Participante: falando em coração, como fazemos para confiar nessa casa? Pergunto isso porque falamos que ninguém conhece seu próprio coração e que ele não é muito confiável. Agora você diz que quem se volta para o seu interior está se voltando para o seu coração. Como podemos fazer para confiar no coração?

Conhecendo-o.

Você falou uma coisa muito interessante: ninguém conhece o seu coração. Porquê?

Participante: porque prestamos atenção demais à razão?

Perfeito. Não conhecem o coração porque só vivem para a razão.

A razão é o oposto do coração. Por esse motivo quem vive para a razão nunca vai conhecer o coração e com isso não pode arrumá-lo. Só quem vive para o coração pode conhecê-lo e arrumá-lo.

Aproveitando, pergunto: como se arruma o coração? Libertando-se da razão, ou melhor, conhecendo a razão, mas não dando razão a ela.

Participante: não dando razão à razão… Na prática como é isso?

‘Estou cansado? Estou, e daí?’ 

Isso é não dar razão à razão. Se der – ‘meu Deus, como eu estou cansado, fiz muita coisa hoje’… – o corpo começa a doer, um mal-estar é sentido, você começa a ficar de saco cheio e com isso altera o seu estado de espírito. Aí começa a viver em sofrimento, com contrariedade. Tudo isso porque deu ouvido à razão.

Participante: aceitou os motivos para sofrer…

Isso.

Quando você ouve a razão, ela começa a lhe comandar.

Saiba que normalmente o ser humano é, está e vive aquilo que a sua razão diz para que viva. Quando está ligado ao íntimo, quem dita o que o ser viverá é o coração.

Participante: então preciso sempre parar e buscar saber quem sou eu, não é?

Respondo fazendo outra pergunta: para tudo o que falei saber quem é você é importante? A resposta é não.

Não estamos falando em autoconhecimento, saber se é um espírito ou um ser humano. Isso pouco importa. O importante é o resultado do trabalho, o resultado da vivência. Quem consegue vivenciar a vida ligado ao íntimo e com o coração em paz terá paz, dando qualquer valor sobre si mesmo.

Quem dá razão à razão perde a paz. Porquê? Porque a razão existe para lhe tirar a paz…

Participante: ela é uma ferramenta de Deus para isso?

Sim, foi criada com esse objetivo.

Participante: isso vale para todos nós? Todos somos iguais?

Todos os corações são iguais. A razão não. Como a razão é uma ferramenta para tirar a paz é adaptada de acordo com a necessidade de cada um.

Participante: fale um pouco mais sobre não dar razão à razão…

Não dar razão à razão é não viver os reflexos da razão.

Exemplo? Digamos que vá fazer uma prova. Antes de fazê-la a razão pode cobrar que não estudou tudo o que precisava, que não aprendeu completamente a matéria, etc. Dando ouvidos ao que ela fala, essa lógica (razão) começa a comandar seu estado de espírito. Aí vem amargura, o medo, nervosismo, depressão, etc.

Agora quando assolado por essas ideias diz a si mesmo ‘é mesmo, não estudei tudo o que devia, mas, e daí’, todas essas emoções não existem. Você vive a prova em paz.

Participante: é possível conhecer o coração?

Sim, é possível, mas a cada momento. Ninguém pode conhecer o coração completamente, porque muda a cada momento.

 Participante: mas, para conhecer o coração a gente usa a razão, não?

Não. Estou falando de emoções, não de palavras, de ideias.

Quando consegue calar as emoções que seriam habituais depois de determinada razão, está vivendo para o coração, para dentro. Agora, quando dá fluxo às emoções inerentes à razão que teve, está vivendo para o mundo exterior.

A dificuldade de entender o que estou dizendo sobre razão e coração existe porque todos vocês são pilotos de avião: acordam, se colocam no piloto automático e saem vivendo o resto do dia. Não param para se ver, se reconhecer, se olhar, se analisar a cada momento. Saem vivendo um dia inteiro cheio de coisas a fazer, a realizar: trazer dinheiro para casa, sustentar a família, conquistar bens, etc. Aí a mulher arranja outro e o filho cresce e diz: você foi um pai ausente. Nesse momento se lastima da forma que viveu.

Quando viveu para o mundo achava que estava fazendo o melhor. Só depois, vendo o resultado, entende que perdeu a paz a troco de nada. Porque não conseguiu enxergar isso naquele momento? Porque estava no piloto automático…

Na hora que conseguir desligar o piloto e começar a viver momento a momento reconhecendo que é a razão falando e não você pensando, reconhecendo o que vem em seguida de uma razão, as emoções, pode ser que se volte para o coração.

Participante: ah, agora entendi. É preciso analisar a sua vivência da vida.

Sim. Ninguém consegue voltar-se para o mundo interior sem analisar o exterior.

O que precisa ser feito é a cada momento ter a consciência do que está pensando, dizer a si mesmo que aquela ideia é algo que está sendo lhe dado e não você que está pensando. A partir daí verificar que deixando-se levar por aquela ideia irá viver essa ou aquela emoção. De posse desse conhecimento dizer a si mesmo: ‘não quero essas emoções para mim. Por isso abro mão dessa ideia’.

Isso é desligar o piloto automático. Se não fizer isso, não conseguirá essa liberdade.

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