Como é possível viver feliz com isso?
Participante: sabendo que vai passar, que tudo passa.
Participante: por tudo que você falou, se tudo é Deus quem faz, é confiar Nele. Tudo tem um por quê e um para que. Então, seria confiar mais.
Seria uma boa saída se você conseguisse confiar em Deus. Só que quando, por exemplo, precisa de um sistema de saúde e não tem, você não vai se lembrar de Deus. Por que? Porque tem medo do reflexo do que aquela situação pode trazer para a sua vida.

Participante: sim e eu tenho vivido isso de perto. Trabalho na prefeitura e quando chego para trabalhar sinto a energia pesada do lugar. As pessoas estão muito revoltadas, os salários estão atrasados, aquela confusão …
Estão revoltados porque eles estão perdendo. Sentem que estão tendo prejuízos por causa da má administração. Sofrem por causa dos reflexos que isso causa nas suas vidas.
Portanto, a confiança em Deus seria uma forma de manter o equilíbrio, mas acho que depositar todas as esperanças nela é meio utópico. Vocês não conseguem viver essa confiança.
Participante: eu acho que uma saída é ir desapegando aos poucos do que sabemos que estamos apegados.
Se desapegando aos poucos do que sabe que é apegado. Outra utopia …
Me faz um favor? Tire essa camisa e me dê, me dê o seu celular e outras coisas que você está apegado. Consegue fazer isso? Claro que não. Ainda falta muito para você abandonar essas coisas que são supérfluas, imagine abandonar saúde, educação, alimentação, lazer, coisas que imagina que são necessidades básicas.
O que você está propondo não é a saída, pois trata-se um trabalho que não vai conseguir fazer porque ainda é apegado a muitas coisas. Mesmo que conseguisse se desapegar de algumas delas, ainda continuaria com a preocupação se amanhã teria ou não dinheiro para comprar outro celular, pois ainda acha que precisa dele.
Participante: eu só não entrego agora porque não vejo razão para isso.
Tem uma razão muito forte para me entregar: eu pedi. Você não me considera seu amigo? Você não acha que sou uma pessoa que mereço? Você não diz que quer fazer caridade para os outros? Então, eu pedi; me dê. Olha que razões poderosas para me dar.
Participante: acho que uma saída seria tentarmos nos mudar, não é? Mudar a nossa concepção social … Há muita gente critica, critica e não faz nada …
O que você chama de concepção social?
Participante: a gente não para de querer ganhar, de ser corrupto no dia a dia. Critica um governo que é corrupto, mas diariamente quando se vê numa situação onde pode perder só quer dar um jeitinho disso não acontecer. Querer ter alguma vantagem. Acho que a gente teria de começar da gente essa mudança.
Perfeito. Só que você está falando especificamente na corrupção e eu não falei só dela. Falei de crise institucional como um todo, da pessoa que está dirigindo não ter mais a credibilidade para isso.
Não falo só em levar vantagens individuais porque mesmo antes de estourar toda a crise de corrupção, vocês já tinham um certo receio porque dos governantes. Por exemplo, a saúde. Ela já era uma porcaria antes de terem conhecimento dos escândalos. Mesmo antes disso, a população do seu país já tinha medo de depender da saúde pública.
Na verdade a crise é algo maior. Ela existe porque vocês acham os gestores incapazes de gerir a saúde pública, a educação, por exemplo. Isso mesmo antes de estourar os escândalos de corrupção.
Portanto, o que estamos falando é mais profundo que só a corrupção, só pensar no bem individual.
Participante: existe uma forma de minimizar essa insegurança, que é não dar o valor à instituição. Não deixar o governante liderar a minha vida, comandá-la. .
Está quase chegando onde quero. O que está me dizendo é que não podemos dar ao outro o poder sobre a nossa vida.
Participante: não é ele quem dita. Eu é que tenho de tomar as rédeas da vida e ponto.
Isso.
O que vocês não descobriram ainda é que o problema não é o governante, mas sim a entrega que fazem do seu destino na mão de outro.
Participante: isso em qualquer área, não é?
Qualquer área. Você entrega o comando da sua vida na mão do outro para que?
Participante: cobrar dele?
Cobrar do outro, não. Você não quer cobrar do outro porque na verdade não quer que a coisa resolva. Por que?
Participante: para não assumir a própria responsabilidade.
Se houvesse um governantes que resolvesse seus problemas, ainda assim ele não seria bom. Por que? Porque assim você não seria uma vítima. Todos querem ser vítimas, pobres coitados, e por isso precisam sempre que aja alguém que seja culpado pelo que vive.
A única saída para se manter a felicidade dentro de uma crise é assumir a rédea da sua vida. Você só vai acabar com essa insegurança na hora que você deixar de dar aos outros, no caso os governantes, a direção da sua vida, ser o dono da sua vida, afetar a sua vida.

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