Essa é a questão que precisa ser repensada por vocês. Precisamos acabar com a ideia de que tudo pode ser feito em nome da liberdade. Não, isso não é verdade. A liberdade possui um amplitude que pode ser vivida, mas outra que não. Como Paulo dizia: você pode fazer tudo, mas nem tudo que pode fazer é bom para você.

Você é livre para agir do jeito que quiser, mas nem toda ação que pratica é boa para você. É sobre isso que quero conversar a partir do que aconteceu em Paris. Como disse, não vou me atentar a fatos, a atos. Não vou entrar na questão do terrorista ter matado, ter feito isso ou aquilo. O que quero com esta mensagem é que pensem sobre a liberdade, sobre como usar a liberdade de vocês.

Vamos então conversar.

O que significa amar o próximo? Acima de tudo, respeitá-lo; acima de tudo, cuidar dele, ter atenção com ele.

É isso que você precisa ter em mente ao usar a sua liberdade, o seu direito de ser livre: avaliar a questão do respeito ao outro, o cuidado com o outro. Quando usa da sua prerrogativa de ser livre sem atentar-se quanto à possibilidade de ferir o outro, pode ter certeza de que não houve amor. Sem que haja respeito e atenção pelo próximo, a sua liberdade nada tem a ver com amor, mas trata-se de uma expressão do seu egoísmo.

Cuidar do outro, preocupar-se com o outro sempre …

Apenas um detalhe. Já disse ao longo dos últimos anos de estudo que ninguém pode ferir ou magoar o outro. Na verdade são as pessoas que recebem como ferimento ou mágoa o que alguém faz a elas. Por isso, o cuidar do outro ao qual me refiro agora nada tem a ver com ação, ato, mas trata-se simplesmente não querer puni-lo. Até porque, falar, você pode falar sem a menor intenção de punir e acabar ferindo alguém.

Respeitar o próximo tem a ver com o não querer se transformar em instrumento que leve ferimento ao outro. Vou tentar dar um exemplo disso.

Uma vez disse para uma pessoa: você briga com a sua esposa? Ele disse: ‘não, é ela que briga comigo. Quando briga comigo, tento ensinar o que aprendi com você, para que ela não julgue’.

Respondi: briga sim e vou lhe dar um exemplo. A sua esposa é uma pessoa que gosta da casa arrumada. Ela quer ver todas as coisas no lugar. Não gosta de nada espalhado, jogado, não é isso? Apesar disso, quando chega em casa, você tira a blusa e joga em cima do sofá, não é? Ao fazer isso, sabe que ela sofrerá com o que fez, não?

Para justificar a sua ação, ele me disse que ela é que precisa entender que não existe lugar certo para se colocar as coisas. Eu respondi: você nunca vai ensinar isso a ela. Não é deixando a blusa fora do lugar que vai ensinar isso a ela. Na verdade, com essa justificativa mental provou que não está nem aí para ela. Por isso, não venha me dizer que pratica esse ato para ajudá-la. Na verdade, o que está fazendo é brigar com ela quando tira a blusa e joga em cima do sofá.

Essa é uma verdade. Quando premeditadamente ou sem preocupação com os outros fazemos aquilo que queremos em nome da nossa liberdade ou até em nome daquilo que acreditamos, nós estamos proporcionando uma oportunidade para que ele sofra, Esse proporcionar, portanto, nada tem a ver com amor, mesmo que o ego, a razão, diga que você está querendo ajudar o outro. Não está! O que está acontecendo é que se transformou num instrumento para que o próximo vivencie uma situação de sofrimento.

A partir desse raciocínio, vocês me perguntariam outra vez: ‘ora, Joaquim, você sempre disse que todos nós temos missão, e que ela é aquilo que fazemos com os outros. Por isso, se fiz, precisava fazer aquilo’. Sim, devia fazer, mas não precisava internamente ter essa emoção, sentimento ou sensação, de que tem o direito de fazer com o que o outro compreenda que tudo que você faz é certo também.

É a isso que estou me referindo. Largar a camisa em cima do sofá – ou não – é ato. Isso vai acontecer, pode acontecer. Agora, ao praticar essa ação, ao sentir-se livre para largar a camisa em cima do sofá, você antes precisa parar e repensar: será que eu estou fazendo isso realmente por amor? Ou será que estou querendo fazer porque acho que tenho o direito de fazer? Será que se fizer isso não vou estar contribuindo para que outra pessoa sofra?

Esse é o detalhe que nós podemos usar esse acontecimento para aprender um pouco mais na questão da elevação espiritual.

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