Participante: a gente costuma, às vezes, combinar reuniões de sangha falando: ‘vamos a um bar, ao cinema, vamos andar de bicicleta, vamos ao parque’. Isso também é uma atividade da Sangha?

Sim, por que não? 

Participante: tem gente que às vezes acha que reunião é somente aquela que se oficializa e agenda.

Essa é a atividade que falei: sem um fim específico. Vocês dizem: ‘vamos todo mundo andar de bicicleta’. Com isso marcam uma atividade sem fim específico.

Você quando combinam andar de bicicleta não estão determinando o fim da reunião. Andar de bicicleta não é o fim, a finalidade da reunião: é o meio. Qual o fim desse passeio de bicicleta? 

Participante: amar.

Para isso é preciso ter o atrito, como falamos antes. Nos passeios de bicicleta de vocês há atrito?

Participante: durante o passeio uns vão dizer: ‘vamos por esse caminho’, outros vão dizer ‘vamos por aquele caminho’. Eis o atrito.

Veja que a finalidade da reunião da sangha não mudou nada. Pouco importa se vocês estão andando de bicicleta, estão num bar bebendo, se foram ao cinema ou se estão na casa de alguém: os meios para se atingir o fim das reuniões sempre existem.

Por isso digo que podem fazer qualquer coisa como uma atividade da comunidade. O que não podem é perder a consciência de que aquela atividade é uma reunião da sangha. Se a mantiverem saberão que pouco importando o que estão fazendo, ali está a junção de pessoas afins, mas diferentes entre si. Com isso, irão andar de bicicleta não para fazer isso, mas sim para aproveitar as situações que acontecerem durante o passeio para treinarem o amor ao próximo. 

Qualquer atividade pode acontecer numa reunião da comunidade, desde que não se perca o foco e que vocês entendam que, seja ela qual for, é meio, é instrumento para haver a reunião e não a sua finalidade.

Vocês podem, por exemplo, marcar uma sangha para ir a um parque fazer um lanche e não ter comida. Qual é o problema? O lanche não é finalidade. Agora, se forem a um lanche e ao chegar não houver comida, o que acontece?

Participante: fica brabo, contrariado. ‘Como é que se organiza um lanche sem comida? Quem é o responsável por isso’?

Agora me diga uma coisa: não é isso que está acontecendo? As pessoas estão usando os meios como fins. Como o meio não é o fim, quando é usado como tal, a contrariedade se apresenta, ao invés da oportunidade de amar.

Participante: o meio pouco importa.

O meio pode ser qualquer um. O que vocês precisam é ir as reuniões sabendo que aquilo é meio e não fim, pois dessa forma vão prevenido para tudo. Se vão a uma reunião da sangha onde terá como meio um lanche, devem ir preparados para haver desavenças e não para lanchar.

Participante: sabe o que eu pensei. Fiz uma analogia com um laboratório. No laboratório, os cientistas repetem a fórmula até alcançarem a perfeição e saírem dali com ela perfeita. Então a sangha é como se fosse o laboratório onde nós vamos fazer esses ensaios para podermos viver fora dela.

Exatamente. 

Então é isso: parem de tratar os meios como fins. Não existe sangha que tenha como objetivo ir ao cinema, andar de bicicleta, passear no parque. Toda a finalidade de uma atividade da comunidade é aproveitar as oportunidades para amar. O resto é meio. Podem fazer o que quiserem, mas sabendo que isso é meio e não a finalidade da reunião.

Só um detalhe: estou falando o que acontece na sangha não no sentido de criticar e dizer o que está errado, mas para mostrar as oportunidades que vocês estão perdendo e o motivo pelo qual estão perdendo essas oportunidades.

Participante: mas, há alguém que está conseguindo aproveitar essas oportunidades ou todos nós estamos desperdiçando?

Não existe: todos vocês estão desperdiçando a oportunidade.

Tem gente tendo prazer com a companhia um do outro, mas ninguém está aproveitando as reuniões para amar.

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