Se optar pela felicidade é harmonizar-se com as emoções que surgem dos acontecimentos da vida carnal convivendo com elas de uma forma equânime, como posso caracterizar a opção pelo mal? Pela vivência das emoções em desarmonia. Cada vez que o ser humanizado não se harmoniza com as emoções ele opta pelo mal.

Ora, se a felicidade é um dos três estados de espíritos que o ser humanizado pode usar para conviver com as emoções e ela representa a opção pelo bem, quais são aqueles que caracterizam o mal? O prazer e o pesar…

Conhecendo isso a questão da elevação espiritual fica muito fácil realizar a reforma íntima depois disso que falamos. Bastaria ao ser quando humanizado não viver as emoções com prazer ou dor. Isso, no entanto, é muito difícil para ele por causa de uma coisa: o egoísmo…

Como egoísmo aqui, eu não estou falando em nada errado, reprovável, mas apenas usando este termo dentro do seu sentido no dicionário. Ser egoísta é ter um sentimento ou maneira de ser onde a preocupação esteja sempre voltada ao interesse próprio, com o que lhes diz respeito.

Só para relembrar a quem já me ouviu e para deixar claro para quem nunca me ouviu, quando falo de egoísmo não estou criticando ou acusando ninguém de nada. Quando falo que o ser universal que não atingiu a perfeição vive no egoísmo estou apenas constatando a natureza básica da sua forma de existir. Todos os espíritos que não atingiram a perfeição são por natureza egoísta.

É o egoísmo que causa a desarmonia com as emoções que surgem durante os acontecimentos da existência humana e que fazem o ser vivê-las com prazer ou dor, sem equanimidade. Por isso o Espírito da Verdade diz:

“913. Dentre os vícios, qual o que se pode considerar radical? Temo-lo dito muitas vezes: o egoísmo. Daí deriva todo mal. Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de todos há egoísmo. Por mais que lhes deis combate, não chegareis a extirpá-los, enquanto não atacardes o mal pela raiz, enquanto não lhe houverdes destruído a causa. Tendam, pois, todos os esforços para esse efeito, porquanto aí é que está a verdadeira chaga da sociedade. Quem quiser, desde essa vida, ir aproximando-se da perfeição moral, deve expurgar o seu coração de todo sentimento de egoísmo, visto ser o egoísmo incompatível com a justiça, o amor e a caridade. Ele neutraliza todas as outras qualidades”. (O Livro dos Espíritos)

Todo aquele que está ligado a uma mente humana está sujeito a vivência do prazer e do pesar. Isso porque a mente se relaciona com as coisas do mundo através de posses, paixões e desejos. O conjunto destas coisas forma um interesse do ser humanizado, um bem que o egoísmo lhe fará defender inexoravelmente.

É a defesa de suas posses, paixões e desejos que não deixa o ser humanizado harmonizar-se com as emoções que surgem durante os acontecimentos da vida humana. Por causa dela, quando seus desejos são atendidos, ele vive automaticamente as emoções com prazer; quando não são, nada lhe afasta do pesar.

Como o ser quando humanizado acredita nestas possessões, acredita no seu direito de tê-las, por mais que busque a elevação espiritual dificilmente a consegue. Por mais que busque amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, não consegue. Por isso Cristo ensinou ao homem rico que já praticava todos os ensinamentos da doutrina religiosa que seguia:

“Se você quer ser perfeito, vá, venda tudo o que tem e dê o dinheiro aos pobres e assim terá riquezas no céu. Depois venha e siga-me”. (Mateus, 19, 21)

Portanto, para a vivência da felicidade, o ser humanizado deve abrir mão de suas posses, paixões e desejos. É esta forma de viver que cria a harmonia com as emoções. Não se libertando de suas possessões, o ser, por conta do egoísmo, viverá inexoravelmente o prazer ou o pesar.

Mas, quais são as posses de um ser humanizado? A primeira é a posse do objeto ou posse material. Ela é expressa pelo pensamento com as ideias de que o objeto é seu ou é de alguém. A posse material que a mente cria através das histórias do pensamento se caracteriza pelo fato de conceder a função de dono a determinado ser humanizado.

O segundo tipo de possessão que o ser convive quando humanizado é a moral. Ela se caracteriza pela afirmação de que alguma coisa está certa ou errada, é boa ou má, é limpa ou suja. Ou seja, ela existe quando há a premissa de ascensão moral tão grande que se é capaz de julgar o outro.

O terceiro tipo de possessão é a sentimental. Ela se caracteriza pelos sentimentos que um ser afirma nutrir por aquilo com o que está se relacionando: amar, gostar ou não gostar, ter pena, etc. Sempre que o ser humanizado se apega às emoções que sobre outras coisas do mundo carnal (acontecimento, pessoas ou objetos), ele possui sentimentalmente aquele com o qual está se relacionando.

Viver com as posses sejam elas morais, sentimentais ou materiais leva o ser humanizado a optar pelo mal, mesmo que ele se entenda como uma pessoa de bem. Isso acontece assim porque muitas das posses que citei são moralmente aceitas pelos humanos: a posse material do que é comprado, o amar a quem lhe ama e o achar certo ou errado alguma coisa. No entanto, viver harmonizado com as posses acaba sempre desarmonizando a vivência de este ser com as emoções que surgem. Vou dar um exemplo para que possam entender o que estou dizendo.

Quem, por exemplo, pratica a caridade material (auxiliar os necessitados), se acha uma pessoa de bem. Acha que apenas esta prática lhe leva a alcançar a perfeição no sentido da elevação espiritual. Mas, isso não é real, pois quem pratica a caridade porque acha certo praticá-la, sempre critica, nem que seja veladamente, aquele que não faz isso. Como pode ser uma pessoa de bem se não segue o ensinamento de Cristo que diz que não se deve julgar os outros?

 A pessoa de bem é aquela que coloca em prática o ensinamento dos mestres. Nada justifica a quebra destes ensinamentos, mesmo que o que estas pessoas pratiquem quebrem aquilo que o ser humano acredita que seja o bem. Sendo assim, o ser de bem é aquele que praticando ou não a caridade, não critique quem pense o contrário. Isso só se consegue libertando-se da posse moral, dos critérios de certo e errado que cada um possui. Quem não abre mão desta posse, por causa da defesa de seus interesses (egoísmo) sempre criticará aquele que pensa diferente.

Portanto, para alcançar a felicidade é condição primária abrir mão das posses que o ser humanizado possui. Quem vive as emoções que surgem durante a vida humana fundamentados nestas posses sempre estará optando pelo mal, pois viverá ou o prazer ou a dor.

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