente em todos os acontecimentos, mas o Universal, por ser a base do carma, está presente sempre.
Portanto, como tudo é carma, quando alguém diz que ama a esposa, mãe ou o irmão, na verdade não está amando, mas gostando. Está vivendo o carma de gostar de alguém.
Participante: então, porque se diz que alguém demora mais ou menos para evoluir, se tudo o que ela faz é amar? Porque alguém estaria errando nesse sentido se ama sempre?
Vamos ver o que acontece.
Acabei de dizer que a raiva é amor. Sim, isso é verdade, mas há uma diferença: a raiva é um amor egoístico. É um Amor Universal usado de uma forma egoísta, usada para conseguir um bem ou vantagem individual.
Quem tem raiva é porque não gostou de alguma coisa que aconteceu. Através dela está reagindo tentando reverter o que não gostou. E se não gostou, é sinal de que o prejudicou de alguma forma. Esse individualismo afasta o ser de Deus, da convivência com a irmandade espiritual.
A elevação espiritual não se consiste em ter ou não raiva, mas sim em alcançar a proximidade de Deus. Ela é alcançada quando o ser, ao viver um momento onde haja a presença da raiva criada pela sua mente, não se deixe contaminar por essa emoção.
Portanto, quando se fala em elevação espiritual é preciso entender que isso acontece internamente, no íntimo de cada um. Ela existe quando o ser, ao receber o pensamento/emoção que reflete uma raiva, diz a si mesmo: ‘sim, a mente está com raiva dela, mas eu não sei se ela fez por merecer isso ou não. Eu não vou ficar aqui julgando-a’.
Quando faz isso, está deixando o seu mundo interno livre do externo. Ainda vamos falar muito disso hoje. Com isso, se aproximou de Deus, já que ela se resume em tornar-se uno com o Pai.
É preciso fazer isso, não porque não esteja unido. Você já está, pois o Universo é estável, nada muda. Sendo assim, já está: apenas não tem a consciência de estar. Na verdade, precisam se libertar da não unidade para poder viver a unidade que já existe.
Portanto, elevação espiritual é isso. É aproximar-se de Deus. Como? Negando a sua humanidade. Isso é outra coisa que vamos falar muito hoje.
É preciso ter essa conversa, pois se você não negar a sua humanidade, não tiver raiva da sua humanidade, jamais alcançará a Deus.
Ficou claro, então? O processo é sempre esse: uma ação interna de libertação do que a razão cria. Libertar-se dessa criação e não destruí-la, acabar com ela, pois essa realização é impossível. Enquanto encarnado, o ser jamais conseguirá.

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