“Os olhos são como uma luz para o corpo: quando os olhos de vocês são bons, todo o seu corpo fica cheio de luz. Porém, se os seus olhos forem maus, o seu corpo ficará cheio de escuridão. Assim, se a luz que está em você virar escuridão, como será terrível essa escuridão!” (Mt. 6, 22 e 23)

Os olhos são a luz do corpo. O que é luz? É a felicidade, o estado de paz. Você está iluminado quando tem aquela cara de bobo: ‘não faz mal se não passei na prova…’ Isso é ter luz, estar iluminado.

Os seus olhos são a fonte desta luz. O que Cristo quis dizer com isso? Que esta luz tem que vir de fora, tem que vir do que está acontecendo fora, tem que vir do que está fora.

Não adianta só racionalmente colocar luz, dizer que que está tudo bem, tudo em paz, quando o que está vendo não reflete isso. Nesse caso o ‘vendo’ já não diz respeito ao olho, mas ao raciocínio, a mente, a ideia, a percepção. Cristo fala em olho porque naquele tempo Freud não tinha nascido e ninguém sabia sobre mente e estas coisas. Por isso fala que o olho é a fonte de luz.

O importante é saber que não adianta só lutar racionalmente contra o sofrimento. Racionalizar que está em paz, mesmo não tendo passado na prova. É preciso vibrar de forma positiva internamente porque isso aconteceu. Para isso é preciso colocar no ato algo de luz, de bom, e não esperar ‘entrar’ alguma coisa escura (a sensação de perda, por exemplo, para dentro tentar clarear, criar uma justificativa racional de felicidade.

É como o mestre fala: se seu olho reflete negatividade, sofrimento, ou seja, se a percepção é negativa, você vai cair na escuridão. E que escuridão horrível.

Participante: no primeiro momento vem a negatividade, não?

Sim. No primeiro momento vem a sensação negativa. Aí é preciso trabalhar.

O que estou querendo mostrar é que esse trabalho não se caracteriza pela racionalização da coisa. De nada adianta, por exemplo, racionalizar, criar razões positivas, no caso de sua mãe morrer. O que precisa ser feito é chegar conclusão de que morrer é bom. Isso se faz antes do momento e não depois dele.

Participante: sim, mas em algum momento você tem que racionalizar…

Não estou falando em racionalizar naquele momento. Estou falando que no seu processo de meditação diuturno deve pensar sobre a morte e dizer para si mesmo: ‘morrer não é ruim… morrer não é ruim…’ Se não fizer isso, no momento em que se deparar com uma morte não conseguirá manter-se em paz.

Vocês recebem grande quantidade de informação a cada momento. Na hora que, humanamente falando, interessa, agem racionalmente para estancar o fluxo de sofrimento. Isso é humano, não espiritual. Aquele que busca a bem aventurança trabalha o tempo inteiro junto aos preconceitos. Fazendo isso, deixam os conceitos internos prontos para colocar luz nas coisas. Assim, naquela hora que a escuridão penetra, liga a chave.

É preciso entender a necessidade de começar a trabalhar a luz do mundo de uma forma ampla. É preciso agir o tempo inteiro, vinte e quatro horas por dia, para ir desentocando os conceitos que estão enraizados e que causam a escuridão ao invés de esperar o momento que um conceito se apresenta para tentar mudar alcançar a luz.

A felicidade é o resultado de um trabalho de vinte e quatro horas diárias. Trabalhando só no momento que a escuridão aparece, o que existe é apenas uma racionalização de que pode ser manter em paz. Isso não afasta o negativismo que está lhe escurecendo por dentro

Quem assina esse acordo precisa compreender que internamente tem que se mudar: reforma íntima. Mudar-se no sentido de alcançar a consciência de que, por exemplo, morrer não é ruim e que não passar numa prova não é o fim do mundo.

É isso que Cristo está querendo mostrar. Seus olhos tem que captar luz. Eles não podem captar escuridão. Se captarem, ela se implantará dentro de você, mesmo que produza internamente uma luz artificial. Essa luz não vai iluminar

Participante: eu compreendi que não é uma compreensão seletiva, onde em algumas situações você compreende. É uma compreensão profunda. Não é passar um remedinho, mas tirar o bicho que está lá dentro.

Sim, mas esse tirar o bicho tem que ser feito sempre, vendo ou não o bicho. É isto que estou querendo dizer.

Participante: pela força do hábito, pelo vício, mesmo que já tenha até obtido a compreensão geral do processo, na situação, a dor vem.

Se só nesse momento for criar uma racionalização para não sofrer, de nada adiantará. Mesmo que em um determinado momento, pela força de maya, ache que venceu, em algum momento a escuridão será fruto de algo tão íntimo, de alguma coisa muito valorizada individualmente, que irá cair.

No entanto, isso não aconteceu de graça. Só ocorreu porque não trabalhou o conceito referente àquilo que agora causou a escuridão.

Um detalhe. A Bíblia que estamos lendo é um pouco diferente do que vocês leram, não é? E olhe que não estou mudando uma palavra. E ainda estamos só no Sermão do Monte.

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