Pobre ser humanizado. É inimigo de Deus, dos outros, mas, principalmente, é inimigo de si mesmo. Ele nasce para aprender a viver as oscilações da vida sem individualismos (desejos) e vive a vida buscando fugir das situações incômodas. Não compreende que só conseguirá acabar com esse processo quando vencer as tentações geradas pelo ego. Por isso Jesus Cristo ensinou: Felizes serão vocês quando forem perseguidos, caluniados, em meu nome.

Só no momento da contrariedade pode se alcançar à felicidade espiritual, pois ele será o resultado do objetivo da vida. Aquele que desejar se afastar desses momentos jamais conseguirá alcançar essa felicidade, pois não obterá a vitória sobre o mundo. Para isso, o fundamental é alterar o sentido de sua existência: vivê-la como uma aventura material do ser universal.

Quando o ser entender a vida carnal como uma aventura do espírito poderá vivenciá-la de forma equânime, sem subir ou descer ao sabor das ondas (vicissitudes da vida). E aí se encontra um outro grande desentendimento daqueles que procuram a elevação espiritual: é o ser que vive retilineamente e não a vida.

Todos imaginam que quando alcançar a elevação espiritual a vida se transformará automaticamente em um mar de rosas: engano. A vida continuará a ter momentos propícios ao ser humano e outros não, mas esse, agora espiritualizado, saberá vivenciá-los de forma reta.

Como ensinou Jesus Cristo, não se acende uma lamparina para esconder dentro do armário. É preciso que ela seja colocada em um ponto onde a sua luz oriente o caminho daqueles que estão na escuridão. O ser agora desumanizado ainda passará por situações onde o desejo humano não é satisfeito e reagirá a eles mantendo a sua paz, tranquilidade, harmonia e felicidade. Com isso, ensinará àqueles que ainda estão humanizados como se vivencia a vida com equanimidade.

Dessa forma, não serão os acontecimentos da vida que mudarão, mas o ser é que se transformará. Esse é o renascimento, o matar o homem velho e deixar nascer o homem novo. Esse ser renovado será amigo de Deus, pois servirá ao próximo iluminando o caminho da vida.

O ser humanizado, no entanto, não pode servir para auxiliar o próximo, para servi-lo, pois como ensinou Jesus Cristo, é cego aquele que quer ver (compreender as coisas) e, quando um cego guia o outro, os dois caem no buraco. Dessa forma, a única coisa que o ser humanizado pode fazer é se servir: do outro, das coisas, dos acontecimentos e até de Deus.

Nos momentos onde a situação não lhe agrada, ao invés de buscar guerrear contra os desejos que o ego está lhe enviando, o ser humanizado busca o auxílio de Deus para livrar-se daquele momento. Pede a Deus que não envie a doença, que não o deixe ser assaltado, que não o deixe ser demitido.

O ser humanizado não busca ser instrumento da vontade do Pai, mas quer que Deus lhe sirva, que atenda os seus desejos. Quer colocar Deus também subordinado aos caprichos do ego. Por isso Paulo afirma que o homem é inimigo de Deus.

Quando Deus não o atende, revolta-se com o Pai: “por que o Senhor deixou isso acontecer?”. Deus na Sua Sublime Paciência responderá: “Eu não deixei, fiz acontecer, porque lhe amo, meu filho. Estou dando o remédio para a sua doença. Sei que o gosto pode ser amargo para você, mas isso é o que o curará”.

O ser desumanizado livre das amarras do ego, consegue perceber claramente a ação divina e por isso seu coração enche-se de júbilo e glória a cada momento, independente daquilo que está ocorrendo. Sabe que naquela vicissitude pelo qual está passando agora há a presença divina expressando todo o Seu Amor Sublime pelo Seu filho. Ao invés de clamar contra os céus, o ser espiritual louva a Deus pela Sua Sublime Direção do universo.

Não adianta apenas resignar-se ou aceitar os momentos da vida: é preciso amá-los. Quem se resigna ainda continua sofrendo e mesmo que não brade contra os céus, o seu pranto será resultado da sua intenção de satisfazer-se. Quem apenas aceita os momentos como inevitáveis sem louvar a Deus não comunga com o universal, mas sim consigo mesmo, ou seja, na verdade “tinha que ser”. Como já afirmamos, é preciso agir e não se omitir (aceitar os momentos). Essa ação, no entanto, deve ser amorosa: estabelecer uma conexão amorosa com a Fonte do universo.

Quem age dessa forma não é inimigo de Deus, pois está sempre em perfeita comunhão com o Pai. Ele pode não conhecer Deus, Sua origem, Forma ou Composição, mas reconhece o Seu Amor em ação. Aqueles que buscam compreender Deus em qualquer dos seus aspectos não conseguem mais do que apenas criar Dele uma imagem individual.

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