Participante: da última vez que estive aqui, o senhor me falou sobre viver com filtros e me pediu para fazer um trabalho específico. Não consegui nem começar, pois fiquei completamente perdido. Gostaria de uma ajuda.

Então vamos conversar para poder lhe orientar

A conversa que tivemos foi a respeito de um livro que leu e ao fazer isso gerou uma interpretação. Quando conversamos, dei outra interpretação. Essa que dei era muito mais universalista e espiritualista do que a que teve.

Frente a isso, você perguntou: porque não pensei nisso? Disse, então, que não aconteceu por causa dos filtros, porque leu com outros olhos. Essa foi a nossa conversa. Depois dela, pedi um trabalho. Vamos conversar sobre ele.

Para fazer isso, pergunto: o que é um filtro? O que é um filtro para ler, para viver, para tudo nessa vida? Falei em São Paulo o que era: um gerador de realidades.

Deixe fazer um exemplo para tentar entender isso. Digamos que está parado numa esquina e vê um carro bater em outro. Daí chega a diversas conclusões. Essas conclusões são baseadas em que? No que viu. Portanto, o que viu é um filtro que vai levar a determinadas conclusões.  

Participante: não entendi.

Vamos, então, começar desde o princípio para entendermos.

Os seres humanos vivem em três mundos:

O da ação, da movimentação das formas, que é onde os acontecimentos acontecem,

O da razão, que é onde existem valores, verdades para o acontecimento,

O da emoção, que vocês chamam de sentimentos. Esse mundo é também uma criação da razão e se consiste em uma emoção relativa à razão que a mente criou.

Portanto, são três mundos vividos simultaneamente. No caso da batida do carro, a ação é o choque de um carro com o outro, a razão é o que dirá o que aconteceu e a emoção é o sentimento com que viverá o que foi gerado pela ação e pela razão.

Participante: ainda não entendi. O que a razão vai falar?

Ela pode falar diversas coisas a partir do que foi visto. Por isso, a razão serve como filtro para a existência de determinada razão.

A percepção é o que cria a realidade. Se não tivesse visto o choque dos carros não teria opinião sobre isso. Por ter visto, ou seja, por ter tido um impulso elétrico, ver, e por ter tido uma razão sobreo que foi visto acha que sabe o que aconteceu. Por conta desse achar é que vive determinada conclusão.

Estou usando um exemplo fora do contexto do livro que conversamos, para que possa entender o que é um filtro. Digo isso porque vocês humanos não possuem filtro apenas na razão, como saiu daqui naquele dia imaginando. O filtro existe nos três mundos.

Participante: estou estranhando porque para mim o filtro só viria depois da ação. No exemplo da batida do carro, imaginei que ele só funcionasse depois de ter visto alguma coisa. Pensei que fosse ele que criasse o certo e o errado do que aconteceu.

Não é isso. O filtro é o que gera uma realidade. Como essa existe nos três mundos – a realidade do que é visto, do que é pensado e do que é sentido – precisa haver filtros nos três mundos.

Participante: como o filtro pode gerar uma visão?

Vou continuar fora do exemplo do livro para podermos compreender bem que o filtro existe em três mundos.

Ele gera a realidade. Sendo assim, você só conhece a realidade da batida dos carros porque viu isso acontecer.

Participante: onde está o filtro aí?

O ver. Foi o ver que gerou a ideia de existir uma batida.

Lembre-se de que não existe o carro, o metal e que os dois não se encontraram. Por isso não pode haver batida. Apesar disso, na sua mente, existe a ideia de ter acontecido uma colisão. Se não tivesse visto, não tivesse a ideia de que viu, não viveria coma realidade de que aqueles carros bateram.

O filtro também é o que viu, porque ele é que cria a realidade. Imagine agora que está num lado diferente ao ver a batida. Digamos que se estava à direita, agora está à esquerda, atrás, na frente ou dentro de um dos carros. Veria a mesma coisa? Não. Por causa disso, viveria realidades diferentes.

O filtro no mundo das ações é o seu ângulo de visão das coisas. Foi ele que serviu para a razão gerar determinada ideia sobre a batida. Se estivesse em um lado diferente, teria vivido outra razão e aí o seu mundo, as suas realidades, seria diferente.

Se estivesse do outro lado, de frente ou dentro de um dos carros, veria as coisas de um modo diferente. Nesse caso, teria razões diferentes das que teve e, com isso, teria realidades diferentes.

Portanto, não importa do que estejamos falando, o que faz viver determinadas coisas, situações, é um filtro, uma forma de ver as coisas.

Participante: vamos pegar como exemplo esta planta. Eu estou vendo folhas verdes. Isso é um filtro?

O olhar é um filtro, pois enquanto não a ver, não a perceber pela visão, a planta não é realidade para você. Foi o ver que gerou a ideia de que existe uma planta. Por isso o chamo de filtro, de gerador de realidades.

Participante: continuando neste exemplo, estou vendo folhas verdes, flores rosas, etc. Isso é a razão funcionando?

Exatamente. Trata-se da razão dando valores para o que está sendo criado pelo filtro da ação. Para gerar isso, usou outro filtro.

Participante: o gostar e o não gostar também é a mesma coisa?

Perfeito. Esses são os filtros da emoção.

Enquanto não ver, não existe. Depois que ver, passa a existir. Portanto, virou realidade, mesmo que ilusória. Por isso, o ver, é um filtro, pois constrói uma realidade. As cores são geradas pelos filtros da razão e a emoção com o qual convive com tudo isso é gerada por outro filtro.

O filtro é sempre aquilo que faz o ser humanizado viver uma realidade, uma verdade, uma ideia, uma consciência.

Participante: está completamente diferente do que falamos da vez anterior.

Calma que chegaremos lá. Estou primeiro querendo reforçar a ideia de que filtro é um gerador de realidades. Mais: que há filtro no mundo da ação, da razão e da emoção.

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