Pois o próprio Cristo nos trouxe a paz, fazendo dos judeus e dos não judeus um só povo. Por meio do sacrifício do seu corpo, ele desfez a inimizade que os separava como se fosse um muro. Ele aboliu a lei dos judeus, os seus mandamentos e regulamentos e dos dois povos formou um só povo, novo e unido com ele. (Capítulo 2 – 14 e 15)

Repare: Paulo diz que Cristo aboliu as leis dos judeus e os seus mandamentos. Como ele pode falar isso se até hoje esta lei e mandamentos estão presentes no cristianismo?
O cristão não segue os dez mandamentos? Como, então, o apóstolo de Cristo diz que os mandamentos foram abolidos pelo mestre? É interessante Paulo falar isso, não?
Cristo aboliu a lei judaica no tocante a tudo que é externo. No tocante a haver necessidade de ter uma casa de oração, a haver necessidade de coisas materiais que identifiquem o ser como cristão ou não, a viver desta ou daquela forma. Ele acabou com todas estas leis.
Aliás, eu já tinha dito há muito tempo: Cristo foi crucificado porque quebrou todas as leis mosaicas. O rabino, o mestre dos judeus, vivia vestido de ouro, Cristo vivia vestido de trapos; o rabino guardava fervorosamente os sábados, Cristo alimentou-se, pregou e fez milagres neste dia.
É isso que precisamos compreender. Não adianta se querer pegar a lei mosaica e coloca-la como regra para ser cristão. Isso porque cristão não será os que seguirem os mandamentos de Moisés, mas sim aqueles que amarem a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmos.
Ficou claro isso? É preciso que sim porque é fundamental. Digo isso porque mesmo nós que aqui estudamos os ensinamentos de Paulo ainda buscamos leis para viver. Ainda buscamos o certo e abominamos o errado.
Estas leis não existem para os que se unem a Cristo. O mestre ofereceu seu corpo e a si mesmo em sacrifício para acabar com todas as leis. Porque, então, devemos continuar presos a elas?
Aliás eu já disse: se Cristo fosse seguir a lei, teria que sentar no trono mais alto e exigir ser servido. Teria que exigir que todo povo fizesse a sua vontade. Só que ele viveu exatamente ao contrário. Andou descalço pregando e sempre fez a vontade do povo, mesmo quando lhe pediram a sua crucificação.
Ser Cristão é viver no amor, é viver na solidariedade real. É viver em perfeita harmonia servindo ao próximo, Isso é ser cristão. Todo o resto que se impõe que seja realizado externamente é para ser católico, evangélico ou qualquer coisa, menos cristão.
Participante: pelo que parece, ouvindo os diversos pastores das diversas igrejas, dá a impressão que para cada igreja existe um céu, um deus, um paraíso diferente, particular para cada uma.
Exatamente. Você está perfeito.
Mas, não se restrinja apenas aos pastores. Ouça os médiuns espíritas que verá que a sua lógica é real. Ouvindo os mestre do hinduísmo e do budismo também encontrará o que falou. Na verdade, cada homem de uma religião faz um deus e um céu de acordo com a vontade do seu povo. Vou dar um exemplo.
O céu islâmico, por exemplo, é uma tenda onde aquele que morrer encontrará virgens nos eu harém. O céu católico é um pomar, é o paraíso. O céu espírita é a cidade espiritual onde a busca do saber é consagrada.
Cada um criou esse céu ao seu bel prazer, porque nenhum mestre ensinou estas figuras. Não existem estas alegorias, por exemplo, no ensinamento de Kardec. Isso foi criado depois, para satisfazer aquelas pessoas.
É a religião à serviço da humanidade, enquanto deveria estar à serviço de Deus. Deveria aplicar os ensinamentos na sua íntegra e na intenção deles. Falo isso porque esta é a grande diferença. As religiões aplicam os ensinamentos com a intenção contrária com que foram ditadas.
Todo ensinamento do Cristo, por exemplo, foi ditado com a intenção de que você se mude nesta vida e entre numa nova vida. No entanto, a igreja católica ou evangélica faz ao contrário. Diz: permaneça como está, mas frequente nossos cultos que garanto que a sua vida material muda.
Não muda, porque a vida material não pode ser alterada depois que o espírito encarna. Isso Kardec ensinou…
Portanto, sim, você está perfeito na sua observação. Não dá a impressão que isso acontece, mas isso é a realidade: cada religião foi adaptada para o interesse de um povo, daquele que frequenta aquela religião e aquela igreja.
Apesar de dizer isso, deixe-me falar algo: não estou culpando ninguém. Aqueles que fizeram a religião desta forma não foram culpados de nada. Eles são instrumentos de carma.
Esta forma de proceder é prova para ver se você está buscando a Deus, ou se diz que O está buscando, mas está esperando ser servido pelo Pai.
Participante: mas, isso acontece porque é do interesse do povo ou das pessoas que dirigem essas religiões?
Juntou a fome com a vontade de comer.
Eu fiz um trabalho recente dentro de um centro de umbanda. Lá disse bem claro: a entidade que vem aqui para satisfazer a vontade dos seres humanos não está falando em nome de Deus.
Aquela entidade que promete trazer o marido de volta, arrumar emprego, curar, não fala em nome de Deus. A entidade precisa ser positiva: alentar, mas nunca prometer mudar os acontecimentos da vida para satisfazer os anseios humanos do ser.
Só que na hora que isso acontecer, ou seja, na hora que as entidades pararem de prometer resolver os problemas da vida do ser humano, não haverá mais frequência no centro. Na hora que a igreja católica se mudar e passar a usar os ensinamentos de Cristo dentro do mesmo objetivo que ele transmitiu, ou seja, ir lá nos invasores de terra e dizer que eles não podem invadir terras, mas que devem aceitar o governo, os sem-terra não vão mais à igreja. Portanto, é interesse dos dois: da religião em manter o seu fiel e do fiel que quer a ilusão de que ele pode conquistar o reino do céu na Terra.
Então, sim, é dos dois. Os dois se iludem. Até porque, todos os dois são seres humanos.
Apesar de conscientizar-se do que estou falando, lembre-se: não adianta culpar ninguém. ‘Ah, o bispo, o padre, o papa são culpados de alguma coisa’. Não, eles são apenas instrumentos do carma dos outros.
Você, ao compreender isso, não deve se enveredar pelo caminho da culpa, mas sim extrapolar as verdades deles e auxiliar o próximo. Agora, se ficar apenas criticando os professores da lei não adianta nada.

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