O ser humano é dominador por natureza. Quer dominar o outro, as coisas, os acontecimentos, a si mesmo de tal forma que ele se satisfaça sempre, que ganhe sempre. Essa é uma experiência obrigatória para todos os espíritos. Nenhum espírito consegue alcançar a elevação espiritual sem passar por essa experiência, pois só com a vitória sobre ela terá o merecimento da elevação.

A vida universal é baseada no merecimento. Ninguém ganha nada de graça: é preciso conquistar, merecer para receber. Por isso o ser humaniza-se: para merecer elevar-se. Apenas vencendo o ego, a vontade de dominar a todos e a tudo o ser conseguirá avançar na ascensão espiritual. 

Assim, a humanização de um ser não o transforma em “mau” ou “ruim”, um inimigo de Deus, mas a insistência em permanecer preso a ilusão criada pelo ego que é que o transforma em inimigo de Deus. Quando ele compreende isso e abre luta contra suas verdades é tratado como o filho pródigo que retorna ao lar.

Para esse espírito é preparada uma grande festa no seu retorno, sendo esquecido tudo o que ele fez enquanto estava iludido pelo poder humano. Ele é respeitado pelos seus irmãos espirituais como um batalhador, um guerreiro. Mas, aquele que não compreende isso, ou mesmo que compreenda insista na ilusão criada pelo ego como realidade, a esse o título de inimigo de Deus dado por Paulo.

Conclamamos, portanto, a todos os irmãos humanizados a lutarem contra seus egos para voltarem à consciência da família universal que somos, abandonando as ilusões criadas como realidades e verdades com fins individualistas. Mas, como vencer esse ego, como conseguir retornar a casa do Pai? Não seria justo apenas apontar o caminho sem ensiná-lo.

  O ego jamais poderá ser vencido com a lógica humana. Como já dissemos, todas as verdades que o ser humanizado crê são criações do seu ego, fantasias (ilusões) que ele quer que o ser acredite para ele (ego) poder continuar existindo. Dessa forma, qualquer raciocínio (análise de conhecimentos) do ser humanizado será dirigido pelo ego e o seu resultado será, então, uma nova ilusão.

É preciso fugir das verdades, desmenti-las, desmascará-las, para que o ego seja vencido. Portanto, raciocinar, estudar, ler, compreender ensinamentos, jamais levarão um ser humanizado a universalizar-se, mas criarão novas verdades ilusórias que substituirão as atuais e manterão o ego ainda ativo.

Como, então, vencê-lo? Negando-se a dar ao ego o resultado do raciocínio. Conheçamos um pouco mais do ego para possamos entender essa afirmação.

O ego nutre-se de dois sentimentos básicos: o prazer e a dor. Quando o ser humanizado sente o prazer (a satisfação de ter seus desejos realizados) ou a dor (o desprazer quando não é atendido) o ego alimenta-se e infla-se.

O caminho para vencer o ego, se não é pela lógica que afinal é ele mesmo quem dita, deve ser o da inanição, ou seja, não alimentá-lo. O ser humanizado precisa negar-se a sentir tais sentimentos independentes da compreensão que tenha recebido do ego para poder deixar de alimentá-lo até que ele morra de inanição.

Assim, quando o ego logicamente (pensamento) disser que a situação “não é boa”, o ser humanizado deve negar-se a sentir sofrimento, a acusar dor, injustiça ou ferimento. Da mesma forma quando o ego mostrar que a situação agrada ao ser humanizado, esse deve negar-se a sentir o prazer, a soberba, a vaidade, etc.

Tudo no universo está Perfeito. O que está acontecendo não foi criado por Deus para satisfazer ao ser, mas para servir de instrumento para sua elevação. Se o ser ainda possui um desejo e se por “acaso” nesse momento o que ele desejava realizou-se, o ser precisa deixar de imaginar que aquilo foi feito porque ele estava “certo”. Da mesma forma, se não se concretizou o esperado, não houve um “ataque” de Deus.

Buda, que mais ensinou sobre o desejo, não falou que o ser humanizado deve deixar de ter desejos, pois isso é quase impossível. O ser humanizado está sempre preso ao ego e este sempre agirá criando-os, pois esse é o instrumento que ele tem para alimentar-se. O ensinamento de Siddharta Gautama é no sentido de não se apaixonar pelo desejo, não transformá-lo em uma condição para a felicidade na vida.

O ser humanizado que se liberta da realização dos desejos deixa de ser escravo do ego e pode, então, finalmente ligar-se à Deus, pois como nos ensinou o mestre Jesus Cristo, não se pode servir a dois senhores ao mesmo tempo.

Gostaria de ter ido a determinado lugar, mas não fui. E daí? Por que eu tenho que sofrer por causa disso? Por que eu tenho que acusar Deus de não haver me transportado para lá? Se não fui era perfeito ficar e Deus, o Pai, não me levou porque sabe o que é melhor para mim. Louvado seja Deus por eu não ter ido”. Esse é um raciocínio que liberta o ser humanizado da ação do ego.

Droga, não fui onde queria. Que vida desgraçada a minha que eu não consigo fazer nada que quero. O culpado é essa droga de carro que quebrou justamente agora”. Esse é o raciocínio do ser aprisionado ao ego. O “inimigo de Deus” lança verdades (o carro quebrou, alguém chegou e eu não pude sair) para que o ser humanizado sinta-se infeliz, injustiçado, afrontado, para que ele alimente-se desse sentimento.

Pai, afasta de mim esse cálice, mas se não for possível que seja feita a Vossa Vontade”. Nessa frase de Jesus Cristo o ensinamento maior para vencer o ego. De nada adiantaria o mestre dizer que gostaria de ser crucificado, de ser surrado, caluniado, etc, porque isso é irreal: nenhum ser humanizado quer. Jesus Cristo precisava deixar o caminho para Deus e se agisse de modo totalmente estranho à realidade da vida humana, não conseguiria fazê-lo.

O mestre agiu como um ser humanizado. Expôs o desejo que é natural em todos os seres humanos: fugir dos seus momentos de sofrimento. No entanto, apesar da existência desse desejo, submeteu-se com felicidade aos desígnios de Deus. Ele não se contrapôs aos acontecimentos, mas harmonizou-se com a Realidade da sua existência.

Esse é o caminho para a vitória sobre o ego. O ser humanizado precisa compreender que nada pode construir o destino a não a ser à vontade de Deus. De nada adianta ao homem querer alguma coisa porque se isso não for “útil” à elevação espiritual, o Pai jamais concederá.

Deus não se subordina aos desejos humanos. Sua intenção não é de “agradar” ao homem, pois como Paulo ensinou, o homem é inimigo de Deus. Ele age sempre na intenção de salvar o ser universal da ação humana e faz isso agindo contra os desejos ou vontades do ser humanizado. Deus nos ama, mas ao ser universal e não a experiência humana que ele vive temporariamente.

É isso que o ser universal humanizado que busca a sua elevação espiritual precisa compreender para poder voltar ao Reino do Céu. Quando isso for realidade, não haverá motivos para sofrimentos ou ufanismos. Não importa se aconteceu o que o ser humanizado quer ou não, sua reação será sempre a de harmonia com o momento (sem erros ou acertos), em paz, ou seja, sem armas (verdades) para guerrear contra o acontecimento e no estado de espírito de felicidade incondicional.

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