Participante: a gente toma conhecimento dos seus ensinamentos. Aí vem o sofrimento. Por causa dos ensinamentos, eu sei que ele é uma ilusão. Vou conviver com ele, mas não vou deixa-lo dominar meu mundo interior. Nesse momento, quem está fazendo isso? Isso não é uma racionalização, não existe uma intenção de não sofrer? Isso não é ego? Isso não nos induzirá a um erro também?

Contentar os egos humanos realmente é difícil.

Suponhamos que eu responda a sua pergunta – já viu que não vou responder, não é? Mas, suponhamos que responda: quem terá entendido minha resposta?

Participante: o ego.

Se o ego entenderá a explicação sobre o que ele ou você faz, se tudo o que o ele compreende é ilusão, será que o entendimento a essa dúvida será real?

Por isso, ao invés de lhe responder, vou dar um conselho. Compreenda que toda intenção de saber não é sua: pertence ao ego. Ele tem esse impulso não para saber qualquer coisa, mas para determinar uma verdade a qual lhe prenderá. Depois que lhe aprisionar a ele, dará a consciência de que agora que sabe, pode fazer. Só que o que fará ainda será racional. Assim, não terá feito nada.

A entrega oriunda de um ensinamento compreendido não é feita a Deus, mas à própria razão. Por isso digo que uma das coisas que precisa fazer antes de conseguir viver o sofrimento sem sofrer é libertar-se do desejo de saber qualquer coisa, de conhecer o porquê e para que das coisas.

Entenda que a vida para aquele que busca a Deus não é feita pela procura de compreensões, mas sim de entrega. O problema é que o ser humanizado não se entrega porque quer saber coisas para poder se entregar. Quer ter certezas, quer comprovações e entendimentos para poder entregar-se.

Não sei se conhecem, mas há uma história que conto sempre. Havia um alpinista que estava escalando uma montanha quando escureceu. Completando a subida no escuro, ele escorrega e fica preso a uma corda balançando no ar. Como estava escuro, não via nada que estava abaixo ou acima.

Com muito medo o alpinista grita: ‘Deus, me ajude’. Em resposta ouve a seguinte frase: ‘largue a corda’. Como lagar a corda sem saber a quantos metros estava do chão? Pois bem, quando amanheceu foi visto morto, balançando preso à corda, a meio metro do chão…

Para conseguir sermos felizes, precisamos viver largando a corda o tempo inteiro. Para viver em paz é preciso largar a corda sem possuir o conhecimento do que acontecerá quando se fizer isso. O ser humanizado não consegue viver assim, porque quer saber a que distância está o chão, se é plano, se está cheio de pedras ou não, etc.

Respondendo agora a sua questão, digo: se conseguir fazer, faça. Se o que fizer for uma atividade racional ou não, não se preocupe com isso. O que precisa é estar a salvo, ou seja, feliz. Se fizer isso de um modo ou de outro, pouco importa.

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